Inconsciente Coletivo Feminino e Valores
Contraditórios na Mulher-Maravilha
Nildo
Viana
Resumo:
A
personagem Mulher-Maravilha expressa um conjunto valores e concepções perpassadas
por contradições, bem como o inconsciente coletivo feminino. Desde sua criação,
em 1941, a Mulher-Maravilha revelava o desejo de emancipação feminina,
manifestando o inconsciente coletivo feminino, o desejo da mulher de superar
seu papel na divisão social do trabalho e ethos
feminino marcado pela opressão. Ela é uma mulher forte e inteligente que possuí
superpoderes, sendo manifestação ideal do desejo reprimido coletivo das
mulheres. No entanto, ao mesmo tempo em que manifesta o inconsciente coletivo
feminino, essa personagem aparece como um misto de axiologia e axionomia, ideologema
e teorema. A evolução dessa personagem foi marcada por alterações, mas, apesar
de suas contradições, mantém-se o predomínio da axiologia e a manifestação do
inconsciente coletivo feminino.
Palavras-Chave:
Inconsciente Coletivo, Mulher-Maravilha, axiologia, axionomia, valores.
A personagem Mulher-Maravilha expressa
um conjunto de contradições e por isso revela concepções e valores opostos e
ainda o inconsciente coletivo feminino. Desde sua criação, em 1941, a
Mulher-Maravilha revelava um forte desejo de emancipação feminina, manifestando
o inconsciente coletivo, o desejo da mulher de superar seu papel na divisão social
do trabalho e ethos feminino marcado
pela opressão. O nosso objetivo é justamente identificar quais valores e
concepções se manifestam em suas histórias, bem como analisar a manifestação do
inconsciente coletivo feminino no seu universo ficcional.
Antes de iniciar, no entanto, é
necessário esclarecer alguns conceitos que utilizaremos para explicar o
universo ficcional da Mulher-Maravilha. Tais conceitos são os seguintes:
valores, axiologia, axionomia, ideologema, teorema, inconsciente coletivo. Existem
diversas definições e abordagens do conceito de valores na psicologia,
sociologia, filosofia (Viana, 2007). Não será possível realizar tal discussão
aqui e por isso nos limitaremos a apresentar a concepção da qual partimos. Os
valores são aqueles objetos, seres, etc., são importantes, significativos,
para os indivíduos. Eles não são atributos naturais das coisas, mas atribuições
que fornecemos ao que existe. Essa atribuição de importância a algo é
realizada, geralmente, através de termos valorativos como bom, belo,
importante, especial, melhor, etc.
Porém, todo indivíduo possui uma
escala de valores. Existem valores fundamentais para os indivíduos e valores
derivados. Os valores fundamentais são os que movem o indivíduo, o fazem agir e
escolher, inclusive escolher outros valores, os não-fundamentais. O primeiro é
um processo de valoração primária e o segundo de valoração secundária. Os
valores são constituídos socialmente, são produtos sociais e históricos, que
variam com época, sociedade, cultura, classe social, entre outras diferenças
sociais, e são mobilizadores, ou seja, são produtos da sociedade e atuam sobre
a sociedade. Isto, no entanto, não quer dizer que todos os valores sejam
equivalentes, não se trata de defender um “relativismo valorativo”. Existem
valores que correspondem às necessidades-potencialidades humanas, expressam a
natureza humana, enquanto que outros são expressões de interesses
histórico-particulares, voltados para reproduzir relações sociais que impedem a
manifestação da essência humana. Os primeiros são valores autênticos, como
liberdade, criatividade, sociabilidade, solidariedade, e os demais são valores
inautênticos, tal como, no caso do capitalismo, a riqueza, o poder, a
competição, etc. Assim, em determinados indivíduos, grupos, contextos, surgem
determinadas configurações de valores dominantes, que denominamos axiologia, bem como configurações de
valores autênticos, que denominamos axionomia
(Viana, 2007).
Assim, os valores são materializados
em ideias, objetos, ações e por isso podemos dizer que determinado brinquedo,
história em quadrinhos, filme, produção intelectual, são axiológicos
(manifestam os valores dominantes) ou axionômicos (manifestam os valores
autênticos). O Tio Patinhas, por exemplo, é um personagem axiológico, pois
manifesta os valores dominantes, enquanto que Robin Hood pode ser (pois depende
de como ele é retratado) um personagem axionômico.
