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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

EU SOU PROFESSOR E NÃO VOTO EM DILMA



EU SOU PROFESSOR E NÃO VOTO EM DILMA

Nildo Viana

Um discurso muito constante nas redes sociais e que é veiculado por toda internet é o apoio a Dilma Roussef com os dizeres “Eu sou professor, apoio Dilma”. Numa leitura superficial, isso significa tão só o posicionamento de alguns professores. Numa leitura mais atenta, no entanto, isso tem outro significado, que é o seguinte: os professores devem votar em Dilma, pois é melhor para “a educação” ou para “a categoria dos professores”. Esse discurso é falso e por isso resolvi, para não perder o costume, andar na contramão e dizer: “Eu sou professor e por isso não voto em Dilma”. As razões principais para isso são duas:

a)      O processo eleitoral não expressa a vontade popular como ideologicamente é pregado, a maioria não decide, bem como existe todo um processo de manipulação, esquecimento, ignorância, entre outros, além do que os mecanismos da democracia representativa burguesa são contrários a qualquer manifestação radical ou realmente diferente do que está posto, e os governos, independente de partidos, representam a classe dominante e secundariamente seus aliados e classes auxiliares. Eles são formados por partidos – grandes organizações burocráticas – que buscam satisfazer seus interesses aliados aos interesses do grande capital, inclusive o transnacional. O Estado é capitalista e tanto faz quem é o governo, pois este existe para governar, o que quer dizer: buscar manter a estabilidade política e financeira para reproduzir os interesses do grande capital e de sua governabilidade, reprimir os movimentos de protesto, regularizar as relações sociais para manter o conjunto dos privilégios existentes, oferecer migalhas para o resto da população para ganhar apoio, etc. Em síntese, tanto faz qual é o candidato, todos servem ao grande capital e vão continuar servindo, inclusive com os problemas do chamado “desenvolvimento econômico” (no fundo, desenvolvimento do capital), as políticas de austeridade e aprofundamento do neoliberalismo continuarão sendo executadas, tanto faz quem será presidente[1].

b)      Os governos do PT – Partido dos “Trabalhadores” – e a candidata Dilma não representam melhorias para a educação e nem mesmo para a categoria dos professores. Curiosamente, os “professores”, que se dizem mais inteligentes e cultos do que a população que “vota na direita” (como se, com exceção de quem anulou, absteve ou votou em branco, alguém não tivesse votado em direita...), sendo “conservadora”, ou então a “classe média” (esse espantalho que só serve para legitimar discursos pseudoprogressistas), acabam reproduzidno o conservadorismo e a ignorância que supostamente combatem. Basta lembrar as diversas greves da educação nos últimos anos, nas universidades e institutos federais (assim como no resto, devido ao descaso geral com a mesma, tanto no nível federal quanto estadual e municipal) para ver as políticas educacionais deste partido. As greves nas universidades federais de 2012 foram geradas pela política de precarização do Governo Dilma[2] e agora os professores universitários, em grande parte, fazem apologia de tal candidata, mostrando a existência de ignorância, ilusões, interesses ocultos de alguns, como razão para tal propaganda. Caso Dilma seja reeleita, nada irá alterar, aliás, basta ver as “pérolas” que andam saindo do atual governo, como concurso para professores via OS (Organizações Sociais)[3], para observar que neoliberalismo não é privilégio do outro candidato.

