Rádio Germinal

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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Coraline ou a Concepção "Adultocêntrica" da Infância - Nildo Viana

Coraline ou a Concepção Adultocêntrica da Infância



Por Nildo Viana







O filme Coraline e o Mundo Secreto, Henry Selick (EUA, 2009), mostra uma garotinha mal humorada, com pais sempre ocupados, vizinhos estranhos, e isso provoca o seu tédio e a busca de algo para fazer, já que a solidão e a falta de sentido tomam conta de sua vida.

A aparência e a intenção dos produtores parecia ser mostrar o mundo infantil da perspectiva de uma criança. A protagonista é uma menina que descobre um "mundo secreto" e que ninguém acredita. Neste mundo secreto, Coraline teria outra mãe e outro pai, que eram radicalmente diferentes dos seus verdadeiros pais, realizando os seus desejos, lhe dando atenção, produzindo o seu quarto como ela queria, um jardim com a imagem do seu rosto visto de forma panorâmica, um pai brincalhão, comida deliciosa feita pela mãe (ao contrário da comida intragável feita pelo pai verdadeiro). O único elemento desagradável é que nesse mundo as pessoas não possuem olhos e sim botões em seu lugar.

Esse feliz mundo secreto revela um segredo: ele é apenas uma armadilha para prender Coraline por uma entidade misteriosa que quer roubar seu amor, sua alma e seus olhos. A trama passa por este processo de tédio, descoberta do outro mundo, encantamento, desencantamento e luta para fugir dele. No final, Coraline descobre o seu erro e busca se livrar deste mundo e acaba fazendo isso, e volta para o seu lar, no mesmo mundo que lhe entediava, mas que agora está diferente, seus pais estão mais atenciosos, os vizinhos menos estranhos, etc.

Assim, o segredo do filme Coraline não é o mundo secreto que esta encontra, nem o seu próprio mundo e sim a concepção adultocêntrica por detrás de toda esta produção fictícia. Um inocente conto - que alguns podem até considerar assustador em certos aspectos - revela, no fundo, um conjunto de valores, sentimentos, ideologemas, que despertam emoções, reflexões, etc., e tudo apontando para um determinado sentido.

A grande mensagem do filme, no final das contas, é que as crianças devem ser pacientes, suportar a ausência dos pais, a falta de sentido e de atividades significativas na vida, a solidão, pois, fazendo isso, mais cedo ou mais tarde, serão recompensadas, tal como ocorre no final do filme, quando os pais super-ocupados conseguem a publicação de um catálogo de jardinagem e conseguem dinheiro para comprar as luvas que ela queria, ter tempo para brincar e cuidar de jardim. Sair desse caminho de suportar a realidade em que vive é "perigoso", palavra que aparece no filme justamente para se referir ao mundo secreto, que é, no fundo, o mundo dos desejos de Coraline. Ceder aos desejos, mesmo na imaginação, eis o “pecado”, ou eis o recado da sociedade repressiva. Aprender a aceitar as imposições da sociedade repressiva, desde a infância, pois caso contrário, suas utopias, desejos, mundos imaginários, poderão lhe destruir, fazer perder sua alma (significaria ir para o inferno? Ou seja, temos o velho tema cristão de “perder a alma”, roubada pelo diabo), perder os olhos (a cegueira, a imaginação é perigosa, pois “cega”, faz não “ver a realidade”), o “amor” (os pais e seu suposto amor, no qual o mundo do trabalho os absorve). Aceitar tudo isso para um dia ser recompensado, tal como os cristãos podem agüentar o mundo de miséria e depois ser recompensado no “reino dos céus”. Um mundo maravilhoso existe, mas só no futuro, seja o do além vida dos cristãos, seja no dia da recompensa no filme Coraline e o Mundo Secreto.

