Freud e o Marxismo
Nildo Viana
“O poder
do id expressa o verdadeiro propósito do organismo do indivíduo. Isto consiste
na satisfação de suas necessidades inatas”.
Sigmund
Freud
Freud é o fundador da psicanálise e um dos grandes nomes do pensamento
ocidental. Ele desenvolveu uma teoria do aparelho psíquico e o conceito-chave
da teoria psicanalítica: o conceito de inconsciente. Freud irá erguer todo um
edifício teórico tomando por base sua teoria do inconsciente e a partir daí irá
apresentar as bases da psicanálise que será desenvolvida por diversos outros
psicanalistas de acordo com suas orientações fundamentais, embora alguns
seguindo uma linha “ortodoxa” enquanto que outros irão fazer reformulações, mas
sempre com referência aos postulados básicos originados na concepção freudiana.
Nosso objetivo aqui é analisar as relações entre a concepção freudiana e a
teoria marxista. Em primeiro lugar, iremos expor brevemente a concepção de
Freud; em segundo lugar, vamos expor, também brevemente, algumas das críticas
de algumas concepções pretensamente marxistas fizeram à psicanálise freudiana;
em terceiro lugar, realizaremos uma análise critica de tais concepções e por
fim iremos apresentar a teoria de Marx visando expor sua contribuição para o
desenvolvimento da psicanálise.
Freud:
A Teoria do Inconsciente
Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, realizou uma verdadeira
revolução teórica ao desenvolver o conceito de inconsciente. Sem dúvida, Freud
foi o primeiro a elaborar uma teoria do inconsciente. Antes de Freud o que
existia era uma pré-consciência[1] do
inconsciente, ou seja, existia a noção de inconsciente, que ele,
posteriormente, transformou em conceito e o integrou em uma teoria. As
filosofias do inconsciente, segundo denominação de J. C. Filloux (1966), foi
representada por Schopenhauer, Carus, Hartmann[2], entre outros, e por
representantes da medicina e da psicologia, mas sem possuir o grau de
desenvolvimento e a centralidade que adquiriu após Freud. Ele mesmo reconheceu
isto ao dizer:
“O
conceito de inconsciente esteve durante muito tempo batendo à porta da
psicologia e pedindo que o deixassem entrar. A filosofia e a literatura
entretiveram-se freqüentemente com ele mas a ciência não era capaz de lhes
descobrir qualquer utilidade” (Freud, apud. Wollheim, 1978, p. 162).
O inconsciente se tornou o conceito fundamental da teoria freudiana. O
próprio Freud afirmou que a psicanálise é a “ciência do inconsciente”. Muitos
passaram a considerar que o inconsciente é o elemento determinante de todos os
atos humanos, o que encontra alguns elementos na obra de Freud que parecem
confirmar tal interpretação. Vejamos um exemplo:
“Enquanto
se considerou que o psiquismo principiava e terminava no campo da consciência,
havia lugar para falar da arbitrariedade e da casualidade de certos fenômenos
psíquicos. Mas no momento que começou-se a considerar-se o inconsciente, o
terreno do arbitrário e do casual, ficou restringido até praticamente
desaparecer, emergindo, em seu lugar, a realidade do determinismo psíquico”
(Bosch, 1979, p. 81).
No entanto, seria uma simplificação da concepção freudiana postular um
determinismo do inconsciente. Ao recordarmos o que é o inconsciente, para
Freud, veremos a impossibilidade de defender a tese do determinismo do
inconsciente no pensamento freudiano.
O inconsciente foi se constituindo na concepção freudiana no decorrer
do seu processo de produção e sofreu alterações durante tal processo. Freud,
inicialmente, explicou o inconsciente em termos neurofisiológicos e,
posteriormente, em sua metapsicologia, ele passou a explicá-lo sob quatro
formas diferentes, a saber: o tópico, o estrutural, o econômico e o dinâmico.
Em cada forma ele utiliza termos diferentes: no ponto de vista tópico,
ele trabalha com os termos de inconsciente, pré-consciente, censura e
consciência. Nesta forma, o aparelho psíquico possui quatro elementos, sendo
que o inconsciente é o que é vedado à consciência pela repressão interna; o
pré-consciente é o reino das tendências defensivas e o que impede a
manifestação das excitações; a censura fica no meio destes dois elementos e
manifesta a reação do pré-consciente em relação ao inconsciente; a consciência
é o que passa pelo “filtro” do pré-consciente.
No ponto de vista estrutural, ele usa os termos id, ego e superego.
Estes são os três elementos da vida psíquica humana. O id (ou inconsciente) é o
servo do princípio de prazer; o ego é o mecanismo mediador do aparelho
psíquico, cuja função é regularizar os conflitos, organizar a defesa, a
adaptação e a censura; o superego é o responsável interno pela reprodução da
repressão social.
No ponto de vista econômico, Freud trabalha com os termos princípio de
prazer e princípio de realidade e, mais tarde, Eros (instintos sexuais) e
Tanathos (instinto de morte). No primeiro caso, o princípio de prazer é a
reserva de energia instintual que entra em contradição com o princípio de
realidade, que é a internalização das normas sociais. Posteriormente, o
princípio de prazer passa a ser composto não apenas pelos instintos sexuais
como também pelos instintos de agressividade, também chamado de instinto de morte.
No ponto de vista dinâmico, utiliza os termos transferência,
sublimação, projeção e compromisso, entre outros. Neste ponto de vista, Freud
considerava que as forças mentais, marcadas por conflitos e compromissos, devem
proteger o ego da ansiedade interna e adaptá-la ao mundo externo, através do
retardamento ou abandono completo das energias instintuais, que, no entanto,
permanecem e se manifestam através da transferência, sublimação, projeção ou
compromisso.
Porém, em qualquer um destes pontos de vista, existe uma dicotomia
entre o interno (os instintos, princípio de prazer), representado pelo
inconsciente, e o externo (a moral, o princípio de realidade), representado
pela consciência. Desta forma, podemos dizer que a concepção freudiana é
fundamentalmente conflitual. Isto é
visível em Freud e por isso podemos dizer que o conceito de inconsciente é
inseparável do conceito de repressão:
“O
conceito de inconsciente foi apresentado, pela primeira vez, em ligação com a
repressão ou defesa, como um modo de caracterizar o fim dado àquelas idéias que
incorrem em repressão” (Wollheim, 1978, p. 163).
Parece-nos evidente que a existência do inconsciente tem como condição
de possibilidade a repressão[3],
pois se esta não existisse também não existiria o inconsciente. O “Complexo de
Édipo” situa o momento do nascimento da “repressão original”. O inconsciente
existe porque é a sede dos desejos
reprimidos.
Os desejos reprimidos povoam o inconsciente. O inconsciente, por isso,
não se eleva ao nível da consciência. Mas, neste caso, como comprovar sua
existência? Através do retorno do reprimido, que se manifesta através dos
sonhos, dos atos falhos, da fantasia. Por conseguinte, o inconsciente não
determina todos os atos humanos, mas tão-somente aqueles em que sua manifestação
ocorre quando a vigília da consciência é reduzida (e não é, mesmo neste caso,
superada, pois caso contrário os sonhos seriam claros e diretos e não
simbólicos).