Tendo em vista tudo isso, eu digo que sou professor e voto nulo. Inclusive, se acreditarmos no discurso a respeito do professor e seu papel educativo, é fundamental no processo educacional o avanço da consciência e da razão em detrimento da irracionalidade eleitoral, dos interesses mesquinhos, da falta de verdade e isso é algo que um professor deveria denunciar e combater. Esse seria um terceiro motivo para não votar e apoiar Dilma Roussef. Da mesma forma, um professor não deveria ser preocupar somente com seus interesses corporativos (salários, condições de trabalho, etc.) e, por reflexão, deveria saber que isso é ilusão (o próximo governo vai precarizar a educação, tanto faz quem será, e não é apoiando e legitimando o seu próximo carrasco que isso poderá mudar). Ele deveria pensar no conjunto da população e pensando assim perceberia que ao invés de apoiar e legitimar os políticos profissionais astutos e mentirosos, deveria contribuir com o esclarecimento da população (e autoesclarecimento), demonstrando que apenas a luta, a auto-organização, os processos de pressão, protestos, manifestações, organização em local de trabalho, moradia e estudos, autoeducação e autoformação, reflexões aprofundadas e mais amplas sobre a realidade social, é que podem fazer as coisas não piorarem (e curiosamente o apoio a Dilma é em sua maioria com o medo de “piorar” o que já é insuportável... nem se luta mais por conquistas, melhorias, quem dirá grandes reformas ou mesmo transformação social, são neoconformistas). Tanto faz quem será o próximo governo, pois se não houver pressão, mobilização, ação, reflexão, luta, vai piorar de qualquer jeito. Por isso, professor deve votar nulo e não compactuar com a prestidigitação eleitoral.

4 comentários:

  1. Boa tarde Nildo. Quando você diz que tanto faz quem vai ser presidente, você mantém a mesma opinião com a eleição de Bolsonaro em 2018. Não tem diferença nenhuma se fosse o Haddad ( reformista e social democrata ). Forte Abraço.

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    1. Prezado Irineu, agradeço seu comentário. A respeito de sua questão, eu lhe digo que o que determina as políticas estatais são algumas determinações (dinâmica da acumulação de capital, regime de acumulação instituído, força e divisões no bloco dominante, pressão do proletariado e outros setores da sociedade, etc.) e não exatamente o indivíduo que está sentado na cadeira de presidente. Logo, tanto faz, pois se não houver luta, pressão, etc. dos trabalhadores, pode ser Lula, Haddad, Ciro Gomes, Marina Silva, Dilma, etc. e as políticas serão neoliberais e, mais do que isso, de austeridade, se for necessidade do capital. Mantenho a mesma opinião e se fosse Haddad haveria pouca diferença, não haveria baixo nível intelectual e estardalhaço em cima de afirmações estapafúrdias, bem como o discurso seria um pouco diferente, entre outros elementos. Em relação ao coronavírus, Haddad certamente não falaria as besteiras que Bolsonaro falou e tentaria ser um pouco mais assistencialista e um pouco mais aberto ao "diálogo". Ou seja, nenhuma grande diferença, nada de substancial, e sim de grau (um pouco mais disso, um pouco menos daquilo). A terminologia "direita" e "esquerda" é problemática. Dizer que Bolsonaro é extrema-direita não quer dizer muita coisa e dependendo do que se entende por isso, precisaria ser fundamentado e justificado. Por outro lado, Haddad (e nem o PT) é social-democrata (e nem "reformista"). O PT foi social-democrata, discursivamente, até 2003, depois se tornou neoliberal neopopulista. As ilusões com o PT já deveriam ter acabado há muito tempo para quem se diz "revolucionário", ou pelo menos de "esquerda". Por fim, além dessa discussão que fica no campo do mais ou menos ruim, o que interessa é que os problemas sociais, a exploração, a dominação, a tendência para intensificação da destruição ambiental e desequilíbrios psíquicos, e a manutenção (e aumento) da fome a nível mundial, etc., continuam. A questão não é ficar discutindo qual governo é melhor ou pior, qual vai reprimir mais ou menos, qual vai dar mais migalhas, e sim como transformar radicalmente a sociedade, transformando-a numa sociedade humanizada.

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  2. Boa tarde Nildo. Quando você diz que tanto faz quem vai ser presidente, você mantém a mesma opinião com a eleição de Bolsonaro ( EXTREMA DIREITA ) em 2018. Não tem diferença nenhuma se fosse o Haddad ( reformista e social democrata ). Forte Abraço.

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