Mesa Redonda: REPRESENTAÇÕES COTIDIANAS, VALORES E POLÍTICA
Ideologia, representações cotidianas e Movimentos Sociais - Nildo Viana (UFG)
Representações Cotidianas e Racismo - Cleito Pereira dos Santos (UFG)
Capital Comunicacional, representações Cotidianas e Luta Cultural - Edmilson Marques (UEG)
Escola, Valores e Mentalidade Burguesa - Jean Costa Santana (FCA).
REPRESENTAÇÕES
COTIDIANAS, VALORES E POLÍTICA
A
mesa redonda “representações cotidianas, valores e política” visa estabelecer
uma relação entre algumas manifestações culturais (as representações cotidianas
– o que geralmente se denomina “senso comum” –, o imaginário – as
representações cotidianas ilusórias – e os valores) e a política, no sentido marxista
da palavra, como toda e qualquer manifestação direta ou indireta da luta de
classes. A força das ideias, das representações cotidianas, das ilusões, dos
valores, nas lutas sociais não podem ser desconsideradas em nome de um
economicismo empobrecedor. A concepção segundo a qual a consciência é mero
reflexo da realidade também não dá conta da realidade. Tal como bem colocou
Karl Korsch, as ideias fazem parte da realidade e por isso atuam sobre ela,
sendo mobilizadoras. Nesse sentido, assume grande importância analisar as
representações cotidianas, a forma de consciência da maioria da população (e
sua manifestação específica, o imaginário, ou seja, representações cotidianas
ilusórias) e os valores em sua relação com a política em geral, a luta de
classes. Analisar as manifestações populares, seus avanços e recuos, as greves,
as lutas políticas institucionais, significam não só buscar entender os
acontecimentos, mas as intepretações, posições, valores, opiniões, da população
em geral e do proletariado em particular, nesse contexto, pois isso ajuda a
compreender a dinâmica das lutas sociais e da hegemonia burguesa e da
resistência proletária. Assim, partindo de uma análise crítica das
representações cotidianas, dos valores e do imaginário, fica mais fácil perceber
os processos políticos contemporâneos e ver o seu papel na dinâmica da luta de
classes, especialmente das classes exploradas. Nesse sentido, é fundamental
compreender as representações cotidianas, suas formas, características,
processos, bem como mais especificamente o imaginário, com maior presença e
dominância na cultura das classes exploradas, e os valores (dominantes e
marginais), bem como utilizar tal compreensão para perceber o desenvolvimento
dos processos políticos, do passado e do presente. As representações cotidianas
e imaginário sobre eleições, partidos políticos, governos, Estado, sociedade e
política em geral, são importantes, bem como analisar as representações
cotidianas e sua dinâmica de produção e reprodução envolvida na luta de classes,
influenciada pelas ideias dominantes, sociabilidade capitalista, meios
oligopolistas de comunicação e sua resistência e contradições, bem como as
influências da teoria revolucionária, grupos radicais e intelectualidade
engajada. Da mesma forma, analisar os valores manifestos na sociedade e nas
classes sociais, suas mutações e contradições, sua produção e influência nos
movimentos sociais e população em geral, são outros aspectos importantes para
compreender a política e as relações sociais na sociedade contemporânea.
Integrantes, temas e resumos individuais:
Nildo Viana – Ideologia, Representações cotidianas e Movimentos sociais
Cleito Pereira dos Santos – Representações cotidianas e Racismo
Edmilson Marques – Capital Comunicacional, Representações cotidianas e luta cultural
Jean Costa Santana – Escola, Valores e Mentalidade Burguesa
Nildo Viana
Prof. Faculdade
de Ciências Sociais/UFG; Dr. em Sociologia/UnB.
Título: Ideologia, Representações cotidianas e
Movimentos sociais
Resumo:
Os movimentos sociais são criações da sociedade
moderna que estão envolvidos na dinâmica das lutas de classes e na luta
cultural que se realiza no seu interior. Os movimentos sociais são constituídos
por grupos sociais reais, compostos por indivíduos concretos, e, por
conseguinte, manifestam relações sociais concretas e se manifestam através de
diversas formas de consciência, sendo, ao mesmo tempo, produtores/reprodutores
de concepções e representações, bem como valores, e assim repassam e recebem diversas
manifestações culturais. A dinâmica dos movimentos sociais é envolvida tanto
pelo universo cultural existente, e, por conseguinte, pelas lutas culturais
travadas no seu interior, quanto por relações sociais concretas. Tendo em vista
que o poder financeiro, os meios oligopolistas de comunicação, os aparatos
estatais, entre diversos outros, são fundamentais para garantir a hegemonia
burguesa e isso ocorre efetivamente na sociedade civil, então o mesmo se
rproduz no caso dos movimentos sociais. Para compreender a hegemonia burguesa
nos movimentos sociais é necessário entender, entre outras coisas, a força da
ideologia dominante e das representações cotidianas, como elas se reforçam
reciprocamente. A força da ideologia dominante se expressa inclusive como forma
como determinados movimentos oposicionistas acabam reproduzindo-a, o que
significa a existência da hegemonia burguesa nos movimentos sociais. As
representações cotidianas, por sua vez, podem entrar em contradição ou reforçar
tal hegemonia, sendo que, devido a própria ação da ideologia e dos meios
oligopolistas de comunicação, tende a reforçar, inclusive criando novos chavões
que aparentemente são contestadores e, no fundo, são reprodutores das ideias
dominantes.