Enfim, Coraline e o Mundo Secreto é um filme infantil, mas feito por adultos. Daí a concepção adultocêntrica que lhe perpassa. Aceitar a realidade, ou seja, o princípio de realidade contra o princípio do prazer, para utilizar linguagem psicanalítica, é o fundamental, o que gera o tom moralista e até ameaçador, pois ninguém quer ter os olhos trocados por botões. Uma mensagem repressiva de uma sociedade repressiva, que desde a tenra infância tem que fazer terrorismo com as crianças. “Cresça para ter seu mundo”, mas quando crescer, será como os adultos e aí já não o irá desejar, irá estar muito ocupado com o trabalho, com o Estado e com a família e as Coralines perturbadoras.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Blog Maurício Tragtenberg - Educador Libertário



O blog "Maurício Tragtenberg - Educador Libertário" é uma ótima fonte de pesquisa para todos que querem conhecer o pensamento de Tragtenberg, pois disponibiliza diversos textos, inclusive alguns de difícil acesso, deste autor e também vários artigos sobre ele.

Maurício Tragtenberg é o mais interessante pensador brasileiro, tendo produzido obras fundamentais como Reflexões sobre o Socialismo; Burocracia e Ideologia; Administração, Poder e Ideologia; Sobre Educação, Política e Sindicalismo; A Revolução Russa, entre outros.

Clique aqui para acessar o blog.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Barão de Münchausen contra a Razão Instrumental

O filme dirigido por Terry Gilliam (o mesmo responsável pelos filmes de Monthy Pynthon), As Aventuras do Barão de Münchausen" (Inglaterra, 1988), oferece uma excelente abordagem do racionalismo e suas relações com o poder. O filme não apenas questiona a razão instrumental, mas tematiza a sua recusa da imaginação, dos sentimentos, do extraordinário e da utopia.

Ao contrário da crítica irracionalista e pós-estruturalista, o que ocorre é um questionamento não da razão em geral, mas da razão instrumental, com sua ligação com o poder e o seu conservadorismo ("realismo"), que impede a luta e a mudança, e considerando o que escapa de seu estreito domínio como ameaçador, aceitando apenas o mediano, tal como na cena do soldado que realiza feitos extraordinários e é, por isso, condenado à morte. Isto ocorre apesar do soldado estar do mesmo lado do burocrata estatal, ou seja, do poder e da "pátria", que o burocrata supostamente "representa", sendo na verdade apenas uma moeda de troca, tal como se vê em seu jogo com o Califa. A burguesia também é criticada, pois o vulcão é um inferno-fábrica comandado por Vulcano, o deus-patrão, que é chamado de "burguês mal educado" por Vênus, a deusa da beleza.

Dados do filme:
As Aventuras do Barão de Münchausen, Terry Gilliam (Inglaterra/Alemanha, 1988).

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Livro "Como Assistir um Filme?"

Acaba de ser publicado o livro "Como Assistir um Filme?". Para maiores detalhes, clique aqui.

O livro Como Assistir um Filme? busca desenvolver uma análise das formas de assistência ao filme e, ao mesmo tempo, mostrar a necessidade de uma assistência crítica. As formas de assistência são a mecânica, a contemplativa, a formalista, a projetiva e a assimiladora, além da forma ideal, que é a crítica ou a assistência como práxis.

A necessidade da superação das formas de assistência que não ultrapassam a contemplação, a observação mecânica, a projeção e o formalismo é o ponto de partida para mostrar uma outra necessidade: a assistência crítica.

Neste sentido, alguns procedimentos para a assistência são sugeridos e discutidos. Assim, a assistência crítica é apresentada em seus pressupostos e procedimentos, e tal apresentação pode servir de fio condutor para uma nova forma de assistência.

Os procedimentos apresentados para facilitar esta forma ideal de assistência são complementados por exemplos de assistência crítica, nos quais os filmes “O Gabinete do Doutor Caligari”, “No Tempo das Diligências”, “São Francisco de Assis”, “Rebelião no Século 21” e “High School Musical III” são apresentados em seu universo ficcional e sua relação com o universo social. Enfim, o livro mostra que assistir um filme não é apenas ficar olhando para uma tela e sim uma decodificação de uma mensagem, que é uma manifestação do social e sobre o social. Leia mais...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Seminário sobre "Os Valores na Sociedade Contemporânea"




Dia 18 de fevereiro, quarta-feira, 09:00, seminário "Os Valores na Sociedade Contemporânea", Nildo Viana, Faculdade de Enfermagem/USP - Universidade de São Paulo.




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