Portanto, os sonhos, os atos falhos, as fantasias, os chistes são atos
humanos produzidos sob forte influência do inconsciente. Porém, os demais atos
humanos são comandados pela consciência e esta introjeta a moral dominante da sociedade, ou seja, ela transforma a
repressão externa da sociedade em repressão interna, em recalcamento. Ele
apresenta esta tese dizendo que, a partir dos cinco anos, uma parte do mundo
externo é abandonada como objeto, como algo exterior, e passa a ser incluída no
mundo interno (no ego) através da identificação. Esta parte do mundo externo
introjetada se torna um novo “agente psíquico”. Segundo suas próprias palavras:
“Esse
novo agente psíquico continua a efetuar as funções que até então haviam sido
desempenhadas pelas pessoas do mundo externo: ele observa o ego, dá-lhe ordens,
julga-o e ameaça-o com punições, exatamente como os pais cujo lugar ocupou.
Chamamos este agente de superego e nos damos conta dele, em suas funções
judiciárias, como nossa consciência. É impressionante que o superego
freqüentemente demonstre uma severidade para a qual nenhum modelo foi fornecido
pelos pais reais, e, ademais, que chame o ego a prestar contas não apenas de
suas ações, mas igualmente dos seus pensamentos e intenções não executadas, das
quais o superego parecer ter conhecimento” (Freud, 1978a, p. 89).
Assim, observamos que ao contrário do que muitos pensam, não é o
inconsciente que é determinante e sim a consciência. Mas o determinismo
persiste, pois a consciência é a introjeção do princípio de realidade
estabelecido pela sociedade, e, portanto, é determinada pela sociedade. Neste
sentido, o indivíduo tem seu comportamento determinado pela consciência e pelo
inconsciente, que vivem em permanente conflito. As forças que movem o indivíduo
escapam ao seu controle e são as suas forças instintuais e as forças sociais[4].
Desta forma, podemos afirmar que o inconsciente surge devido à
repressão. A internalização desta repressão cria um processo de recalcamento do
indivíduo por ele mesmo e o aparelho psíquico passa a possuir, no seu interior,
além do inconsciente e da consciência (o ego), o “superego”, ou um “sobre-eu”
que exerce a atividade de recalque. Neste caso, o aparelho psíquico possui três
partes constitutivas: o id, o ego e o superego.
O que predomina no aparelho psíquico é o superego com suas funções
repressoras, o que significa o predomínio da repressão internalizada nas
manifestações conscientes de um indivíduo. As ações humanas são
predominantemente comandadas pelo superego e, em grau menor e mais restrito de
atividades, pelo inconsciente (sonhos, lapsos, fantasia, etc.), mas este
predomínio é adquirido no interior de um conflito entre ambos, não havendo,
assim, predomínio absoluto de nenhum deles. Desta forma, o indivíduo é
determinado em suas ações, seja pelos seus instintos, seja pela sociedade. A
repressão é, na perspectiva freudiana, uma necessidade social. A civilização,
segundo Freud, deve promover a repressão para garantir a reprodução da vida
material, o que provoca a renúncia aos instintos. Segundo ele:
“Expressando-o
de modo sucinto, existem duas características humanas muito difundidas,
responsáveis pelo fato de os regulamentos da civilização só poderem ser
mantidos através de certo grau de coerção, a saber, que os homens não são
espontaneamente amantes do trabalho e que os argumentos não têm valia alguma
contra suas paixões” (Freud, 1978b, p. 89).
O ser humano, assim, é um ser determinado, movido pelo conflito entre
duas forças dominantes em seu aparelho psíquico, ou seja, pelas forças
inconscientes e pelas forças sociais. Essas forças sociais impõem uma conduta
moral comandada pelos ditames da civilização. Freud esclarece estes ditames da
seguinte forma:
“A
civilização humana, expressão pela qual quero significar tudo aquilo em que a
vida humana se elevou acima de sua condição animal e difere da vida dos animais
– e desprezo ter que distinguir entre cultura e civilização –, apresenta como
sabemos, dois aspectos ao observador. Por um lado, inclui todo o conhecimento e
capacidade que o homem adquiriu com o fim de controlar as forças da natureza e
extrair a riqueza desta para a satisfação das necessidades humanas; por outro,
inclui todos os regulamentos necessários para ajustar as relações dos homens
uns com os outros e, especialmente, a distribuição da riqueza disponível”
(Freud, 1978b, p. 87-88).
Os elementos da civilização que exercem, através da moral
estabelecida, esta repressão, é o que muitos chamaram de “razão instrumental”,
voltada para o controle da natureza (e da sociedade). Mas estes dois princípios
que regem a ação humana (o inconsciente e a moral repressiva) são produtos da civilização
e criam um terceiro elemento, resultado do conflito entre ambos: o
deslocamento. O deslocamento ocorre quando o desejo reprimido não pode
realizar-se e transfere, assim, para outro objeto de desejo. Os desejos
reprimidos, assim, transferem suas energias para outros modos de realização[5].
Mas o deslocamento é uma manifestação do inconsciente? Aqui devemos
reconhecer uma das ambigüidades da concepção freudiana, pois sua concepção de
inconsciente às vezes é expressa de forma tão ampla que a resposta a esta
questão seria sim. Porém, se recordarmos que o inconsciente é o lugar onde se
encontram os desejos reprimidos[6],
então podemos concluir que a manifestação do inconsciente significa a sua
emergência no aparelho psíquico, através dos sonhos, fantasia, atos falhos,
etc., e isto quer dizer que sua irrupção significa a tentativa de realização do
desejo reprimido, mas de forma imaginária.
O deslocamento é, na verdade, resultado da repressão dos desejos que
cria o inconsciente e busca impedir sua manifestação, sendo, portanto, produto
da repressão do inconsciente. Assim, quanto mais sonhar, fantasiar, etc., a
energia pulsional se manifesta e não
gera problemas psíquicos e reações doentias. Porém, a não manifestação do
inconsciente (o que significa não só que os desejos instintuais são reprimidos,
mas também sua manifestação esporádica no mundo onírico ou em pequenos atos
cotidianos) gera o deslocamento.