Outros dois conceitos que utilizaremos
no presente trabalho é o de ideologema e teorema. A ideologia e a teoria são formas
de pensamento complexo que se opõe, sendo que a primeira é uma forma de falsa
consciência e a segunda uma forma de consciência correta (Viana, 2008a). A
ideologia é uma inversão da realidade, falsa consciência, que se organiza de
forma sistemática (Marx e Engels, 2002; Viana, 2010; Viana, 2008a), ou seja,
sob a forma de pensamento complexo (ciência, filosofia, teologia). A teoria é
uma expressão correta da realidade, que se organiza sobre a forma complexa, tal
como o marxismo. Porém, essas formas de pensamento complexo não podem ser
expressas em determinadas manifestações culturais e nem sempre são
compreendidas em sua complexidade. As representações cotidianas (“senso comum”)
são formas de pensamento não complexo, simples, e que, por isso, ao se deparar
com a ideologia ou a teoria, tende a simplificá-lo, a retirar aspectos e
destruir sua organicidade (Viana, 2008b). Da mesma forma, quando se busca
manifestar uma determinada concepção teórica ou ideológica numa história em
quadrinhos, filme, música, etc., não é possível reproduzir a sua complexidade e
por isso reproduz apenas aspectos, elementos isolados, fragmentos, do
pensamento complexo. Quando estes fragmentos são derivados ou coincidentes com
aspectos de produções ideológicas, são ideologemas, concepções falsas da
realidade, e quanto são derivados ou coincidentes com aspectos de produções
teóricas, são teoremas, concepções corretas da realidade.
Assim, nas HQ se manifestam axionomia,
axiologia, teoremas, ideologemas, ou seja, valores e concepções distintas. Além
disso, há a esfera do inconsciente, tanto individual quanto coletivo[1]. Não
poderemos fazer aqui uma discussão aprofundada sobre estes conceitos, e nem as
distintas abordagens deles, mas tão somente uma breve definição para facilitar
a compreensão do uso dos mesmos. Por inconsciente se entenda os desejos
autênticos reprimidos dos indivíduos e por inconsciente coletivo o conjunto de
desejos autênticos reprimidos em determinado grupo social ou mesmo a sociedade
em sua totalidade (Viana, 2002). A identificação do inconsciente individual nas
HQ é difícil de realizar, pois além da necessidade de informações sobre os
indivíduos que a produzem, ainda há o problema adicional de que geralmente é
uma produção coletiva, e, com o desenvolvimento do capitalismo, se tornou cada
vez mais coletiva, a equipe de produção assume o lugar do produtor individual,
a não ser nos casos das produções independentes e outros casos. A identificação
do inconsciente coletivo já é um pouco menos problemática e pode ser derivada
da análise do universo ficcional e sua relação com grupos sociais ou com a
sociedade como um todo (Viana, 2005).
Após esclarecer brevemente os
conceitos fundamentais para nossa análise, então podemos avançar no sentido de
analisar a personagem Mulher-Maravilha. Para realizar este propósito,
analisaremos o processo de criação da Mulher-Maravilha e a primeira história dessa
personagem.
A
Criação da Mulher-Maravilha
Wonder-Woman, ou Mulher-Maravilha, em português,
foi uma criação masculina. O psicólogo William Moulton Marston criou essa
personagem que ganhou sua primeira publicação em 1941, na Revista Al Stars Comics, número 08 (Baron-Carvais,
1989) e a partir daí teria uma carreira de sucesso. William Moulton Marston
utilizava o pseudônimo de Charles Moulton. O pseudônimo poderia ser Charles
Marston, que seria a união de um nome fictício extraído do nome do meio de
Olive Charles Byrne e o sobrenome derivado do nome do pai, mas ele preferiu
aliar ao nome fictício o prenome oriundo da mãe. Aqui, um dado que pode ter
relevância para entender o vínculo de Charles Moulton com as mulheres.
Moulton era um psicólogo renomado,
autor de alguns livros que eram referências em psicologia, tal como As Emoções em Pessoas Normais, bem como
inventor do polígrafo, o detector de mentiras. Ele nasceu em 09 de maio de 1893
e morreu em 1947 e estudou na Universidade de Harward, terminando o curso de
psicologia em 1915. Além de renomado psicólogo, era considerado um “teórico
feminista”, inventor e criador de HQ. A sua relação com as mulheres é bastante
curiosa, além da possível relação de intensidade afetiva com a mãe, que certamente
lhe desenvolveu certa sensibilidade em relação ao sexo feminino, ele era
conhecido por viver uma relação amorosa pouco convencional, que envolvia sua
esposa Elizabeth Holloway Marston e outra mulher, Olive Charles Byrne, uma
aluna dele. Essas duas mulheres são consideradas as musas inspiradoras da
Mulher-Maravilha.
A criação da Mulher-Maravilha foi
possível graças a um artigo publicado por Charles Moulton na Revista The Family Cicle intitulado Don´t Laugh at the Comics (Não Ria dos
Quadrinhos), em 1940. Neste artigo ele defendia o caráter educativo das
histórias em quadrinhos (ou seja, era o antípoda de Frederic Wertham, autor de A Sedução dos Inocentes, que afirmava
que os quadrinhos eram prejudiciais e corruptores de crianças e jovens). Graças
a isso foi contratado como consultor pela National Comics, futura DC Comics. Ele
decidiu criar o seu próprio super-herói que teria como diferencial o fato de
vencer através do amor e não da força. A sua esposa sugeriu que fosse uma
mulher. A Mulher-Maravilha seria, assim, criada, tendo duas mulheres como
inspiração (Elizabeth e Olive) e que também contribuíram com sua produção.
