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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Torcidas Organizadas e Violência no Futebol


TORCIDAS ORGANIZADAS E VIOLÊNCIA NO FUTEBOL




Nildo Viana



As torcidas organizadas estão freqüentemente envolvidas em atos de violência. Assim, se torna comum pensar que elas são violentas por sua própria natureza, mas existem exceções. Algumas que são relativamente pacíficas, outras que são antiviolência no campo, tal como a Ultras Resistência Coral, do Ferroviário, do Ceará. Apesar disso, tal violência, geralmente, é praticada e incentivada no interior de tais torcidas. A explicação deste fenômeno reside na base social das torcidas organizadas, bem como na mentalidade que se reproduz no seu interior.

As torcidas organizadas são compostas por pessoas com situação precária de vida, desempregados, etc., embora não somente. São pessoas que, na maioria, não ganharam a competição social e, por isso, possuem certa frustração a ser descarregada em atos violentos. A violência e a agressividade também exercem o papel de satisfação substituta ao vencer uma competição, embora não seja a grande competição, que é a social. O time de futebol funciona como a forma de compensar o fracasso, desde que ele seja vitorioso. Da mesma forma, a torcida organizada que demonstra mais força, e o indivíduo no seu interior, acaba vencendo esta competição menor, mas que traz uma satisfação substituta para o indivíduo. A sociedade moderna é uma sociedade competitiva. Quando ela não possibilita a ascensão social para muitos indivíduos, principalmente jovens e das classes desprivilegiadas, e produz uma mentalidade competitiva que perpassa toda a sociedade, produz também formas marginais de competição e entre elas as das torcidas organizadas, que geram violência.

Assim, numa sociedade competitiva e sem possibilidades de mudanças, seja individual ou coletiva, aliado a situação de alto grau de pobreza e desemprego, os atos de violência tendem a ser mais constante, bem como a violência se tornar uma forma de descarregar a frustração. Mas os indivíduos provenientes das classes privilegiadas também realizam tais atos de violência, seja através do esporte ou de outra forma, pois dependendo dos valores dos indivíduos e da expectativa existente em sua classe/família, ele pode cometer atos de violência e participar de torcidas organizadas, grupos políticos de extrema-direita (neonazistas), etc. Outra fonte geradora de violência são os problemas psíquicos, que atingem indivíduos de todas as classes sociais, tal como a excessiva competição e os desgastes que isso provoca, bem como a já referida frustração. Estas e outras razões da violência podem se mesclar e reforçar o caso da manifestação da violência no futebol.

A violência efetivada por integrantes das torcidas organizadas possui fonte social cuja origem se encontra em determinados problemas sociais. As torcidas organizadas criam uma cultura própria, típica das pessoas na situação que definimos acima, de querer ser superior e ganhar uma competição, seja através do time ou através da própria ação enquanto torcida organizada. Cada competidor, na falta de outros recursos, usa o que tem. Os diversos grupos sociais utilizam diferentes mecanismos de competição: os setores privilegiados mostram seu sucesso através do dinheiro, dos bens de consumo, da ostentação de sua riqueza e poder; os setores intermediários utilizam a arte, a cultura, a inteligência; os despossuídos possuem recursos mais escassos: além da vitória dos outros (time de futebol, torcida), resta a força física. A cultura juvenil que domina as torcidas organizadas é justamente a da força física. Isto pode ser visto nos símbolos agressivos das torcidas organizadas, nas suas conversas e formas de agir. É uma cultura selvagem, uma demonstração da barbárie produzida pela sociedade moderna, que impede a realização de milhares de seres humanos e ainda inculca a competição em suas cabeças, uma destruição social e mental.

O futebol é competitivo e isso se reproduz fora do campo, inclusive se mesclando competição social e esportiva, uma compensando a outra, principalmente no caso da torcida. O futebol, devido ao caráter competitivo que assumiu em nossa sociedade e ao conjunto das relações sociais que existem, passa a se relacionar intimamente com a violência, mas é preciso perceber que não são sinônimos. O futebol, tal como as torcidas organizadas, é mais produto social e reprodutor de relações sociais do que seu produtor. A violência das torcidas organizadas só pode ser compreendida enquanto fenômeno social.

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Artigo publicado originalmente no Jornal O Sucesso (Goiânia) em Sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Edição nº 595.









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