Texto de atualização para quem possui as edições anteriores dessa obra.
PREFÁCIO À TERCEIRA EDIÇÃO
A Consciência da História 17 anos depois
O que nos propomos aqui é explicar algumas reflexões sobre a obra e o momento atual. Os ensaios que compõem o livro começaram a ser escritos a partir de 1992, dentro de um contexto histórico e pessoal delimitado. Além de um processo de formação intelectual, que, avidamente lia as obras de Marx, Korsch e alguns outros, também lia o que não gostava e buscava refutar, tal como os representantes do leninismo, por um lado, e os representantes do pensamento conservador, por outro. Assim, além da afirmação sobre o que é o materialismo histórico e o método dialético e reflexões sobre seus elementos constitutivos, o leitor vai ler várias críticas ao leninismo, ao estruturalismo e outras ideologias.
Esse
é o pano de fundo dos ensaios
aqui reunidos e, em
parte, sua motivação. Por um lado, a vontade do autoesclarecimento sobre a
história, a sociedade, o materialismo histórico, o método dialético, a
revolução proletária, a autogestão, etc. e, por outro, a refutação do leninismo
e outras ideologias (especialmente uma crítica à ciência). A radicalidade das
ideias expostas nestes ensaios estava de acordo com a mentalidade de quem
escreveu, bem como estava coerente com suas principais fontes de inspiração
(Marx e Korsch), embora noutro contexto histórico e por isso podendo avançar em
certos aspectos. Já se esboçava, ao mesmo tempo, uma crítica aos novos
ideólogos que se tornariam cada vez mais influentes nos anos
e décadas seguintes, representantes do subjetivismo.
Consideramos que a evolução do nosso
pensamento não se alterou.
Não houve nenhuma
mudança drástica. O que
ocorreu, no fundo, foi desenvolvimento e aprofundamento. Algumas ideias que
aqui aparecem de forma secundária e rudimentar, como a oposição
entre o pensamento burguês e o pensamento marxista, vai,
posteriormente, ganhar obras nas quais há um desenvolvimento e aprofundamento,
através da teoria das epistemes. A radicalidade, por sua vez, não diminuiu. Ao
contrário, aumentou. Embora na presente obra exista uma crítica radical da ciência e um início de crítica ao subjetivismo, ela se torna ainda mais
profunda com o desenvolvimento das pesquisas e reflexões posteriores. Sinais de moderação qualquer leitor atento poderá ver em algumas obras
posteriores (bem como o contrário, dependendo da obra), mas também, se for
alguém que saiba efetivar uma contextualização, saberá que o contexto social
fez recuar alguns elementos para poder ter mais eficácia
social, pois um pensador revolucionário sempre se defronta com o dilema
de dizer a verdade nua e crua e o isolamento que isso provoca, por um lado, e a necessidade de comover parte da
população para essa aderir ao projeto revolucionário e a cautela que é preciso
ter com alguns setores da sociedade, isso sem falar nos obstáculos
institucionais, questões pontuais, etc. Às vezes a vontade domina e a
radicalização se expressa, às vezes a estratégia domina e se evita certa
radicalização. Porém, mesmo nas obras mais moderadas, a coerência e
radicalidade básicas se mantém, às vezes complementadas por ironias e críticas
mais sutis.
Em relação à segunda edição, que foi revista e
em alguns aspectos formais melhorada, mas ainda manteve problemas formais
(alguns meramente gramaticais e outros que já possuem mais influência no
conteúdo), realizamos nova revisão, embora
breve, pois o momento em que ocorreu foi durante um processo de
preparação de obras mais desenvolvidas que abordavam temas aqui trabalhados1. A ideia de lançar a nova edição,
que já vinha sendo solicitada e pensada há alguns anos, bem como realizar uma breve revisão, se deu nesse contexto, no qual, para realizar o
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1 Trata-se de duas obras em preparação, uma sobre análise
dialética do discurso e outro sobre dialética.
aprofundamento de diversas questões aqui levantadas
(algumas desenvolvidas razoavelmente, outras apenas citadas, algumas
esboçadas), seria necessário a releitura para recordar o estágio de pensamento e
desenvolvimento da época de sua primeira edição.
A presente edição possui, portanto, algumas alterações
formais. Além das corriqueiras, como a revisão gramatical, há algumas mudanças
em trechos, que foram reescritos para ganhar maior clareza, alguns poucos
acréscimos e uma pequena atualização bibliográfica. A dúvida em deixar a obra
como estava, alterando apenas os aspectos formais, ou atualizar completamente
foi resolvida com a opção de fazer uma breve revisão geral, sem realizar
grandes alterações. Realizar grandes alterações acabaria gerando outra obra, e
transformaria os que originalmente eram ensaios em textos mais desenvolvidos. O
leitor das edições anteriores poderá notar que a presente edição, apesar de ter
recebido uma revisão rápida e básica, resolveu alguns problemas formais que
impactam na compreensão do conteúdo, bem como alguns trechos melhorados que
facilitam a compreensão.
Nesse sentido, se passaram 17 anos da segunda edição e 27 anos da primeira edição. Como os ensaios publicados originalmente em 1997 foram escritos algum tempo antes, entre 1992 e 1995, o que significa entre 29 e 32 anos. E, apesar de tudo, continua atual. Apesar do foco não ser o paradigma subjetivista e as ideologias contemporâneas, a obra já apresenta uma crítica a alguns elementos dessas concepções (e outros elementos estarão ainda mais presentes no livro Introdução ao Materialismo Histórico, obra que foi escrita a partir dessa e foi, posteriormente, engavetada e em breve receberá uma edição). Hoje predomina o subjetivismo, o irracionalismo, o relativismo. A obra pouco aborda essas concepções e focaliza sua crítica no objetivismo, no determinismo, etc. Porém, ao lado da crítica do objetivismo e determinismo, se observa que não cai nos seus pares antinômicos. A própria ideia de uma “consciência da história” já é uma crítica do subjetivismo e seus produtos derivados. A razão disso é encontrado no fato de que o marxismo expressa uma episteme antagônica à episteme burguesa e todas as formas (paradigmas e ideologias) que essa assume, pois é um antagonismo essencial. Nesse sentido, a presente obra é um antídoto contra a episteme burguesa e suas manifestações atuais, o paradigma subjetivista hegemônico e as ideologias contemporâneas.
O materialismo histórico e o método dialético são fundamentais para a compreensão da sociedade atual e das sociedades do passado, bem como para vislumbrar a sociedade do futuro. Os ensaios aqui reunidos apontam para uma introdução geral ao materialismo histórico e ao método dialético, rompendo com suas deformações e confrontando os seus oponentes, e isso justifica sua terceira edição.

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