DIÁLOGO DE SURDOS
Nildo Viana
Certa vez, Olavo ia andando pela rua com sua bengala branca e, de repente, parou ao sentir o choque dela com algo de material semelhante, possivelmente produzida com o mesmo material de sua bengala. Do outro lado estava Seu Carvalho, com sua bengala marron, que também sentiu o choque e a semelhança do material usado em choque com sua bengala. Ambos eram cegos e não podiam enxergar, apenas deduzir a partir do tato e outros sentidos qual seria o obstáculo. Olavo resolveu parar um pouco, para ver se era algo passageiro. Seu Carvalho também ficou parado, pensando ser algo móvel no caminho e que logo se afastaria. Depois de um pouco de espera, ambos resolvem voltar ao caminho e novamente se chocam. Aí eles começam um diálogo:
Olavo – Engraçado, estou sentindo algo na
minha frente, mas sempre passo por esta rua e não existe nada no caminho.
Seu Carvalho – Curioso! Eu também tentei
passar e não consegui, e sempre venho por este caminho!
Olavo – Talvez seja algo caído na rua...
Seu Carvalho – Pode ser, mas já estou aqui
alguns minutos e ninguém retirou e não ouvi nenhum barulho.
Olavo – Bom, eu também não ouvi nada.
Seu Carvalho – Eu acho que nós temos que
tomar uma providência, pois alguém pode se acidentar aqui devido a este
obstáculo.
Olavo – Espere aí, antes de tomar a
providência, precisamos saber da natureza deste objeto, bem como de sua função
social.
Seu Carvalho: Ora, vamos esperar alguém se
machucar para tomar providência? Por qual motivo você não olha para o obstáculo
e me diz o que é?
Olavo: Não devemos ser precipitados e se
agirmos desta forma, poderemos criar mais problemas ao invés de resolvê-los. E
por qual motivo você não me diz o que é que está em nossa frente?
Seu Carvalho: Sei, você quer é não fazer
nada. E sobre sua falta de respeito ao solicitar que eu diga o que deve estar
na sua frente, não vou nem comentar, pois você manifesta preconceito e falta de
respeito.
Olavo: Ora, se você é um intempestivo,
tome suas providências! Agora, sua insinuação de eu sou preconceituoso e tenho
falta de respeito com sua pessoa é algo inaceitável, pois você está é tirando
sarro com a minha cara!
Seu Carvalho: Oras, você é um maluco que
fica se aproveitando das dificuldades alheias!
Olavo – Isso é um absurdo!! Falar em
“dificuldade alheia”!
Neste
momento, Josefina e Eugênio iam passando e iniciaram o seguinte diálogo a
partir daquela cena:
Josefina – O que há com eles?
Eugênio – É um diálogo de surdos...
Josefina – Bem que eu vi que eles não
ouviam direito...
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