Cleito Pereira dos Santos
Prof. Faculdade
de Ciências Sociais/UFG; Dr. em Sociologia/UFSC:
Título: Representações
cotidianas e racismo
Resumo:
Procuramos, aqui, apresentar a relação entre a formação da ideologia
racial e as representações cotidianas destacando a diversas formas assumidas
pelo racismo e seus impactos sobre a sociedade e os movimentos sociais, tais
como o movimento negro. Por um lado, destacamos o contexto histórico e social
do surgimento da ideologia racial e, por outro, a maneira como tal ideologia é
popularizada e disseminada na sociedade. Destacamos também os conflitos
oriundos da emergência da ideologia racial, tanto da contestação radical dos
seus pressupostos - realizada pelo movimento negro radical, pelo marxismo
libertário, dentre outros - quanto das formas moderadas assumidas pelo
pensamento burguês (intelectuais, movimentos sociais reformistas, partidos
políticos reformistas, conservadores e pseudoesquerdistas). Em síntese, trata
de discutir a complexa relação entre emergência da ideologia racial (construto
dos intelectuais) e os impactos sobre o cotidiano, sua divulgação,
popularização, disseminação, vulgarização no contexto social.
Edmilson Marques
Prof.
Universidade Estadual de Goiás; Doutor em História/UFG.
Título:
Capital Comunicacional, Representações
cotidianas e Intelectuais.
Resumo:
O capital comunicacional é um setor do capital que
lucra através da mercantilização da comunicação e da produção cultural, mas,
além disso, também executa uma ação de reprodução das ideologias, ideias e valore
dominantes na sociedade. Ele tem um papel fundamental na disseminação da
hegemonia culturla burguesa e isso afeta as representações cotidianas das
classes desprilegiadas, sob as mais variadas formas. Através de várias
produções artíticas (cinema, quadrinhos, literatura, música, etc.),
científicas, doutrinárias, propagandísticas, repassa os valores dominantes,
determinadas concepções e representações, que objetivam criar a adesão da
população ao capitalismo. Apesar das contradições que ocorrem no seu interior,
o que predomina é sua ação reprodutora. Os meios oligopolistas de comunicação,
ao usarem diversos recursos que atinge grande parte da população (Rádio, TV,
etc.) com sua programação axiológica e ideologêmica, acaba não somente
repassando ideias, mas ajudando a moldar as representações cotidianas das
classes desprivilegiadas. As representações cotidianas, que se caractgerizam
formamente por realizar um processo de simplificação, naturalização e
regularização a nível das ideias a respeito das relações sociais, acabam tendo
um reforço poderoso do capital comunicacional e seu processo de violência
cultural. Esse reforço é ainda mais eficaz ao divulgar ideologias, ideologemas,
vulgarização do pensamento ideológico, no sentido de se tornar mais acessível à
população. No entanto, existem contradições, tanto no interior do capital
comunicacional quanto da sociedade e as lutas de classes na sociedade acabam
criando um contraponto a esse estado de coisas. As representações cotidianas
não são vazias e por isso também assimilam, simplificam, as ideias dominantes e
nesse contexto de luta cultural, aparece como fundamental os papel dos
intelectuais engajados no sentido de uma atuação que reforce a resistência
proletária.
Jean Costa Santana
Graduado
em Psicologia (Faculdade Anhanguera de Anápolis); Especialista em
Psicopedagogia (Faculdade Católica de Anápolis).
Título:
Escola, Valores e Mentalidade Burguesa
Resumo:
Vivemos numa época de risco, onde as políticas neoliberais seguem a
dinâmica do mercado em detrimento do desenvolvimento humano. Nesse sentido,
conjectura-se que a “educação”, proporcionada pela instituição escolar,
condicionada, ao mesmo tempo, pelas políticas neoliberais, tenha o objetivo de
propor uma homogeneização de indivíduos e de valores, pautada em concepções
capitalistas. Nesse sentido, mesmo que a instituição escolar seja um local de
relações sociais e, portanto, de contradições sociais, questiona-se o seu
posicionamento passivo e receptivo, diante das políticas neoliberais que se retroalimentam
da reprodução dos valores e da mentalidade burguesa. Sendo assim, a instituição
escolar, como um dos aparatos ideológicos do estado, logicamente reprodutora
dos valores da sociedade capitalista, têm a priori, em suas concepções, o
objetivo de criar metas predeterminadas para seus alunos. No entanto, aqueles
que não conseguem atingir ou caminhar dinamicamente nesse processo são
discriminados. Nesse sentido, depreende-se que a instituição escolar, estando
aliada aos interesses da classe dominante, se distancia cada vez mais de sua
responsabilidade social, e, em sua submissão e passividade diante das políticas
neoliberais capitalistas, reproduz, por outro lado, os valores construídos e
disseminados pela mentalidade burguesa. A instituição escolar comete uma
violência, tanto psicológica como moral em seus alunos, já que essa instituição
busca a reprodução das relações de produção e sociais capitalistas
padronizadas. Sabemos, todavia, que a escola é formada por pessoas. Diante
disso, se torna necessária a luta pelo desenvolvimento da consciência das mesmas,
para que a escola se torne um local de contradição e questionamento social, centro
de resistência, ao invés de local de passividade e reprodução da mentalidade
burguesa.
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