Em uma entrevista para Olive Byrne,
que usava o pseudônimo de Olive Richard, sob o sugestivo título “Nossas Mulheres São o Nosso Futuro”, é
possível perceber algumas intenções e objetivos de Charles Moulton com a
criação da Mulher-Maravilha. Um primeiro elemento é a época de produção da
Mulher-Maravilha, que é o primeiro ponto da matéria de Olive Richard, a II
Guerra Mundial. Nesse contexto marcado pela necessidade de homens e mulheres
fortes e que se sacrificam pela nação, temos a criação dos super-heróis (Viana,
2005), bem como o recrutamento dos já existentes heróis[2].
Olive Richard pergunta como que o
psicólogo Marston se dedicava a quadrinhos num contexto de guerra mundial,
“quando Roma pega fogo”. Essa seria a motivação da entrevista (Richard, 2011).
Moulton ao responder uma pergunta sobre se a guerra não acabará nunca e que os
homens nunca irão parar de lutar, afirma que sim, mas enquanto os homens
controlarem as mulheres. Ele afirma que a aceitação masculina do “poder
feminino do amor” é fundamental, bem como os homens de todas as idades desejam uma
mulher que seja bonita, empolgante e mais forte que eles. Ele cita a
popularidade da Mulher-Maravilha para comprovar isso, pois o público de suas
histórias é masculino. Olive Richard diz que isso é apenas produto de uma
saudade infantil da mãe protetora e seria superado na adolescência, mas Moulton
retruca dizendo que é algo permanente e na adolescência um novo desejo é
acrescentado, o adolescente passa a querer uma menina para fasciná-lo. Esse é
um anseio típico do sexo masculino que se realiza na Mulher-Maravilha. Moulton
cita novamente a pesquisa de popularidade da Mulher-Maravilha e afirma que isso
é produto do desejo subconsciente, pois ambos os sexos começam a reconhecer o
desejo de supremacia da mulher forte e amorosa e este seria o sinal mais
esperançoso da nossa época. As mulheres possuem maior poder emocional, maior
resistência às doenças, maior capacidade de suportar a dor e ocupam cada vez
mais espaço em atividades antes masculinas.
Olive Richard, na continuação da
entrevista, afirma que isso é fácil para a Mulher-Maravilha, que tem poderes
mágicos, mas não para as mulheres reais, de carne e osso. Moulton responde
dizendo que a Mulher-Maravilha é um símbolo do sexo feminino e o seu laço
mágico é um símbolo do charme feminino, com o qual consegue, jogando olhares,
gestos, etc., ao invés de uma corda, atrair o homem. Olive Richard retruca
colocando o exemplo do nazismo e a impotência das mulheres diante da guerra e
Moulton diz que Hitler, Mussolini, Roosevelt não venceram pelas forças das
armas e sim da persuasão. Richard novamente contesta: então o homem também tem
um “charme”. Moulton afirma que as mulheres não devem ficar presas no charme
masculino e devem, como a Mulher-Maravilha, romper todas as cordas e ficar
ligada ao homem apenas enquanto servir aos seus propósitos de libertação dos grilhões
que prendem o homem.
Essa longa descrição da entrevista de
Moulton a Olive Richard é para mostrar as bases conscientes e intenções do
criador da Mulher-Maravilha. Ele criou essa personagem a partir de uma intencionalidade
precisa e seu objetivo parece ser bem claro: quer colocar a mulher no centro
das decisões e assim regenerar a humanidade. As bases desse pensamento se
encontram em sua concepção de psicologia e sua psicologia do sexo feminino, bem
como sua concepção do sexo masculino.
A sua concepção de psicologia é de
caráter positivista e até mesmo fisiologista, tal como se percebe em sua invenção
do polígrafo que busca detectar mentiras a partir da medição da pressão
sanguínea, pulso, entre outros aspectos fisiológicos. Assim, partindo de sua
psicologia simplista, ele buscou criar uma concepção da mulher e do sexo
masculino, e a partir daí criou a Mulher-Maravilha. O seu detector de mentiras
foi a fonte inspiradora do laço mágico da Mulher-Maravilha, que constrange quem
estiver laçado a dizer a verdade. Dessa forma, o laço mágico expressa o que ele
denominou “charme feminino”, sua capacidade de convencer o homem a dizer o que
os indivíduos do sexo feminino querem. Através do uso do polígrafo chegou à
conclusão de que as mulheres mentem menos do que os homens. A sua tese de que
as mulheres comandando o mundo com o poder do amor padece de uma grande
ingenuidade e desconhecimento que tanto o homem quanto a mulher são
constituídos socialmente e que sinceridade, amor, afetividade, etc., não são
atributos naturais e sim socialmente desenvolvidos dependendo do contexto
social e histórico e da posição de mulheres e homens nas relações sociais[3].
