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sábado, 20 de dezembro de 2025

POSFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO DE "HERÓIS E SUPER-HERÓIS NO MUNDO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS"


 Texto de atualização para os que possuem as edições anteriores da obra "Heróis e Super-Heróis no Mundo dos Quadrinhos".

POSFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO

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A reedição do presente livro depois de quase vinte anos depois mostra que a reflexão sobre o mundo dos super-heróis é não somente atual, como precisa avançar e se desenvolver. Nascido como um artigo e depois transformado em livro, a presente obra tematiza a questão dos heróis e super-heróis como manifestação cultural, focalizando seu caráter axiológico e como manifestação do inconsciente coletivo. Quando foi publicado originalmente como artigo, em 2001, foi a minha primeira abordagem sobre o gênero da superaventura e significou o início de diversas pesquisas sobre histórias em quadrinhos.

A presente edição sofreu revisão formal, alguns poucos acréscimos de parágrafos e notas de rodapé, revisão lexical, atualização bibliográfica. Alguns equívocos informacionais e problemas formais foram resolvidos. Resolvemos acrescentar também um outro artigo, como anexo, pois trata da mesma temática dessa obra, mas aborda uma personagem específica, a Mulher-Maravilha, super-heroína da DC Comics. O texto analisa a questão do inconsciente coletivo feminino e da ambiguidade de valores transmitidos por esta personagem, sendo um bom complemento à discussão mais geral e teórica abordada no presente livro. Esse artigo foi publicado originalmente nos Anais do I Encontro Nacional de Estudos Sobre Quadrinhos e Cultura Pop, realizado na UFPE (Universidade Federal do Pernambuco, em Recife, no ano de 2011 e foi republicado em obra organizada por Amaro Braga Jr. e Valéria F. Silva, intitulada “Representações do Feminino nas Histórias em Quadrinhos”, publicada em Maceió, pela EDUFAL (Editora da Universidade Federal de Alagoas), em 2015. Assim como os capítulos do livro, o artigo recebeu revisão formal e lexical, alguns poucos acréscimos e atualização bibliográfica.

O conjunto dos textos aqui apresentados enfatiza a questão da axiologia e do inconsciente coletivo nos gêneros aventura e superaventura, mostrando, por um lado, aquilo que é consciente e intencional na produção quadrinística nesses gêneros, que é o seu lado predominantemente conservador e, por outro, aquilo que é manifestação inconsciente e que expressa o que é contestador, pois mostra os anelos dos seres humanos (incluindo os quadrinistas) por liberdade.

A presente edição não realizou grandes alterações. Apenas alguns poucos parágrafos e notas de rodapé foram acrescentadas. Além disso, a revisão formal resolveu alguns problemas. Uma outra modificação que merece ser citada e que assume importância para quem acompanha minhas obras, é a revisão lexical, que sempre foi um cuidado e a evolução do meu pensamento posterior fez rever o uso de certos termos. Além de um maior cuidado com a expressão “ideologia” e seus derivados, alguns termos foram substituídos, como, por exemplo, a palavra “desejo”, que foi substituída por “anelo”. A razão da substituição se deve à evolução do meu pensamento e a distinção, que ficou mais clara com as pesquisas e produções posteriores, entre “necessidade” e “desejo”. A expressão “desejo” (que tem como uma de suas fontes o pensamento de Freud, ao tratar dos “desejos reprimidos”) acabou sendo assimilada por determinadas ideologias e se tornou um problema e por isso, para esclarecimento intelectual e evitar confusões interpretativas, o termo “anelo” acaba sendo mais preciso e remete para as questões das necessidades humanas, se distinguindo dos meros “desejos”. As necessidades, como diz o nome, são elementos necessários para os seres humanos (tanto as necessidades primárias, que o ser humano compartilha com os animais – comer, beber, reproduzir, etc. – quanto as secundárias, que são especificamente humanas – socialidade e práxis), e os desejos são produtos sociais e históricos vinculados a uma época e sociedade, sendo, em sua maioria, contraditórios com a essência humana (ou seja, em relação às necessidades radicais – que são as primárias e secundárias). O indivíduo pode desejar comprar roupa nova toda semana ou pode desejar viajar para rever os pais por causa de saudade, mas apenas no segundo caso isso pode ser um anelo, ou seja, um anseio vinculado às necessidades psíquicas (vinculado ao sentimento de saudade) e condizente com a necessidade de socialidade.

Outra mudança lexical se encontra no título da presente obra. O título original do livro era “Heróis e Super-Heróis no Mundo dos Quadrinhos”. Agora o título coloca “no mundo das histórias em quadrinhos”. Infelizmente o título ficou mais extenso, mas se tornou uma necessidade por causa da precisão conceitual adquirida após pesquisas e reflexões. O termo “quadrinhos” é impreciso e trata mais da forma do que do conteúdo. Quando escrevemos um artigo intitulado “As Histórias em Quadrinhos como Forma de Arte[1], distinguimos “quadrinhos” e “histórias em quadrinhos”. Quadrinhos é apenas o uso de aspectos formais das histórias em quadrinhos, como os quadros, balões de diálogo e pensamento, onomatopeias, etc. Assim, se uma empresa contrata um desenhista para fazer um trabalho de usar esses aspectos formais para fazer propaganda de suas mercadorias (ou então, como já ocorreu efetivamente, se usa personagens existentes, como a Turma da Mônica, para propaganda educacional), não se trata de histórias em quadrinhos, de ficção, de arte. Para esse uso, o termo “quadrinhos” é aceitável. Agora, para o mundo ficcional é necessário o uso do termo “histórias em quadrinhos”. Esse é o motivo da mudança do título da presente obra[2].

Esperamos que essa nova edição consiga o mesmo espaço que a anterior, ou até mais, pois agora o processo de distribuição está mais eficiente. As reflexões apresentadas continuam atuais e, embora após o seu lançamento surgiram outras contribuições que exploraram aspectos aqui trabalhados, elas ajudam a pensar as histórias em quadrinhos como produtos culturais complexos, que envolvem valores, ideias, manifestações psíquicas, e os conceitos de axiologia, axionomia, ideologema, inconsciente coletivo, são importantes para entender esse complexo fenômeno cultural que são as histórias em quadrinhos.

Apesar da presente obra lançar vários elementos para se pensar as histórias em quadrinhos, ainda há muitos outros aspectos a serem trabalhados e já esboçamos alguns deles em outras obras, mas muitos ainda precisam ser englobados e outros precisam ser aprofundados. Esperamos que o leitor possa extrair da leitura da presente obra novas reflexões e realizar novas relações com outras produções quadrinística e casos concretos. Se proporcionar isso, já é um passo importante e cumpre com um dos seus objetivos. Enquanto lançamos a presente obra já olhamos para o horizonte de possibilidades para dar os próximos passos na pesquisa sobre histórias em quadrinhos e assim oferecer novas contribuições com a análise desse fenômeno cultural de suma importância na história cultural da modernidade.

 

Nildo Viana

26/02/2024



[1] Essa questão tem uma outra reflexão teórica que a antecedeu, que é uma reflexão sobre o conceito de arte, obra de arte e esfera artística. Porém, evitaremos citar mais obras no presente posfácio.

[2] E isso fatalmente vai ocorrer na reedição de outra obra, “Quadrinhos e Crítica Social: O Universo Ficcional de Ferdinando” (Rio de Janeiro, Azougue, 2013), pois a mesma substituição ocorrerá.


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