A PEC 241/55 E AS POLÍTICAS DE AUSTERIDADE
02:
O DISCURSO DEMAGÓGICO DO BLOCO PROGRESSISTA
Nildo Viana
A PEC 241/55 vem sendo questionada por vários setores da
sociedade. No entanto, grande parte daqueles que questionam possuem pouca
informação a respeito e muitos apenas seguem uma corrente de opinião
oposicionista sem maiores reflexões e análises. A origem dessa corrente de
opinião é o discurso demagógico do bloco progressista, que rivaliza com o discurso
técnico do bloco dominante. O discurso demagógico do bloco progressista, por
sua vez, tem como origem e matriz principal o neopopulismo petista e seus
resquícios e viúvas após o impeachment
de Dilma Roussef.
O discurso demagógico é aquele que está atrelado ao populismo,
considerado uma “política de massas” (WEFFORT, Francisco. O Populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1978). O populismo visa ganhar o apoio das “massas” e para isso realiza
promessas (incluindo as irrealizáveis e as que não serão cumpridas), políticas
assistencialistas, discursos com tal objetivo. No fundo, o que ocorre hoje não
é o populismo que vigorou, por exemplo, com Getúlio Vargas e sim um
“neopopulismo”. O neopopulismo atua em relação às classes desprivilegiadas
(“massas”), mas atinge outros setores (especialmente a intelectualidade) com sua
demagogia. A característica central do neopulismo atual é realizar um discurso
social-democrata desligado de qualquer pretensão e possibilidade de sua
concretização. O neopopulismo, assim como o populismo, gera um discurso
demagógico. Esse discurso é caracterizado por querer agradar o seu
público-alvo, e, para tanto, lança mão de promessas diversas (algumas que serão
efetivadas e muitas que não serão, algumas irrealizáveis, etc.) com o objetivo
de conquistar o apoio (e o voto, dependendo do caso). Diversos recursos são
utilizados, entre os quais a manipulação de informações e sentimentos dos que
pretende conquistar o apoio.
No caso da PEC 241/55 o discurso demagógico atua
principalmente através da sua negação. Segundo o discurso demagógico contrário
às políticas de austeridade, embora possua diversas versões e variações, afirma
que a PEC 241/55 provocará cortes em educação e saúde, precarizando ainda mais
essas áreas, além de atingir o salário mínimo, o Plano Nacional da Educação,
etc. Algumas das versões sobre a PEC apelam para um certo terrorismo
intelectual, ao afirmar que haveria “congelamento de gastos”, “implosão do país”,
“desmonte do Estado”, “destruição da educação pública”, etc. O discurso
demagógico geralmente não realiza uma análise mais profunda da PEC 241/55 e das
políticas de austeridade. Mesmo quando se trata de economistas ou outros
especialistas, a superficialidade na análise está presente. O foco do discurso
demagógico do bloco progressista é nas consequências da PEC 241/55 para a
educação e saúde.
O elemento fundamental desse discurso é mostrar que a PEC
trará prejuízos para as políticas públicas, gerar mobilização contra o governo
Temer e suas políticas de austeridade. Não há nenhuma discussão aprofundada
sobre a situação do país. O máximo que fazem é apontar que a “crise” é uma invenção
do Governo e dos meios oligopolistas de comunicação. Alguns acusam o capital
financeiro de ser o principal beneficiário e razão das políticas de
austeridade. Nesse contexto, a única alternativa apresentada é a negação, ou
seja, a luta para evitar a PEC 241/55, reforma da previdência, etc. A
alternativa para resolver os problemas postos pelo discurso técnico (defasagem
entre arrecadação e gastos, crise, etc.) inexiste, pois a suposição de inexistência
de problema anula a necessidade de alternativa. Deixemos tudo como está, ou
melhor, como estava durante o governo Dilma.
Aqui é possível um conjunto de questionamentos: esse
discurso é verdadeiro? A situação é realmente essa? Basta evitar tais políticas?
Essas questões serão respondidas nos próximos artigos e são, tal como as
anteriores sobre o discurso técnico, de fundamental importância. A crítica
desse discurso é tão necessária quanto a crítica do discurso técnico. Os dois
próximos artigos serão dedicados a realizar tal crítica.
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