Obviamente que Elizabeth Marston e
Olive Byrne tiveram influência na composição da personagem – e não apenas foram
inspirações para sua produção – e por isso certas características presentes
nela são derivadas da mentalidade e concepções destas duas mulheres. A
composição da personagem, portanto, é de Charles Moulton, mas com a colaboração
– direta, através da influência, e indireta, através da inspiração – de
Elizabeth Marston e Olive Byrne. A personagem busca simbolizar a mulher tal
como concebida por estes produtores, que eles julgam ser a representação
verdadeira da mulher e que tem um certo elemento de aproximação com a misandria
(aversão aos homens). Além disso, o contexto social e a posição dos produtores
diante de tal contexto também tem importância explicativa, pois era a época da
Segunda Guerra Mundial, considerada uma produção masculina (na entrevista concedida
por Charles Moulton a Olive Byrne, é possível observar que a responsabilização
dos indivíduos do sexo masculino pela guerra) e que precisava ser solucionada e
a mulher aparece como o sujeito que poderia concretizar isso através do “poder
do amor” e do “charme feminino”. Os homens, no fundo, teriam o desejo de serem
dominados e as mulheres, sendo superiores, deveriam dominá-los através de seus
atributos femininos e sua força.
Claro que uma coisa é a composição da
personagem e outra coisa é o seu universo ficcional, que traz diversos outros
elementos, mas deixaremos isto para os itens seguintes. Assim, a Mulher-Maravilha
é uma mulher forte, que possui um “laço mágico” com o qual pode laçar os homens
(e não só estes) e constrangê-los a dizer a verdade, e que pode substituir os
homens (uma super-heroína no lugar de um super-herói). Outra arma que ela
possui é o bracelete, com o qual ela pode se proteger “contra as balas do mundo
perverso dos homens” (Moulton afirma isso na entrevista para Olive “Richard”).
Essa composição da Mulher-Maravilha
segue as concepções psicológicas de Charles Moulton e Elizabeth Marston e suas
demais concepções sobre homens e mulheres, etc. Porém, para interpretar as
motivações não explícitas da composição da Mulher-Maravilha, é fundamental sair
da psicologia positivista que lhes inspira e utilizar os recursos da
psicanálise. A posição de Moulton a respeito das mulheres e dos homens não é
uma verdade e sim uma representação ilusória derivada de suas relações sociais
limitadas, tal como Marx já colocava[4].
Essas relações foram constituídas desde sua infância e é compartilhada por suas
duas colaboradoras (Elizabeth Marston e Olive Byrne). Porém, suas afirmações na
referida entrevista fornecem um material para análise psicanalítica, embora com
resultados preliminares mais no nível hipotético. Quando ele afirma que o
desejo de todo homem é encontrar uma mulher fascinante e protetora/dominadora,
realiza uma generalização que só tem sentido se isso for o pensamento dele, o
que revela o seu desejo, que ele naturaliza e generaliza. Caso ele não pensasse
e desejasse isso, não poderia generalizar e naturalizar, já que seria a prova
viva do contrário dessa concepção. A Mulher-Maravilha, nesse sentido, é produto
de um engano, no qual uma singularidade psíquica (e concordância e com
semelhanças com outras duas singularidades psíquicas) se projeta no mundo e
assim confunde sua idiossincrasia com a realidade.
Outra coisa que se percebe na
composição da Mulher-Maravilha é o conservadorismo político e científico de
Moulton, afinal de contas, a roupa da Mulher-Maravilha, ao estilo do Capitão
América, é inspirada na bandeira dos Estados Unidos e sua psicologia
positivista-fisiologista mostra seus limites intelectuais. Nesse contexto, a
Mulher-Maravilha deve ser vista como uma produção fictícia que reproduz os
valores dominantes, sendo axiológica. No entanto, a sensibilidade para a
questão feminina aponta para elementos axionômicos, ou seja, expressão de
valores autênticos, e a ambivalência dessa personagem é produto da ambivalência
de seus produtores. Além disso, devido o vínculo e sensibilidade com a questão
feminina do seu criador e a colaboração de duas mulheres, a Mulher-Maravilha
também manifesta desejos inconscientes, não dos homens, mas das mulheres, e por
isso, pode ser a manifestação do inconsciente coletivo feminino. Trataremos
destes aspectos a seguir, analisando o universo ficcional da Mulher-Maravilha.
