A cidade sem Estado
Durante dois meses, a Comuna de Paris envolveu 1 milhão de habitantes em práticas de autogestão generalizada
Nildo Viana
1/11/2015
- Primeira tentativa de revolução e autogestão de trabalhadores, a Comuna de Paris (1871) foi recebida com entusiasmo pelos mais famosos teóricos do comunismo e do anarquismo: de Marx e Bakunin a Kropotkin, Rosa Luxemburgo, Kautsky, Lênin, Trotsky, Korsch e Lefebvre. Ainda hoje, historiadores e sociólogos se dedicam ao estudo daquele acontecimento, que terminou com um banho de sangue: foram 20 mil operários fuzilados. Apesar da derrota e do fim trágico, o episódio se tornou uma das mais persistentes fontes de inspiração de movimentos contestadores. Entender a Comuna de Paris é entender um dos capítulos mais importantes da modernidade e dos movimentos operário e comunista.O desenvolvimento industrial emergente na França, especialmente em Paris, formava uma classe operária em convivência com vários outros trabalhadores do campo e da cidade, como camponeses, artesãos e comerciários. Ao mesmo tempo, a constituição do Estado bonapartista, o regime monárquico instaurado pelo golpe de Estado por Napoleão III (1852-1870), criou uma enorme máquina burocrática. As péssimas condições de trabalho, a intensa exploração dos trabalhadores e as formas precárias de vida geravam crescente insatisfação. Na época, o movimento e a cultura socialista já tinham grande presença nos meios operários, e sua proposta de transformação social provocava temor entre os poderosos.Em julho de 1870, eclodiu a guerra franco-alemã, fruto de uma disputa antiga entre os grandes impérios francês e prussiano, em batalhas que bateram às portas de Paris. A força superior dos alemães e sua vitória iminente levaram à capitulação do governo francês. A população parisiense, no entanto, ergueu-se em resistência por meio da guarda nacional e de outros setores, tais como os operários, que receberam armas para enfrentar o exército inimigo. Esse processo ficou conhecido, através da pena de Karl Marx, como “o povo em armas”. A partir de então, os trabalhadores não apenas organizaram milícias operárias, como também começaram a tarefa de reorganizar a sociedade por conta própria, sem um aparato burocrático central comandado por dirigentes estatais. Era o processo de abolição do Estado e de autogestão da cidade de Paris.Leia o texto completo na edição de novembro, nas bancas.
- http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/a-cidade-sem-estado
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