Eleições: Desejos, Ilusões e Transformação
Nildo Viana
O discurso eleitoral é mentiroso por essência. Os candidatos mentirem,
infelizmente (e inevitavelmente), é algo normal. O problema maior é
outro: os eleitores repetirem as práticas, mentiras, deformações, dos
seus candidatos. Argumentos falsos, informações no mínimo suspeitas,
ataques à vida pessoal, interpretações forçadas, maniqueísmo, ilusões. A
grande questão é que o jogo de interesses, as ilusões, o desejo
coisificado, a falta de informação, são muito fortes e o resultado
eleitoral é determinado por esses elementos e toda máquina financeira e
propagandística. Os eleitores de hoje, inclusive (o que é mais grave) os
mais politizados e com formação intelectual supostamente "superior"
(com curso superior, alguns até com doutorado, sendo professores e
autores de livros) são capazes das conclusões mais estúpidas, das
justificativas mais ignóbeis, das análises mais pobres, tudo isso de
acordo com seus interesses e ilusões. Na era da mentira, dizer a verdade
é uma raridade. E isso, em muitos casos, é o que Marx já colocava ao
criticar os economistas vulgares: o que interessa não é a verdade desse
ou daquele argumento e sim se é útil ou não ao capital (ou a interesse
pessoal). O compromisso com a verdade, que deveria ser meta e objetivo
de todos os intelectuais (e todos os seres humanos) é substituído pelo
interesses mesquinhos. Aumentar o nível do consumo é mais importante do
que dizer a verdade.
A mercantilização das relações sociais transforma o
eleitor em mero consumidor (conservador, seja votando em A ou B). Por
isso, quem não reproduz as falácias eleitorais, deve, naturalmente,
concluir que a democracia representativa é uma farsa que a cada quatro
anos escolhe um novo (ou o mesmo) farsante. Nesse sentido, só resta a
luta cotidiana no local de trabalho, estudo e moradia, na busca da
auto-organização, autoformação, e na perspectiva de novas relações
sociais e nova sociedade. Para isso é preciso não compactuar com o que
está aí, o voto nulo é protesto contra isso, é deslegitimação disso, é
momento de mostrar que é possível outras formas de ação política, que
não passa pelos partidos e Estado, (falsos) representantes e políticos
profissionais, pode ser feita por nós mesmos, tanto na luta cotidiana
quanto nas ruas, nos movimentos grevistas, manifestações, pressões, bem como através da auto-organização e autoeducação, formando coletivos e ações. É
muito mais fácil ficar sentado no sofá e ver o bate boca de corruptos na
TV e optar por um deles indo numa cabine e teclando alguns números, mas
é muito mais prazeroso, autêntico, vital, se organizar, agir por conta
própria, reunir com os que também querem a transformação.
Por isso, a
opção é voto nulo ao lado da luta pela autogestão social. Mesmo não se
concretizando imediatamente, a luta pela autogestão e o voto nulo servem
como arma de protesto, pressão, deslegitimação e passo para novas ações
mais profundas. Fazer isso já exige coragem, decisão própria, autonomia
intelectual e ética. Mas a outra opção é possível, deixar que os
corruptos decidam nossa vida e a destruam por causa dos seus interesses,
transformando o meio ambiente em lixo, aumentando a exploração dos
trabalhadores, contando suas mentiras (inclusive nenhum candidato disse
que após tomar posse vai ter que fazer ajustes na economia que foram
contidos pelo atual governo por causa das eleições e seu caráter
impopular, que nenhum conseguirá manter os mesmos níveis de
desenvolvimento capitalista, o que significa mais corte de gastos com
políticas sociais, entre outras coisas). Ou buscamos uma real
alternativa e começamos a trabalhar por isso ou continuamos esperando
messias (em pleno século 21), presidentes, políticos, líderes, para
defender os interesses deles e nos iludir "pensando" que defendem os
nossos.
A emancipação humana é uma necessidade e cada vez mais urgente, pois sem relações sociais igualitárias e libertárias, o planeta será destruído pela dinâmica capitalista do lucro e pela ambição que ela gera nos seres humanos, especialmente nos capitalistas, mas que se generaliza, só que com graus distintos, tal como se vê nos eleitores (preocupados com seu consumo ou consumismo), entre outras coisas. Só nos resta votar nulo, lutar pela auto-organização, autoeducação, organizar novas formas de luta e pressão, colocar na ordem do dia o projeto autogestionário.
A emancipação humana é uma necessidade e cada vez mais urgente, pois sem relações sociais igualitárias e libertárias, o planeta será destruído pela dinâmica capitalista do lucro e pela ambição que ela gera nos seres humanos, especialmente nos capitalistas, mas que se generaliza, só que com graus distintos, tal como se vê nos eleitores (preocupados com seu consumo ou consumismo), entre outras coisas. Só nos resta votar nulo, lutar pela auto-organização, autoeducação, organizar novas formas de luta e pressão, colocar na ordem do dia o projeto autogestionário.
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