Esse deslocamento pode ser percebido, por exemplo, no fanatismo
religioso e em outras formas de ação humana, como os distúrbios psíquicos em
geral, tais como a neurose, psicose, etc. Mas existe, segundo Freud, uma forma
“positiva” de deslocamento, que é a sublimação. A sublimação seria um
deslocamento para atividades socialmente úteis ou com fins elevados. Um exemplo
de sublimação, neste sentido, seria a obra de arte. Uma obra artística é a
sublimação positiva de um desejo reprimido. Um artista ao produzir um romance
policial marcado por um extremo grau de violência apenas transfere para a
ficção o seu desejo reprimido de agressão. Um roteirista de um filme de terror,
por sua vez, realiza o mesmo processo de transferir sua agressividade para uma
obra de ficção (Viana, 2002). Mas o deslocamento também pode ser considerado
como satisfação substituta ou como sintoma. Podemos ver isto nas seguintes
afirmações de Freud:
“Chegamos
à convicção, pelo exame dos doentes histéricos e outros neuróticos, de que a
repressão das idéias [nestes doentes – NV], a que o desejo insuportável está
apenso, malogrou. Expeliram-nas da consciência e da lembrança; com isso os
pacientes se livraram aparentemente de grande soma de dissabores. Mas o impulso
desejoso continua a existir no inconsciente à espreita de oportunidade para se
revelar, concebe a formação de um substituto do reprimido, disfarçado e
irreconhecível, para lançar à consciência, substituto ao qual logo se liga a
mesma sensação de desprazer que se julgava evitada pela repressão. Esta
substituição da idéia reprimida – o sintoma – é protegida contras as forças
defensivas do ego e em lugar do breve conflito, começa então um sofrimento
interminável” (Freud, 1978a, p. 15).
Sendo assim, a ação humana é determinada pela manifestação do
inconsciente e da moral internalizada e pelos efeitos deslocados do conflito
entre ambos. Não há como, a partir desta concepção, pensar a liberdade humana.
A
Crítica Pseudomarxista a Freud
Marx produziu sua concepção antes de Freud. Cronologicamente, Marx é
um pensador do século 19 e Freud um pensador do início do século 20. No
entanto, as teses de Marx são de grande influência até os dias de hoje, tal
como as de Freud. A força da teoria marxista reside, em parte, em seu poder
explicativo e sua análise aprofundada das bases do desenvolvimento histórico e
da sociedade moderna. As teses de Marx, no entanto, foram muitas vezes
deformadas, simplificadas, vulgarizadas (Viana, 2008). O próprio Marx percebeu
isto e é devido a isto que fez a famosa afirmação: “tudo o que eu sei é que não
sou marxista”. Assim, como Marx não fez nenhuma análise da psicanálise, por esta
ser inexistente em seu tempo, os seus seguidores e epígonos posteriores o
fizeram em seu nome. O que iremos destacar aqui é que tais “interpretações
marxistas” da psicanálise são, na maioria das vezes, uma visão pseudomarxista.
Obviamente que o pseudomarxista não nasce apenas de problemas de compreensão da
obra de Marx, mas também de interesses políticos, sociais, etc. O marxismo
nasce, como bem coloca Karl Korsch (1977) como “expressão teórica do movimento
operário”, mas é apropriado por outras classes sociais, se tornando um
pseudomarxismo.
A avaliação da psicanálise foi ofuscada por um conjunto de
preconceitos oriundos das interpretações do chamado “marxismo oficial” ou
“ortodoxo”, começando por Lênin, passando por Politzer, até chegar a muitos
autores contemporâneos. Iremos tomar dois exemplos, um oriundo deste “marxismo”
ortodoxo e outro da variante francesa que se dedicou ao problema da
psicanálise, duas formas diferentes de pseudomarxismo.
Iniciaremos com a abordagem do soviético V. I. Dobrenkov. Este autor
dedica um livro inteiro para refutar o “neofreudismo” de Erich Fromm, mas, como
não poderia deixar de ser, inicia seu trabalho de crítica com o fundador da
psicanálise. Sua análise da concepção freudiana, como é comum no
pseudomarxismo, é perpassada por simplificações e equívocos que demonstram uma
incompreensão do pensamento de Freud. Segundo Dobrenkov:
“No
plano histórico-social, o freudismo traduz as sensações de pavor e desespero
das camadas pequeno-burguesas de fins do século XIX. Estudando os distúrbios
psíquicos do pequeno e médio burguês da capital austríaca e concluindo que as
causas da maioria desses distúrbios são constituídas pelas excessivas
restrições dos pendores sexuais do homem pela moral, Freud dá aos casos
particulares o caráter de universalidade e partindo dessa base constrói uma
pretensiosa teoria da natureza universal do homem” (Dobrenkov, 1978, p. 20).
Temos aqui uma aplicação do “materialismo histórico-mecanicista”
típico dos soviéticos, e não só deles, onde sempre a ideologia deriva
diretamente e mecanicamente da classe social a qual pertence o pensador. Sem
dúvida, a abordagem marxista relaciona indivíduo-classe-ideologia, mas de forma
muito mais complexa que uma mera derivação direta e mecânica.
Dobrenkov também argumenta que a concepção freudiana é estática e
irracionalista. Ela é estática porque parte da tese de que os instintos são
imutáveis e independentes da realidade exterior e esta última (o “sistema
social”) é também “imutável”. Isto provoca uma determinada relação entre os
instintos e a sociedade. Segundo Dobrenkov:
“A
interação entre o interior e o exterior também se torna estática. O conflito
entre a natureza e a sociedade é, segundo Freud, não uma unidade dialética e a
mútua penetração dos contrários mas tão-somente um confronto de partes
independentes uma da outra. Para ele, as condições sociais externas da
existência humana não determina a atividade psíquica mas simplesmente
dificultam a sua manifestação, coíbem a realização das inclinações instintivas.
Essa interpretação sócio-psicológica da inter-relação da natureza humana e a
sociedade leva Freud a um dilema que ele não encontra meio de resolver; por um
lado, a restrição e a desistência dos instintos se lhe afiguram uma das
condições indispensáveis de existência da sociedade, da civilização em geral,
e, por outro, considera a satisfação livre e plena como condição necessária da
saúde psíquica do homem” (Dobrenkov, 1978, p. 15).
A sua conclusão é que Freud toma partido da sociedade, o que é
correto. Porém, subjaz na crítica de Dobrenkov uma dialética reificada, constituída por “leis imutáveis” (unidade
dialética, mútua penetração dos contrários) – o que é típico do stalinismo – e
não na dialética materialista com seu caráter heurístico, tal como alguns
autores colocaram (Korsch, 1977; Sartre, 1967; Sartre, 1966; Viana, 2007)
colocaram.
Quanto à sua interpretação de Freud, ela é correta quando afirma que
os instintos são imutáveis, mas isto é apenas uma obviedade, pois toda
concepção de instintos necessariamente os concebe como imutáveis. O que se
deveria criticar aqui seria a existência dos instintos nos seres humanos (ou em
geral).
A afirmação de que ele considera a sociedade imutável, é apenas em
parte correta, pois para Freud ela sempre efetuará um certo quantum de repressão, que apenas varia
historicamente. Mas isto não é uma afirmativa sobre a totalidade das formas de
sociedade e por isso se revela um equívoco. Marx, por exemplo, sustenta que
toda a sociedade precisa produzir os meios necessários para a sobrevivência da
população e nem por isso sua concepção de sociedade é estática. Quanto ao
conflito entre “mundo interior” e “exterior”, tal conflito permanece existindo
mas ganha novas formas, possuindo, portanto, certo dinamismo, embora aí se
encontre realmente uma concepção de imutabilidade do conflito.
Outra crítica de Dobrenkov ao freudismo se encontra na sua afirmação
de que Freud é irracionalista. Segundo Dobrenkov:
“A
base filosófica em que surgiu a teoria psicanalítica freudiana, especialmente a
sua sociologia, são os princípios idealistas da filosofia de Platão, Kant,
Hartmann, Schopenhauer, Nietszche e Bergson. Embora o próprio Freud não se
considerasse adepto de nenhuma doutrina filosófica, sua atenção, contudo,
voltava-se para os sistemas filosóficos, que expressavam um franco
irracionalismo. Toma de empréstimo a Edward Von Hartmann e Henri Bergson a
idéia do inconsciente. Nietszche e Schopenhauer o atraem pelo fato de
ressaltarem constantemente a importância das emoções inconscientes e da
sexualidade na determinação dos diversos aspectos da vida humana. Por várias
vezes ele reconhece numa série de obras a influência das idéias daqueles
filósofos em sua criação. Assim, por exemplo, em As Principais Teorias Psicológicas em
Psicanálise, ele escreve: ‘podemos
indicar filósofos célebres como precursores, antes de tudo o grande pensador
Schopenhauer, cuja ‘vontade’ inconsciente pode ser identificada em psicanálise
com as atrações espirituais’. Compreende-se porque na teoria psicanalítica de
Freud não houve lugar para a razão. Na multiforme atividade psíquica atribui-se
papel principal aos instintos inconscientes, biologicamente determinados. A
razão atua como simples apêndice destes instintos. O idealismo e a metafísica
são o fundamento filosófico em que se erige o volumoso edifício das construções
psicanalíticas” (Dobrenkov, 1978, p. 19).
Tal afirmação entra em visível contraste com inúmeros outros
intérpretes que o consideram um racionalista. Alguns chegam mesmo a afirmar que
o seu racionalismo é tão extremado que quer fornecer uma explicação racional do
irracional (inconsciente, instintos), do imaginário (os sonhos, a fantasia) e
até mesmo dos pequenos fatos da vida cotidiana (atos falhos, chistes,
esquecimento de nomes, etc.) (Maffesoli, 1989).
Reconhecer a existência de aspectos não-racionais na mente humana não
faz de um pensador um irracionalista e nem ele fazer referências a filósofos
irracionalistas. A afirmação de que para Freud não há espaço para a razão é um
grande equívoco, pois ele defende o controle racional dos desejos e instintos.
A interpretação de Freud por Dobrenkov apresenta outros pontos
problemáticos, mas estes, a nosso ver, são os principais. A crítica a Freud do
ponto de vista do “marxismo soviético”[7] apresenta sempre os mesmos
argumentos, com pequenas variações de detalhes, isto devido ao fato da
deformação do marxismo, transformado em leninismo, e que teve o papel de
justificar a dominação burocrática no capitalismo estatal russo.
Freud possui diversos outros críticos pseudomarxistas e seria
demasiado longo elencar um grande número de intérpretes. Por isso tomaremos
apenas mais um crítico pseudomarxista de Freud para encerrar esta parte de
nosso trabalho. Tomaremos aqui a obra do francês Lucien Sève para analisar.
Porém, como a crítica que este autor remete a Freud é muito extensa (contendo
diversos itens, entre os quais alguns semelhantes aos expostos por Dobrenkov e
outros derivados de Politzer), nos limitaremos a apenas um aspecto: o fato de
Freud ter transposto para o social o psiquismo individual. Segundo este autor:
“Surpreendido
por certas analogias entre os fenômenos neuróticos, tal como os compreendia, e
diversos comportamentos sociais – por exemplo ao nível das práticas religiosas
– Freud chegou à conclusão de que a psicanálise poderia, não só intervir no
quadro geral das ciências sociais mas desempenhar mesmo o principal papel
explicativo. Mas isto significava ter que admitir implicitamente o postulado
decisivo segundo o qual o psiquismo individual pode ser tomado como forma de referencia
universal, como base real de todos os fatos humanos. Daí, por uma cadeia de
postulados obrigatórios, a psicologização da sociedade, a biologização do
psiquismo, a naturalização do homem, que levam a esta já banal quadratura do
círculo: considerar a história nos termos nitidamente não históricos de uma
teoria da natureza humana” (Sève, 1990, p. 229-230).
Embora este autor apresente algumas citações de Freud que parecem
confirmar esta interpretação, elas consistem numa verdadeira confusão, isto é,
uma mistura desordenada que toma uma coisa pela outra.
O principal exemplo trabalhado por este autor é a religião, que,
segundo Freud, é a “neurose obsessiva coletiva da humanidade”. A neurose – um
fenômeno do psiquismo individual – é transposta para a realidade social – a
religião.
O equívoco desta interpretação reside no fato de que o autor esquece
que a neurose não é um fato natural do psiquismo individual e sim um fato
derivado da insatisfação dos desejos pelo motivo que estes são reprimidos. Ora,
a repressão social (externa) se realiza nas relações sociais e a repressão
interna (recalcamento) é uma introjeção da primeira. Portanto, a neurose tem
uma origem social e não individual, no psiquismo individual, embora, uma vez
emergindo, se torna constitutiva deste e também do psiquismo coletivo (mas tão
só pelo motivo que a repressão não atinge apenas um indivíduo e sim a
coletividade).
Esta interpretação seria correta se a transposição fosse dos instintos
para a realidade social, o que Freud realmente faz em alguns momentos, mas que
não significa a redução do social ao psíquico. A idéia de natureza humana, por
sua vez, está presente em Freud e por isso essa transposição é possível. No
entanto, isto, em si mesmo, só seria prejudicial ao processo de compreensão do
ser humano se desconsiderasse sua inserção no espaço histórico-concreto – o que
não é o caso – ou então apresentasse uma relação entre natureza humana e
sociedade de forma equivocada, o que ocorre, em parte, com Freud. Sève,
entretanto, exagera na sua rejeição da natureza humana e interpreta Freud de
forma equivocada.
Marxismo
e Psicanálise
A psicanálise, tal como muitos pensadores de influência ou de
orientação marxista reconheceram, realizou uma descoberta revolucionária: o
inconsciente. A partir desta descoberta desvendou muitos aspectos do
funcionamento do universo psíquico dos indivíduos e forneceu uma explicação da
formação dos problemas psíquicos e a partir deste trabalho com o psiquismo
individual abriu caminho para a compreensão de certos fenômenos do psiquismo
coletivo. A nosso ver, é extremamente difícil compreender o universo mental de
um indivíduo e, por conseguinte, a sociedade, rejeitando em bloco a concepção
freudiana ou mesmo desconsiderar suas descobertas.
Porém, isto não significa realizar uma análise acrítica desta
concepção. Existem muitos pormenores e elementos fundamentais na obra de Freud
que merecem uma apreciação crítica[8].
Vemos, no entanto, três aspectos problemáticos na obra de Freud que são
relevantes: em primeiro lugar, o efeito dos seus valores sobre seu
posicionamento relativo ao conflito psíquico do indivíduo (consciência versus
inconsciente ou id versus ego/superego); em segundo lugar, sua identificação da
consciência com a moral, o que também é derivado dos seus valores; em terceiro
lugar, sua concepção de instintos, de caráter puramente “biológico”.
Aqui entramos no terreno da relação entre indivíduo e classe social,
bem como na questão da inserção do indivíduo – no caso, Freud – no conjunto das
relações sociais e no seu processo histórico-concreto de desenvolvimento. Esta
discussão, no entanto, nos remeteria ao estudo do processo histórico de vida de
Freud, sua “biografia”, como diria alguns, e também nos remeteria à análise de
sua época, o que não nos propomos no presente trabalho. É necessário destacar a
importância dos valores na produção intelectual e na ação humana (Viana, 2007b),
o que foi deixado de lado pela psicanálise. Assim, em que pese ser fundamental
uma análise dos valores de Freud, o que nos interessa aqui é tão-somente o seu
posicionamento diante da sociedade, ou seja, sua posição política, sem nos
envolver com o seu processo de constituição.
Tal posição é expressa principalmente em dois textos, O Futuro de uma Ilusão e O Mal Estar na Civilização, pois são neles
que ele irá tratar da repressão e da disputa entre a consciência moral e o
inconsciente. Nesta disputa, Freud toma partido da consciência e isto significa
que considera necessária a repressão, pois somente assim a “civilização” poderá
se reproduzir.
Em muitos outros textos isto também é visível, como neste trecho
(incompleto, aliás):
“A
destruição do caráter civilizado pelos impulsos instintivos libertados da
repressão é um desfecho temido mas absolutamente impossível. É que este temor
não leva em conta o que a nossa experiência nos ensinou com toda a segurança:
que o poder mental e somático de um desejo, desde que se baldou a respectiva
repressão, se manifesta com muito mais força quando inconsciente do que quando
consciente; indo para a consciência só pode enfraquecer. O desejo inconsciente
escapa a qualquer influência, é independente das tendências contrárias, ao
passo que o consciente é atalhado por tudo quanto, igualmente consciente, se
lhe opuser. O tratamento psicanalítico coloca-se assim como o melhor substituto
da repressão fracassada, justamente em prol das aspirações mais altas e
valiosas da civilização” (Freud, 1978a, p. 34-35).
Ele considera que, apesar de inevitável, a repressão deve ser moderada
por uma reforma social, pois cria problemas psíquicos que são fontes de
conflitos sociais e assim se pode aliviar as tensões sociais. Muitos destacaram
o conservadorismo e liberalismo político de Freud, que está no fundamento desta
posição, bem como o “vitorianismo” sexual de sua época. A partir de seus
valores, que apontam para a necessidade da conservação da sociedade repressiva,
ele só pode tomar partido da consciência contra o inconsciente. O controle da
consciência sobre o inconsciente existe e deve existir. Mas este deve ser não é
um resultado lógico a que chegou a análise deste fenômeno e sim um
posicionamento de Freud sobre ele, o que significa que outro pesquisador pode
chegar à conclusão oposta. Neste ponto reside a ambigüidade de Freud, pois ao
descobrir os males causados pela repressão deveria ter apontado para a sua
supressão e não para sua manutenção e daí ele tem que apresentar paliativos
(reforma social para diminuir a repressão, terapia).
Outro problema da concepção freudiana se encontra na identificação da
consciência com a moral. Sempre que ele aborda a repressão nos remete ao
“controle da consciência” e à moral, como se significassem a mesma coisa. Desta
forma, a consciência ou “a razão’ se torna equivalente à moral dominante em
nossa sociedade, e é isto que irá provocar a crítica de Marcuse à racionalidade
e sua defesa do inconsciente (Marcuse, 1988). Marcuse, no entanto, cai no
equívoco de pensar Freud como um pensador revolucionário – no sentido social do
termo, o que é um equívoco. Este procedimento não permite perceber na consciência
o seu caráter ativo e seus elementos que são uma recusa da moral dominante e
tudo que efetiva tal recusa passa a ser considerado uma manifestação do
princípio de prazer e não da consciência. Cria-se, assim, uma visão da
consciência que a considera inevitavelmente repressiva.
Assim se perde de vista que a consciência tem uma dimensão de projeto,
ou seja, que pode realizar um rompimento com a moral dominante e estabelecer um
novo fundamento para a ética, o que pressupõe também outros elementos. Enfim, a
abordagem de Freud não permite pensar o aspecto ativo e emancipador da
consciência.
Também existe um outro aspecto de discordância com Freud que se
encontra no que ele denomina instintos ou pulsões, que ele limita à libido,
sendo que nos seus últimos escritos ele considera que existia, além dos
instintos sexuais, o instinto de morte. A sua concepção de instintos é bastante
limitada e isto foi ressaltado por diversos pesquisadores, bem como a idéia de
existência de um instinto de morte, que foi descartada pelos seus seguidores e
intérpretes, com exceção de Marcuse e Melanie Klein[9].
A nosso ver, o inconsciente é a categoria fundamental da psicanálise e
devemos considerar que nele reside os desejos reprimidos, que são tantos os
desejos sexuais quanto os demais desejos que forma as necessidades humanas
radicais, entre elas as potencialidades humanas reprimidas (criatividade,
sociabilidade). Desta forma, observamos que o inconsciente pode ser considerado
como o locus da luta pela liberdade e
não apenas um serviçal dos instintos biológicos (Viana, 2002b).
O homem é livre ou é um prisioneiro dos seus desejos inconscientes?
Existe uma natureza humana fixa e imutável, comandada pelos instintos e outros
elementos derivados da relação deles com a sociedade, ou o homem escolhe seu
destino livremente? Estas questões são extremamente importantes e receberam
diversas respostas. Iremos agora partir da concepção de Marx para rediscutir as
teses psicanalíticas de Freud.
Marx parte do conceito de natureza humana para desenvolver sua teoria
da alienação. Trata-se de descobrir o que é a “essência humana”. O ser humano
precisa, para garantir sua sobrevivência, de satisfazer algumas necessidades:
comer, beber, dormir, amar, etc. Uma vez satisfeitas estas necessidades, o
instrumento e a forma de satisfazê-las tornam-se, elas mesmas, necessidades
(Marx e Engels, 2002).
Como o ser humano satisfaz suas necessidades? Para Marx, isto ocorre
através da mediação do trabalho. É através do trabalho que o ser humano adquire
os seus meios de sobrevivência e humaniza o mundo. Por trabalho entenda-se
todas as atividades humanas. O trabalho, neste sentido, torna-se uma
necessidade humana. O trabalho é objetivação do ser humano. Tal como Marx
colocou:
“Antes
de tudo o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que
o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a
natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural.
Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade,
braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural e numa
forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a
natureza externa a ela e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua
própria natureza. Ele desenvolve as potencialidades nela adormecidas e sujeita
o jogo de suas forças ao seu próprio domínio. Não se trata aqui das primeiras
formas instintivas, animais, de trabalho. (...). Pressupomos o trabalho numa
forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operações
semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano
com a construção de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior
arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de
construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que
já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente.
Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza,
ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina,
como lei, a espécie e o modo de sua atividade orientada a um fim, que se
manifesta como atenção durante todo o tempo de trabalho, e isso tanto mais
quanto menos esse trabalho, pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de sua
execução, atrai o trabalhador, portanto, quanto menos ele o aproveita, como
jogo de suas forças físicas e espirituais (Marx, 1988, p. 142-143)”.
O trabalho como objetivação significa, portanto, manifestação da
“essência humana”. Mas como sustentar esta tese se Marx postulou o caráter
negativo do trabalho compreendido como “alienação”? Isto se deve ao fato de que
Marx distinguia entre trabalho enquanto objetivação, no qual ele exerce sua
capacidade criadora, de trabalho enquanto alienação, no qual o ser humano se vê
subjugado por forças exteriores que o impedem de desenvolver suas
potencialidades. Trataremos da questão da alienação mais adiante.
Porém, os seres humanos não realizam o trabalho individualmente e sim
coletivamente, através da cooperação. Essa cooperação, esta associação com
outros seres humanos, torna-se também uma necessidade humana – não apenas do
ponto de vista da sobrevivência, mas também do ponto de vista afetivo e
psíquico. O ser humano se revela um ser social que, através do trabalho e da
cooperação, se humaniza e humaniza o mundo.
O que é necessidade? É algo que deve se realizar independentemente da
razão. Por conseguinte, ela é antagônica à liberdade. No entanto, tal visão é
produto de uma concepção racionalista de liberdade, na qual tudo que não é
definido, determinado e escolhido pela razão é expressão de não-liberdade. Por
isso consideramos interessante superar a concepção racionalista de liberdade e
entender por liberdade aquilo que expressa a realização das potencialidades
humanas (tanto físicas quanto mentais) e isto é determinado tanto pela
consciência/razão quanto pelas necessidades orgânicas. Neste sentido, não
existe antagonismo entre necessidade e liberdade, e, por conseguinte, a
concepção marxista não é determinista.
Para entendermos melhor isto devemos acrescentar um terceiro conceito:
o de desejo. A necessidade não é oposta ao desejo. Tal como Marx colocou,
comer, beber, dormir e amar são necessidades. Se o ser humano come, bebe,
dorme, ama, é por que deseja estas coisas. O desejo é fruto da necessidade.
Porém, não existem apenas estas necessidades (que podemos denominar
necessidades primárias), pois no próprio processo de satisfação destas
necessidades surgem novas necessidades, como o trabalho (enquanto objetivação)
e a sociabilidade. Estas últimas necessidades (que podemos denominar
necessidades secundárias) também produzem desejos, isto é, também chegam à
esfera da consciência. No entanto, tal como colocou a psicanálise, há desejos
que são reprimidos (e note-se que a repressão é do desejo e não da necessidade,
que continua subsistindo). Por isso podemos distinguir entre desejos
conscientes e desejos inconscientes, em necessidades conscientes e
inconscientes.
Marx, obviamente, não trabalhou com o conceito de inconsciente, no
sentido freudiano do termo, mas fez referências significativas que apontam para
uma pré-consciência do inconsciente. Segundo Erich Fromm, existe a abordagem do
inconsciente em Marx e Freud. O aspecto em comum de que ambos
“Acreditam
que grande parte do que o homem pensa conscientemente é determinado por forças
que operam à sua revelia, ou seja, sem o conhecimento do homem; que o homem
explica suas ações para si mesmo como sendo racionais ou morais, e que essas
racionalizações (falsa consciência, ideologia) lhes satisfazem subjetivamente.
Mas sendo impulsionado por forças que lhes são desconhecidas, o homem não está
livre. Só pode atingir a liberdade (e a saúde) adquirindo consciência dessas
forças motivadoras, ou seja, da realidade, ao invés de ser escravo de forças
cegas. A diferença fundamental entre Marx e Freud está no respectivo conceito
da natureza dessas forças que determinam o homem. Para Freud, elas são
essencialmente fisiológicas (libido) ou biológicas (instinto de morte e instinto de vida). Para Marx, são
forças históricas que atravessam uma evolução no processo de desenvolvimento
sócio-econômico do homem” (Fromm, 1979, p. 107).
Este autor acrescenta que Marx realizou algumas afirmações que apontam
para uma visão próxima de Freud, quando, por exemplo, afirmou que a sociedade
realiza uma “repressão dos desejos naturais comuns”. Fromm também reconhece as
profundas diferenças entre estes dois pensadores, pois Freud está preocupado
com o indivíduo e seu aparelho psíquico, levando em consideração seus impulsos
vitais, enquanto que Marx analisa o indivíduo enquanto ser social e a dinâmica
da sociedade, levando em consideração seus conflitos.
Mas a concepção de Marx, por ser ampla e não restrita, como muitos
pensam, abre espaço para se pensar uma pré-consciência do inconsciente. O
próprio Erich Fromm nos permite perceber isto, pois segundo ele:
“Os
conceitos de Marx e Freud não são mutuamente exclusivos, e isso precisamente
porque Marx parte dos homens, reais, vivos, e toma por base seu processo vital
real, inclusive, decerto, suas condições biológicas e fisiológicas. Marx
reconhecia a existência do impulso sexual como existindo em todas as
circunstâncias que podem ser modificadas pelas suas condições sociais, mas
apenas no que se relaciona com a forma e a direção”(Fromm, 1979, p. 108).
A ação concreta de um indivíduo é a “síntese de suas múltiplas
determinações”. Se João se alista no exército e José resolve ser um romancista,
isto se deve a um conjunto de determinações que se desenrolam no processo
histórico de vida destes indivíduos. Quais determinações? As relações
familiares, as diversas formas de relações sociais do passado, as relações
sociais em determinada comunidade e grupo social, sua situação de classe, ou
seja, o conjunto das relações sociais travadas por este indivíduo durante sua
vida.
Então o indivíduo é produto passivo das relações sociais? Não, pois o
indivíduo, desde o seu nascimento, se relaciona com o mundo de forma ativa,
buscando sua auto-realização. Mas esta busca não é arbitrária, pois existem,
além das relações sociais que lhe impõem determinados valores e objetivos que
ele torna seus, fundamentos encontrados em suas necessidades das quais tratamos
anteriormente. Quando as relações sociais reprimem a satisfação destas
necessidades, o indivíduo se encontra na impossibilidade de se auto-realizar.
Daí a luta pela auto-realização, que não é arbitrária e sim determinada pela
sociedade repressiva. A repressão, por sua vez, está ligada aos interesses da
dominação de classe e esta não produz apenas isto mas também grandes
agrupamentos humanos com situações de vida diferentes e interesses antagônicos.
O indivíduo, no seu processo de desenvolvimento vai criando, nestas
relações, seus valores, seus objetivos, enfim, seu “projeto de vida”. Portanto,
o projeto (para utilizar expressão sartreana) que comanda esta busca não brota
do vazio e sim do indivíduo histórico-concreto, que possui uma essência e esta
aponta para a liberdade, que é a objetivação.
Aqui se torna importante definir o que compreendemos por liberdade. A
liberdade numa concepção restrita é “liberdade de”, ou seja, significa estar
livre de algo (como o prisioneiro “se livra” da prisão) e numa concepção ampla
é “liberdade para”, ou seja, significa liberdade para fazer algo (agir rumo a
um objetivo). Esta concepção foi apresentada por Ernst Bloch (Cf. Bicca, 1987)
e retomada por Erich Fromm (1983). Assim, liberdade não significa “liberdade de
escolha”, pois esta pressupõe a escolha, o domínio da razão. Ora, uma vez que a
liberdade é produto da razão, tal como coloca a abordagem racionalista de
Sartre (1987; 1998), então basta o uso da razão. Mas se compreendemos a
liberdade enquanto possibilidade de manifestação da essência humana e
percebermos que esta possibilidade é restringida ou permitida pelas relações
sociais, aí temos uma visão ampliada que nos permite compreender o projeto
enquanto produto social e voltado para as relações sociais e não mera escolha
individual.
A nossa concepção de liberdade retoma a concepção marxista: “a
liberdade, para Marx, é uma espécie de superabundância criativa acima do que é
materialmente essencial, aquilo que ultrapassa a medida e se torna seu próprio
padrão” (Eagleton, 1999, p. 10). A liberdade é uma manifestação livre da natureza
humana, ou seja, a satisfação do conjunto das necessidades humanas, incluindo
as necessidades primárias – que é seu pressuposto – e o pleno desenvolvimento
de suas necessidades secundárias, a objetivação e a sociabilidade. A
não-liberdade é a impossibilidade de desenvolvimento pleno destas
necessidades-potencialidades. Determinadas relações sociais produzem a
não-liberdade e somente a superação destas é que torna possível a liberdade. A
luta pela concretização da transformação social, por sua vez, já é um esboço de
manifestação da liberdade, pois na luta os seres humanos desenvolvem novas
relações sociais, realizam a objetivação.
A auto-realização humana é obstaculizada pelo fenômeno da alienação. O
conceito de alienação em Marx tem sido interpretado de formas diferentes e
contraditórias, mas não há dúvida de que o escrito em que Marx desenvolveu este
conceito foi nos Manuscritos de Paris (Marx,
1983). Neste texto, ele irá enfatizar o que denominou trabalho alienado. O trabalho alienado ocorre quando o produtor
perde o controle do processo de produção e passa a ser controlado por outro, o
não-produtor. Neste sentido, podemos dizer que a alienação é produto da divisão
da sociedade de classes, ou seja, da divisão social do trabalho e, sendo assim,
é uma relação social (Viana, 1995).
Esta é uma interpretação divergente da maioria, pois não considera a
alienação como um problema da consciência e nem como simplesmente a perda do
produto produzido pelo trabalhador, já que estes fenômenos são conseqüências da
perda de controle do processo de produção, da instauração de uma relação de
dominação, isto é, da alienação.
Se o trabalhador perde o controle do processo de trabalho, então perde
o controle do produto do trabalho e passa a ver este com estranhamento. Estas
são conseqüências da alienação, que é a fonte da exploração e do fetichismo
(estranhamento). Por conseguinte, o elemento fundamental aqui é a direção do
não-trabalhador sobre o processo de trabalho e a questão da perda do produto e
seus efeitos na consciência são apenas conseqüências deste processo.
Para Marx, a perda do produto do trabalho é apenas resultado do
trabalho alienado, ou seja, o ponto de partida é a atividade que se torna
alienada, o trabalho se torna alienado, o que significa dizer que ele deixa de
ser atividade vital consciente e se torna atividade dirigida por outros.
Segundo Marx, “a atividade vital consciente distingue o homem da atividade
vital dos animais”; “o trabalho alienado inverte a relação, pois o homem, sendo
um ser autoconsciente, faz de sua atividade vital, de seu ser, unicamente um
meio para sua existência” (Marx, 1983, p. 96). Decorrente disto, surge a
propriedade privada, ou seja, a apropriação do resultado do trabalho, pois o
não-produtor ao dirigir o processo de trabalho também irá dirigir o destino do
seu produto. Marx diz que a análise do conceito de propriedade privada “mostra
que, embora a propriedade privada pareça ser a base e causa do trabalho
alienado, é antes uma conseqüência dele” (Marx, 1983, p. 99). A conseqüência
disso é que o produto aparecerá ao trabalhador como algo estranho a ele: “o
objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe opõe como um ser
alienado, como uma força independente do produtor” (Marx, 1983, p. 96).
Podemos, agora, recapitular o que discutimos até aqui. Há, em Marx,
uma pré-consciência do inconsciente. Há também a idéia de que o ser humano
necessita da liberdade, ou seja, ele é um ser consciente que precisa
desenvolver suas potencialidades, o que leva a busca da liberdade e isto só
pode ocorrer através de uma ação que já é, em si, liberdade (práxis, atividade consciente e
teleológica, um projeto). A liberdade, para Marx, é a essência humana:
“A
liberdade é a tal ponto a essência do homem que mesmo seus opositores o
reconhecem, posto que a combatem; querem apropriar-se da jóia mais cara, que
eles não consideram a jóia da natureza humana. Ninguém luta contra a liberdade;
no máximo, luta-se contra a liberdade dos outros. Por isso todos os tipos de
liberdade existiram sempre, às vezes como uma prerrogativa particular, outras
como um direito geral” (Marx,1980, p. 34).
Aqui reencontramos a idéia de projeto e de liberdade humana. Na
perspectiva marxista, a liberdade é manifestação da essência humana. Quando
esta essência está impossibilitada de se realizar plenamente, quando alguns –
os dominantes – lutam contra a liberdade dos outros, é necessário o engajamento
na luta pela libertação, no projeto libertário de emancipação humana. No
entanto, a conquista da liberdade pressupõe não apenas desejo mas a
transformação social, a superação da sociedade repressiva. O processo de
emancipação humana é um processo no qual os seres humanos abandonam suas
ilusões e superam a alienação e passam a autogerir suas concepções, suas lutas,
de forma autoconsciente. Esta autoconsciência é o projeto de libertação humana
e de liberdade. Este projeto quando mobiliza os seres humanos já é uma
manifestação da liberdade, além de ser condição para a libertação humana plena.
Assim, esta dimensão de projeto da consciência distingue a concepção de Marx da
de Freud na forma de concebê-la.
Considerações Finais
Assim, partindo da concepção de Marx, temos uma base para se pensar
uma nova psicanálise, principalmente acrescentando o método dialético e o
materialismo histórico. É claro que se acrescentássemos a contribuição dos
chamados “freudo-marxistas” (Fromm, Reich, etc.) e dos demais marxistas que
trabalharam a psicanálise, ou mesmo psicanalistas que reconheceram a
contribuição do marxismo, teríamos um universo muito mais amplo de
convergências e um material muito mais extenso de análise. O mesmo ocorreria se
também ultrapassássemos a obra de Freud para abranger a psicanálise posterior,
com seus vários desdobramentos. Analisar as relações entre marxismo e
psicanálise levando em conta não apenas os dois fundadores destas correntes
seria uma tarefa extensa, que somente através de uma obra mais volumosa poderia
ser concretizada, pois a lista de autores e temas, entre as quais a idéia de
“inconsciente coletivo” (Viana, 2002b) e sentimentos (Viana, 2004) que já
esboçamos, mas que precisam aprofundamentos, seria enorme. No entanto, nos
limitamos a pensamento de Marx, pois através dele temos a base para pensar as
relações entre marxismo e a psicanálise freudiana.