A
Origem da Mulher-Maravilha
Podemos encontrar na história da
origem da Mulher-Maravilha a manifestação da axiologia, da axionomia e do
inconsciente coletivo feminino e por isso analisaremos tal história como sendo
exemplar e que se reproduz nas demais histórias que analisaremos no próximo
item. A história começa com o narrador apresentando a Mulher-Maravilha:
“Como o clamor de um trovão surge no céu a
Mulher-Maravilha, para salvar o planeta das animosidades e guerras do homem,
num mundo feito pelos homens! E que mulher! Ela tem a beleza eterna de Afrodite
e a sabedoria de Atena... Mas suas formas adoráveis ocultam a agilidade de
Mercúrio e os músculos de aço de um Hércules! Quem é a Mulher-Maravilha? Por
que ela luta pelos Estados Unidos? Para saber a resposta, vamos voltar...
Voltar à misteriosa ilha amazona chamada Ilha Paraíso! Àquela terra iluminada
de mulheres, onde foi parar a forma inconsciente de um homem... O Capitão Steve
Trevor, oficial da Inteligência do exército dos EUA que tentou impedir que um
misterioso bombardeio lançasse a morte sobre um acampamento do exército
americano. Na Ilha Paraíso, onde nunca antes um homem pusera os pés, a donzela
amazona Diana se apaixonou pelo Capitão Trevor e decidiu levá-lo de volta aos
EUA, onde o ajudaria a lutar pela liberdade, democracia e pelas mulheres de
todo o mundo”.
Aqui temos alguns elementos que
reforçam o que foi dito anteriormente. A apresentação do narrador coloca que os
homens são os responsáveis pela guerra e que a Mulher-Maravilha irá salvar o
mundo usando sua beleza, inteligência e força. A questão é por qual motivo ela
luta pelos Estados Unidos? A resposta é a paixão pelo Capitão Trevor e assim se
dedica a lutar ao lado dele pela “liberdade”, “democracia” e por “todas as
mulheres do mundo”. Aqui temos os EUA como representante da
liberdade e democracia, uma mensagem axiológica, reveladora dos valores
dominantes nos Estados Unidos, mesmo porque se trata de liberdade e democracia
formais e revela sua
missão “civilizadora”, que, no fundo, quer dizer “colonizadora”. A razão
da Mulher-Maravilha aderir à luta norte-americana também reproduz a ideia do
amor romântico como valor fundamental, sendo também axiológico.
A
história segue com a Mulher-Maravilha deixando o Capitão Trevor no hospital e
combatendo assaltantes, para depois se empregar fazendo show que reproduz a
habilidade de desviar as balas dos atiradores. Quando Trevor se recupera, ela
abandona o show e o seu “empresário” tenta fugir com o dinheiro dela, mas ela o
surpreende e o recupera. Ela troca de identidade com a enfermeira Diana Prince
ao ceder seu dinheiro e a enfermeira poder viajar e encontrar seu amado. O
Capitão Trevor escapa do hospital antes de receber alta e assume a missão de
impedir um ataque aéreo e só consegue isso jogando seu avião contra o inimigo e
a Mulher-Maravilha o salva e combate nazistas numa ilha junto com ele, e nesse combate ele
quebra uma perna e é novamente hospitalizado. No final, Diana Prince tenta persuadi-lo de que tem a ela
e ele diz que ela é doida por pensar que pode competir com a Mulher-Maravilha e
ela encerra pensando que é rival de si mesma.
A história é bem simples e mostra a
origem da Mulher-Maravilha (origem que será recontada de forma diferente e
ainda terá a complicação das diversas “Terras” – dimensões – inventadas pela DC
Comics para explicar as incoerências e contradições no universo ficcional de
seus super-heróis). Porém, é uma história axiológica. Notamos que a introdução
do narrador já mostra elementos axiológicos, mas outros podem ser encontrados. Outra
forte manifestação de axiologia é na razão de ser da ação da Mulher-Maravilha,
ela vai lutar pelos EUA devido seu amor pelo Capitão Trevor, ela abandona o show
e o dinheiro pelo mesmo motivo, assim como sua batalha contra o avião e gangue
nazistas tem a mesma motivação. A motivação das ações de uma mulher forte com
Hércules, inteligente como Atena e ágil como Mercúrio é salvar o homem amado e
fazer de sua bandeira, a bandeira dele (no caso, a dos Estados Unidos...).
Assim, ela é uma mulher livre e poderosa, mas vive em função de um homem. Aqui
temos, certamente, a manifestação da concepção de Charles Moulton, a da mulher
forte e poderosa que protege e vive em função dos homens, tal como uma mãe. O
raciocínio poderia ser o seguinte: mulheres fortes e poderosas, mas para servir
aos homens! Isso é um misto de ideologema e axiologia, concepções falsas e
valores dominantes.
Outros elementos axiológicos podem ser
vistos e complementam a observação acima. Num certo momento, quando estava
levando Trevor para os EUA em seu avião invisível, ele acorda e chama a
Mulher-Maravilha de “lindo anjo” e ela diz que é a primeira vez que um homem a
chama assim. Ao deixar Trevor no hospital, ela busca algo para “matar o tempo”
e diz que Hipólita, sua mãe, havia lhe falado muito das “roupas das mulheres
americanas” e ao olhar em vitrines, diz: “os vestidos delas tem tanto tecido...
mas nossa! Que vestido lindo!”. Antes, no entanto, o narrador havia dito: “como
toda mulher, Diana vai ver as vitrines das lojas”. A sua presença nas ruas, por
sua vez, é observada por mulheres mais velhas que a chamam de sem-vergonha e
alguns homens a chamam de “boneca” (linguajar da época para se referir a
mulheres belas). O Capitão Trevor, ao ser salvo quando seu avião cai, diz
novamente “você... o lindo anjo” e quando, hospitalizado pela segunda vez, diz
ao médico e chefe que o mérito é do “lindo anjo” ou “linda garota”.
Aqui temos novos elementos axiológicos
e ideologêmicos. O aspecto ideologêmico está na naturalização da supervaloração
da beleza por parte da mulher, quando uma amazona, vivendo em realidade social
e cultural radicalmente diferente (sem homens, sem competição, sem modas, sem a
cultura moderna-capitalista, etc.) e deveria ser também diferente nesse
aspecto. Assim, a valoração da beleza por parte da mulher, algo que é produto
histórico e social, é naturalizada, o que já rendeu o aforismo de Karl Kraus,
segundo a qual cosmética é “a teoria que a mulher tem do cosmos” (Kraus, 1988,
p. 17) ou que em qualquer situação “a mulher precisa do espelho” (Kraus, 1988,
p. 9).
Ao lado de sua naturalização, que
revela um ideologema, temos a supervaloração que é manifestação dos valores de
quem produz o universo fictício em questão. A mulher tem que ser bela, para
poder agradar ao homem, ao Capitão Trevor. Aqui, ela vive numa competição com
outras mulheres, outro ideologema. A competição se dá na rua, quando as mulheres
a criticam (“sem-vergonha”, “depravada”) por suas roupas sumárias, uma saia
acima dos joelhos (veja capa número 01 de Sensaction Comics) – o que tem a ver
com a época, antes da invenção da minissaia – e um personagem diz que “bem que
vocês queriam ter um corpo assim, não?” e se dá no final da história, quando
Trevor afirma que Diana não é páreo para a Mulher-Maravilha, sem saber que são
a mesma pessoa.
De
forma marginal, há elementos axionômicos e teorêmicos na história. Porém, estes
aspectos são não apenas marginalizados como são subordinados aos aspectos
axiológicos e ideologêmicos. Nesta história, um dos aspectos que revelam
valores autênticos, ou seja, axionomia, é a recusa do dinheiro como valor
fundamental, o seu desvalor, sendo substituído pelo amor. Quando a
Mulher-Maravilha aceita trabalhar em show mostrando sua habilidade em desviar
balas, é por necessidade (e não por ser um valor, muito menos fundamental,
sendo apenas um meio para atingir outro objetivo) e quando tem a chance de
trocar de identidade com a verdadeira enfermeira Diana Prince, oferece dinheiro
para que ela possa viajar e encontrar seu amado e poder substituí-la e ficar
próxima de seu amado também. A relação com o dinheiro é axionômica, embora subordinado
ao amor romântico, ao amor pelo homem, que se torna o valor fundamental. O
aspecto teorêmico é o reconhecimento das potencialidades femininas, sua
capacidade de lutar pela justiça (embora uma concepção falsa de justiça).
Além disso tudo, há o inconsciente
coletivo. A história da Mulher-Maravilha revela o inconsciente coletivo que
expressa o desejo de liberdade, de realização e desenvolvimento das
potencialidades, de concretização da justiça, como todos os super-heróis
revelam (Viana, 2005). Porém, no caso da Mulher-Maravilha, há uma manifestação
do inconsciente coletivo feminino, ou seja, expressa determinados desejos
reprimidos das mulheres na sociedade capitalista, que revelam a especificidade
de sua opressão. A opressão feminina é marcada por uma forma específica de
repressão e coerção[5].
