Rádio Germinal

RÁDIO GERMINAL, onde a música não é mercadoria; é crítica, qualidade e utopia. Para iniciar clique em seta e para pausar clique em quadrado. Para acessar a Rádio Germinal, clique aqui.

domingo, 27 de setembro de 2020

A Arte como ela é: Um breve comentário sobre A Arquitetura da Destruição

 



A ARTE COMO ELA É

Um breve comentário sobre “A Arquitetura da Destruição”.

 

Nildo Viana

 

O documentário “Arquitetura da Destruição” (Peter Cohen, Suécia, 1992) possui vários méritos, embora possua também alguns problemas. O documentário apresenta alguns aspectos interessantes para discutir a questão da relação arte e sociedade. Assim, a percepção da “arte nazista” como produto de uma sociedade e de artistas envolvidas nesta e no que se tornou hegemônico no seu interior é um dos pontos altos do documentário. Da mesma forma, o documentário permite ver a relação entre arte e propaganda, a arte e pseudorracismo, entre outros elementos. O uso do cinema, nova arquitetura, entre outras formas de arte, para legitimar e fortalecer o regime nazista é apresentado e pode ser analisado criticamente, contribuindo com a compreensão da relação entre arte e sociedade durante o nazismo na Alemanha.

 

Em síntese, o documentário mostra a arte sob o nazismo e como se tornou hegemônica e repassou mensagens nazistas, antissemitas, apesar de deixar a desejar em sua forma e conteúdo. O documentário possui problemas, tais como o maniqueísmo e individualismo implícito, que é perceptível ao evitar apresentar as determinações sociais do nazismo.

 

Apesar disso, o documentário é interessante não só para mostra a relação entre arte e nazismo e vários outros elementos derivados, mas também permite realizar reflexões sobre a arte em geral. A arte nazista e sua hegemonia pode ser comparada com a arte contemporânea e sua hegemonia, pois ambas manifestam valores, concepções e sentimentos correspondentes aos interesses da classe dominante, inclusive as de orientação progressista.  A diferença acaba sendo de grau, como se pode notar o mesmo período nos EUA, com artistas e obras artísticas, Pato Donald, filmes, super-heróis e heróis todos são mobilizados em torno do americanismo. E isso revela também algo comum no discurso artístico e científico, segundo a qual a parcialidade é condenada, mas sempre a dos outros e nunca a própria, que aparece, para defensores da neutralidade científica e autonomia da arte, como “normais”, “naturais”, embora tão parciais quanto as demais.

 

A forma mais exagerada de um fenômeno permite perceber suas manifestações mais amenas e moderadas, e seu vínculo com a reprodução social. A relação nazismo e arte permite observar a relação mais geral entre arte e sociedade burguesa em momentos de maior estabilidade política e social, cumprindo a mesma função: reproduzir as relações sociais existentes.

 

O problema se encontra no processo de naturalização, onde tudo se torna natural, inclusive a arte e os valores ligados a ela, desde a arte pela arte até a forma e a técnica como critérios de avaliação da qualidade da obra artística. A arte é um produto social e histórico e, em uma sociedade fundada na dominação e na exploração, reproduz os interesses da classe dominante, seja de forma mais explícita, como no caso da arte nazista, seja na forma mais implícita, como os filmes hollywoodianos e dos serviços de streaming contemporâneos.

 

Assim, o documentário contribui para percebermos a importância da des-naturalização para a luta pela transformação social, sair da imanência e atingir a transcendência, perceber a historicidade da sociedade e da arte, bem como que nós mesmos somos produtos sociais e históricos e precisamos realizar um esforço enorme para ter consciência disso e agir contra isso.


Assista "A Arquitetura da Destruição" abaixo ou clique para assistir no youtube:





2 comentários:

  1. Nildo, você é sempre tão certeiro, sempre comprometido com a crítica desapiedada, sempre pronto para desvelar as máscaras sociais que impedem o oprimido a se revoltar e partir para a ação consciente e revolucionária.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grato, Maria Angélica, é muita generosidade sua. Fico contente que tenha gostado. De minha parte, continuo com o meu esforço em contribuir com a luta pela transformação radical e total das relações sociais e conto com o seu apoio e engajamento, assim como de todos que enxergam a necessidade do ser humano se libertar. abs.

      Excluir

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Acompanham este blog: