QUANDO
REINA O OPORTUNISMO
Nildo Viana
O oportunismo pode ser
compreendido como a prática de tomar decisões e executar ações de acordo com a
oportunidade, passando por cima de princípios, normas, ética, moral, para
atender interesses próprios. Isso pode ocorrer tanto no plano individual quanto
coletivo. Isso é mais visível na política institucional, tal como no caso dos
governos, parlamentos, partidos, etc. O encaminhamento do pedido de Impeachment
de Dilma Roussef é um exemplo de oportunismo, bem como as negociações do
governo para impedir esse processo. A política institucional é o reino do
oportunismo.
Contudo, o oportunismo não está apenas na política
institucional. Está na vida cotidiana, nas instituições, nos movimentos
sociais, etc. No fundo, sempre existiram oportunistas em todos os lugares.
Porém, na sociedade brasileira atual, estamos vivendo a era de ouro do
oportunismo. O oportunismo deixou de ser apenas dominante na política
institucional, mas agora é, ele mesmo, uma política estatal e, ainda por cima, praticado
desavergonhadamente por todos os seus agentes (todos os partidos, indivíduos, etc.).
Como política estatal, o oportunismo foi incentivado na sociedade civil e nos
movimentos sociais pela cooptação orquestrada pelo governo petista. O despudor
em sua prática agora é possível por sua legitimação conquistada via sua
generalização na sociedade civil. Afinal, no reino do oportunismo, não há
nenhum problema nas práticas oportunistas.
O oportunismo se
reproduz na política institucional cada vez mais explicitamente. Cunha se
posiciona diante do impeachment de
Dilma de acordo com os seus interesses pessoais, que remente a conchavos com os
dois lados oportunistas. O PT defendia ou atacava Cunha de acordo com a
oportunidade e posição deste diante do impeachment.
Esse processo atinge graus elevados em certas instituições,
tal como as universidades. O interesse pessoal fica acima de qualquer outro
critério. Nem a ética, nem os regulamentos, são levados em consideração. Aliás,
não deixa de ser curioso como é prática comum passar por cima de editais,
regimentos, decisões coletivas, etc., de acordo com o oportunismo. Os
oportunistas não têm princípios, ética, moral, etc. O pior de tudo é que os
estudantes, que deveriam ser o setor mais avançado e ético nas universidades,
estão cedendo cada vez mais ao oportunismo.
O oportunismo passa por cima de qualquer compromisso. Os intelectuais
oportunistas abandonam qualquer compromisso com a verdade. É por isso que além
de ideologias dominam os meios intelectuais e acadêmicos, como também ideias
totalmente descabidas e sem sentido acabam se espalhando e se tornando hegemônicas.
O oportunismo intelectual, que sempre existiu, torna-se quase uma lei no mundo
intelectual, atingindo os progressistas que passam a reproduzi-lo de forma
oportunista.
As razões do oportunismo reinante é uma união de supremacia
da mentalidade burguesa (competitiva, mercantil e burocrática) ao lado da nova
hegemonia das ideologias pós-estruturalistas e neoliberais, marcadas pelo
neoindividualismo, hedonismo, irracionalismo, etc. Esse predomínio do
oportunismo, em pleno acordo com as relações sociais capitalistas, começa a se tornar mais explícito e percebido
por grande parte da população, sendo apenas um sintoma
do início de um período de desestabilização do capitalismo neoliberal (dominado
pelo regime de acumulação integral). Esse sintoma marca um processo de
desmascaramento do bloco dominante e do bloco reformista, por um lado, e dos
setores cooptados da sociedade e reprodutores da hegemonia burguesa e dos
interesses próprios aliados com os da classe dominante.
Quem luta por uma nova
sociedade não faz compromissos, não hesita em lutar contra o que é falso,
hipócrita, oportunista. Mesmo que seja apenas uma ovelha negra num mar de
ovelhas brancas, não cede ao oportunismo. A consciência do oportunismo é o
primeiro passo para a sua superação. A união daqueles que não cedem ao
oportunismo, especialmente as classes desprivilegiadas, os jovens que não cederam
aos encantos do capitalismo, os revolucionários autênticos, é fundamental para
sua superação, colaborando com a destruição de suas justificativas ideológicas,
desmascarando suas práticas e ações de acordo com interesses particulares
contra os interesses da maioria da população. No reino do oportunismo, somente
os oportunistas ganham e esses são geralmente indivíduos das classes privilegiadas
ou indivíduos das classes desprivilegiadas que querem entrar no seleto grupo dos
privilegiados ao invés de abolir a existência de privilégios. A desestabilização e a crise abrem uma nova etapa para o oportunismo: a da sobrevivência dos mais aptos, pois com a diminuição dos recursos, diminuem o espaço para os oportunistas. São nesses momentos que a superação do oportunismo se torna uma tendência mais forte, pois ao lado do abandono compulsório do oportunismo há um avanço das lutas dos trabalhadores. Alguns oportunistas pulam do barco antes dele afundar. Esse é o atual momento da sociedade brasileira.
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