As concepções de Freud e Marx possuem divergências e convergências e
uma síntese, já tentada inúmeras vezes, pressupõe focalizar as convergências. A
condição de possibilidade de tal síntese está dada nas convergências existentes
e foi isto que buscamos demonstrar neste breve ensaio.
Referências
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[1] A expressão pré-consciência, aqui, não tem o mesmo
sentido que o pré-consciente da teoria freudiana, mas sim numa concepção
histórica no qual o desenvolvimento da consciência humana passa da
não-consciência para a consciência e tal passagem pode ser mediada por uma
pré-consciência, uma “forma embrionária” de consciência (cf. Viana, 2007).
[2] Sobre o inconsciente em Schopenhauer, Carus e
Hartmann, cf. Filloux (1966); para uma visão mais detalhada a visão de
inconsciente em Schopenhauer veja o artigo de Mello e Cacciola (1991) e, em
Nietzsche, o texto de Scarlett Marton (1991).
[3] A repressão também foi um termo que existia antes de
Freud e foi desenvolvido por ele. Tal termo foi utilizado por Schopenhauer e
pelo psicólogo Herbart, entre outros. Cf. Aricó (1984).
[4] Isto foi colocado por Erich Fromm numa linguagem
diferente: “Freud viu o homem como um sistema fechado, movido por duas forças:
a autopreservação e os impulsos sexuais. Estes últimos têm suas raízes em
processos quimiofiosiológicos que se desenrolam segundo um padrão físico. A
primeira fase aumenta a tensão e o desconforto; a segunda reduz a tensão
acumulada e, ao fazê-lo, gera aquilo que é subjetivamente sentido como
‘prazer’. O homem, é, primordialmente, um ser isolado, cujo interesse primário
reside na satisfação ótima do seu ego e do seu interesse libidinal. O homem de
Freud é homme machine,
fisiologicamente impulsionado e motivado. Mas, secundariamente, o homem também
é um ser social, porque necessita de outras pessoas para a satisfação de seus
impulsos libidinais, assim como para sua autopreservação” (Fromm, 1977, p. 43).
[5] “Há um deslocamento quando uma tendência substitui seu
objeto próprio por outro. É o mais importante mecanismo que preside ao
mecanismo do inconsciente. Ele permite aos elementos recalcados transladar sua
energia para outro modo de atualização. O deslocamento efetua-se tanto com os
desejos, quanto com as aversões (temores, ligados às reações de culpabilidade,
etc.); ele condiciona nosso equilíbrio psíquico” (Filloux, 1966, p. 79). Um
exemplo facilita a compreensão desta idéia: “as fobias dos neuróticos
explicam-se pelo deslocamento: as fobias despertadas por animais, em
particular, resultam da transferência, para o animal, de um medo cuja origem
estava ligada a um objeto muito diferente” (Filloux, 1966, p. 80).
[6] “O id obedece ao inexorável princípio de prazer”
(Freud, 1978a, p. 239).
[7] Tal como colocou Marcuse: “O marxismo soviético (isto
é: o leninismo, o stalinismo e as tendências pós-estalinistas), não é apenas
uma ideologia promulgada pelo Kremlin para racionalizar e justificar sua
política, mas sim reflete as várias formas da cambiante realidade soviética. Se
tal for o caso, então a extrema pobreza e, mesmo, a desonestidade da teoria
soviética não invalidariam a importância fundamental desta última, mas
forneceriam um elemento para a explicação dos fatores que deram origem às
evidentes deficiências teóricas” (Marcuse, 1969, p. 13). Infelizmente, por
questão de espaço, não iremos discutir as bases sociais do pseudomarxismo que
surgiu na Rússia e se tornou hegemônico após a implantação do capitalismo de
Estado (“socialismo real”) a partir da revolução bolchevique.
[8] O que já foi feito por vários psicanalistas, embora
não se possa concordar com suas teses em sua totalidade. Este é o caso de Reich
(1988), Fromm (1979; 1980; 1977), Schneider (1977), entre outros.
[9] Sobre isso cf. Viana, 2002b.
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Publicado originalmente em:
VIANA, Nildo. Universo Psíquico e Reprodução do Capital. Ensaios Freudo-Marxistas. São Paulo: Escuta, 2008.
Boa tarde Nildo! Havia feito a leitura no livro há algum tempo, mas lendo novamente, momentos depois, tenho maior clareza. Massa!
ResponderExcluirPorém, depois você poderia sintetizar as suas reflexões sobre a repressão em uma sociedade mais humanizada, em uma relação com a concepção marxista de natureza humana. Você havia comentado sobre o infanticídio nas sociedades indígenas ou não classistas, aonde a relação de maior dependência do ser humano em relação à natureza, gera certas representações ilusórias sobre a realidade (crenças, doutrinas e não ideologias), que mantém ainda vínculos destrutivos, contrários à essência humana. Nas sociedades de classe, a repressão atua de uma maneira diferente, até mesmo como uma mais-repressão na sociedade capitalista, dentro do trabalho alienado, relações mercantis, moral dominante etc. Assim, se eu entendi bem, a repressão em uma sociedade radicalmente diferente, pressupõe relações sociais diferentes, maneiras de lidar com os problemas psíquicos de uma maneira diferente, o que atenuaria a repressão. Então, diferente do reformismo que Freud propõe, o que está dentro de seus interesses científicos e terapêuticos de legitimação de sua ciência, o marxismo assimilando a psicanálise visa compreender o universo psíquico dentro da uma ética humanista, humanizando as relações sociais e mitigando os problemas psíquicos. O que não inviabilizaria a ocorrência de problemas sociais e psíquicos, que, em um momento ou outro, poderiam ocorrer por conta de traumas, perdas por alguma tragédia natural, problemas de doença etc. inevitáveis.
E outro comentário. Quem aponta sobre o caráter dialético da psicanálise é um autor que você indicou nas referências bibliográficas do seu artigo, Osborn, livro Psicanálise e Marxismo.
"Outro importante conceito freudiano, com notáveis implicações dialéticas, é a repressão" (p. 138). "Se nos voltarmos para a teoria freudiana da vida onírica, o seu caráter dialético pode, mais uma vez ser, ilustrado" (p. 139). No entanto, ele parte de uma concepção idealista da dialética. Anteriormente, ele utilizou Hegel para explicar a dialética e não Marx. Por conta disso, ele compreende Freud como um pensador dialético. O Erich Fromm também em outro livro (Arte de Amar), fala da lógica dialética, confundindo pensamento dialético de Hegel com método dialético em Marx. Por enquanto lembro apenas desses exemplos, mas existe essa confusão entre dialética idealista e psicanálise como sendo dialética, colocando assim Marx e Freud como semelhantes.
É isso. Obrigado.