A opressão da mulher, entre outras coisas, produz um ethos feminino:
“A socialização feminina tende a inibir a
iniciativa, o que é uma forma de repressão, acompanhada com determinadas formas
de coagir a determinados sentimentos, valores, gostos, habilidades. O mesmo
ocorre com a socialização masculina. O que diferencia é que, além dos pontos
comuns, a formação do ethos feminino
desencadeia um conjunto de disposições, investimentos e catexia que difere do
masculino e é marcado por um quantum
de repressão maior. É possível colocar em forma de par a diferenciação do ethos
feminino e masculino: feminilidade/masculinidade; beleza/inteligência (ou
força); manifestação de sentimentos/repressão de sentimentos;
inibição/iniciativa; emoção/razão, etc., embora sejam generalizações muitas
vezes abusivas, subsistem alguns elementos de verdade em algumas destas
distinções estabelecidas devido ao processo de socialização e não devido ao
caso de ser algo natural” (Viana, 2011, p. 45).
Assim, a iniciativa, força e
inteligência são atributos femininos pouco valorados em nossa sociedade, mas
fazem parte das potencialidades femininas e se as relações sociais reprime
(dificulta, impede ou desvalora) isso, a Mulher-Maravilha realiza
imaginariamente essas potencialidades de forma completa e superior aos
homens. A Mulher-Maravilha não fica
submissa a nenhum homem. Pelo contrário, combate ladrões e nazistas, e, quando
é trapaceada, tal como no caso do empresário que tentou fugir com seu dinheiro,
ela mesma reagiu e conseguiu reaver o seu dinheiro. Até mesmo o Capitão Trevor,
seu amado, precisava de seu auxílio. Assim, iniciativa, independência,
habilidades, que geralmente são atribuídas aos homens, mas fazem parte das
potencialidades femininas, se manifestam de forma heroica e sobre-humana com a
Mulher-Maravilha, expressando o inconsciente coletivo feminino. Apesar das
primeiras histórias serem produzidas por Charles Moulton, um homem, devido sua
sensibilidade em relação à questão feminina, por um lado, e a influência de
Elizabeth Marston e Olive Byrne, tornou-se possível a manifestação do
inconsciente coletivo na criação e nas histórias dessa personagem. Isso, no
entanto, vai se alterar relativamente com a passagem da criação das histórias
da personagem para outros responsáveis, mas, mesmo nesse caso, ainda se mantém
resquícios que podem ser considerados manifestação de inconsciente coletivo.
Considerações
Finais
O
que se vê na Mulher-Maravilha, desde sua primeira história, é uma mulher forte
e inteligente que possuía superpoderes, sendo manifestação ideal do desejo
reprimido coletivo das mulheres. No entanto, ao mesmo tempo em que manifestava
o inconsciente coletivo feminino, essa personagem aparecia como um misto de
axiologia e axionomia, valores dominantes e valores autênticos, tal como no
caso do seu uniforme e objetivo inicial, lutar pelos Estados Unidos na Segunda
Guerra Mundial e recusar o dinheiro como valor fundamental, expressando os dois
tipos de valores simultaneamente.
Apesar de manifestar valores
contraditórios, há o predomínio da axiologia e por isso a axionomia é
subordinada, juntamente com o inconsciente coletivo nas histórias da
Mulher-Maravilha. A evolução da personagem promoveu alterações em vários
sentidos, mas a manifestação do inconsciente coletivo feminino e predomínio da
axiologia, permaneceram, sendo que o primeiro elemento sempre foi o atrativo do
público feminino desta super-heroína.
As mudanças na personagem estavam
relacionadas com o processo histórico, as mudanças sociais, os responsáveis por
sua produção, entre outras determinações. Após a morte de Charles Moulton, em
1947, as suas histórias passaram a ter outra dinâmica e perdeu o caráter mais
militante a favor das causas femininas. As versões seguintes promoveram
mudanças na roupa, nas formas desenhadas, na origem da personagem – o que fica
mais complicado com a confusão da DC Comics com suas diversas “Terras” – entre
outros aspectos.
Estas mutações poderão serão
analisadas em outra oportunidade, quando o objetivo será a evolução histórica
da Mulher-Maravilha. Por agora, basta exemplificar que, nos anos 2000, o
desenho segue a dinâmica da época, e a adequação ao padrão dominante de beleza
com traços mais realistas e bem delineados (seguindo a forma inaugurada pela
Image Comics e suas super-heróinas), o politicamente correto e engajamento
político moderado de acordo com o público adulto das suas histórias em
quadrinhos, entre outros aspectos, são algumas das mutações visíveis em sua
última versão.
Porém, o caráter axiológico e
ideologêmico continuam hegemônicos em suas histórias, da mesma forma que
subterraneamente o inconsciente coletivo feminino continua se manifestando, com
poucos elementos axionômicos e teorêmicos, cada vez mais raros e mais
confundidos com os seus pares opostos. Assim, a Mulher-Maravilha é um poço de
contradições e manifestação do inconsciente coletivo feminino, até que surja
uma super-heroína que rompa com os aspectos axiológicos e ideologêmicos,
abrindo a possibilidade de uma autêntica e completa libertação imaginária da
mulher, um reforço na luta por sua libertação real.
Referências
Baron-Carvais, Annie. La Historieta. México, FCE, 1989.
Kraus, Karl. Ditos e Desditos. São Paulo,
Brasiliense, 1988.
Marx, Karl e Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo, Hucitec, 2002.
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edição, São Paulo, Perspectiva, 1988.
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agosto de 1942. Disponível em: http://www.wonderwoman-online.com/articles/fc-marston.html acessado em:
25/06/2011.
Viana, Nildo. Cérebro e Ideologia. Uma Crítica das Ideologias do Cérebro.
Jundiaí, Paco, 2010.
VIANA, Nildo. Emancipação
Feminina e Emancipação Humana. Revista Espaço Acadêmico (UEM), v. IX, p.
1-10, Abril de 2010. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/viewFile/9767/5466
acessado em: 26/06/2011.
Viana, Nildo. Heróis e Super-Heróis no Mundo dos
Quadrinhos. Rio de Janeiro, Achiamé, 2005.
Viana, Nildo. Inconsciente Coletivo e Materialismo
Histórico. Goiânia, Edições Germinal, 2002.
Viana,
Nildo. Método Dialético e
Questão da Mulher.
In: VIANA, Nildo (org.). A Questão da
Mulher. Opressão, Trabalho e Violência.
Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2006.
Viana, Nildo. O Que é o Marxismo? Rio de Janeiro, Elo,
2008a.
Viana, Nildo. Os Valores na Sociedade Moderna.
Brasília, Thesaurus, 2007
Viana, Nildo. Senso Comum, Representações Sociais e
Representações Cotidianas. Bauru, Edusc, 2008b.
Viana, Nildo. Universo Psíquico e Reprodução do Capital. Ensaios
Freudo-Marxistas. São Paulo, Escuta, 2008c.
Publicado originalmente em:
VIANA, Nildo. Inconsciente Coletivo Feminino e Valores Contraditórios na
Mulher-Maravilha. Anais do I Encontro Nacional de Estudos Sobre Quadrinhos e
Cultura Pop. Recife, UFPE, 2011.
Republicado em:
VIANA, Nildo. Inconsciente Coletivo Feminino e Valores Contraditórios na
Mulher-Maravilha. BRAGA JR, Amaro. X.; SILVA, Valéria F. (Orgs.). Representações do Feminino nas Histórias em
Quadrinhos. Maceió: EDUFAL, 2015. ISBN 978-85-7177-836-8
[1] Estes são conceitos de origem
psicanalítica. Obviamente que existem várias tendências dentro da psicanálise,
a que trabalhamos é a que une psicanálise e materialismo histórico, e pode ser
vista em: Viana, 2008c; Viana, 2002. Alguns autores são importantes nessa
abordagem, tanto no que se refere ao materialismo histórico, tais como Marx,
Labriola, Korsch, entre outros – e que se distancia do pseudomarxismo de Lênin,
Trotsky, Stálin e semelhantes; quanto da psicanálise, tais como Freud, Fromm,
Reich, entre outros.
[2] Sobre a distinção entre heróis e
super-heróis, e dos gêneros de aventura e super-aventura, cf. Viana, 2005.
[3] Um estudo interessante sobre isso,
apesar dos objetivos da obra, é o da antropóloga Margareth Mead (1988).
[4] “As representações que estes indivíduos
elaboram são representações a respeito de sua relação com a natureza, ou sobre
suas mútuas relações, ou a respeito de sua própria natureza. É evidente que, em
todos estes casos, estas representações são a expressão consciente – real ou
ilusória – de suas verdadeiras relações e atividades, de sua produção, de seu
intercâmbio, de sua organização política e social. A suposição oposta é apenas
possível quando se pressupõe fora do espírito de indivíduos reais,
materialmente condicionados, um outro espírito à parte. Se a expressão
consciente das relações reais deste indivíduo é ilusória, se em suas
representações põem a realidade de cabeça para baixo, isto é consequência de
seu modo de atividade material limitado e das suas relações sociais limitadas
que daí resultaram” (Marx & Engels, 2002, p. 36). Cf. também: Viana,
2008b.
[5] A opressão é uma
relação social entre opressores e oprimidos, onde o opressor realiza a repressão
e coerção em relação ao oprimido. A repressão busca impedir e a coerção
incentivar determinados comportamentos, valores, ideias, etc. (Viana, 2006;
Viana, 2011).
Existe um filme sobre tudo isso! Quando leio que um filme será baseado em fatos reais, automaticamente chama a minha atenção, adoro ver como os adaptam para a tela grande. Particularmente Professor Marston e as mulheres maravilha, sem dúvida o melhor filme de drama, adorei este filme. A história é impactante, sempre falei que a realidade supera a ficção. Interessante, já conhecia a historia, mas vê-lo na tela é diferente!
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