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sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

PREFÁCIO À TERCEIRA EDIÇÃO DE "A CONSCIÊNCIA DA HISTÓRIA"

 


Texto de atualização para quem possui as edições anteriores dessa obra.

PREFÁCIO À TERCEIRA EDIÇÃO

A Consciência da História 17 anos depois

 

         Essa nova edição de A Consciência da História vem para poder tornar novamente acessível esta obra, lançada originalmente em 1997 e reeditada em 2007. No prefácio à segunda edição, tratamos da questão da atualidade e validade da obra. A esse respeito, nada mudou e por isso não retomaremos isso aqui.

        O que nos propomos aqui é explicar algumas reflexões sobre a obra e o momento atual. Os ensaios que compõem o livro começaram a ser escritos a partir de 1992, dentro de um contexto histórico e pessoal delimitado. Além de um processo de formação intelectual, que, avidamente lia as obras de Marx, Korsch e alguns outros, também lia o que não gostava e buscava refutar, tal como os representantes do leninismo, por um lado, e os representantes do pensamento conservador, por outro. Assim, além da afirmação sobre o que é o materialismo histórico e o método dialético e reflexões sobre seus elementos constitutivos, o leitor vai ler várias críticas ao leninismo, ao estruturalismo e outras ideologias.

Esse é o pano de fundo dos ensaios aqui reunidos e, em parte, sua motivação. Por um lado, a vontade do autoesclarecimento sobre a história, a sociedade, o materialismo histórico, o método dialético, a revolução proletária, a autogestão, etc. e, por outro, a refutação do leninismo e outras ideologias (especialmente uma crítica à ciência). A radicalidade das ideias expostas nestes ensaios estava de acordo com a mentalidade de quem escreveu, bem como estava coerente com suas principais fontes de inspiração (Marx e Korsch), embora noutro contexto histórico e por isso podendo avançar em certos aspectos. Já se esboçava, ao mesmo tempo, uma crítica aos novos ideólogos que se tornariam cada vez mais influentes nos anos e décadas seguintes, representantes do subjetivismo.

Consideramos que a evolução do nosso pensamento não se alterou. Não houve nenhuma mudança drástica. O que ocorreu, no fundo, foi desenvolvimento e aprofundamento. Algumas ideias que aqui aparecem de forma secundária e rudimentar, como a oposição entre o pensamento burguês e o pensamento marxista, vai, posteriormente, ganhar obras nas quais há um desenvolvimento e aprofundamento, através da teoria das epistemes. A radicalidade, por sua vez, não diminuiu. Ao contrário, aumentou. Embora na presente obra exista uma crítica radical da ciência e um início de crítica ao subjetivismo, ela se torna ainda mais profunda com o desenvolvimento das pesquisas e reflexões posteriores. Sinais de moderação qualquer leitor atento poderá ver em algumas obras posteriores (bem como o contrário, dependendo da obra), mas também, se for alguém que saiba efetivar uma contextualização, saberá que o contexto social fez recuar alguns elementos para poder ter mais eficácia social, pois um pensador revolucionário sempre se defronta com o dilema de dizer a verdade nua e crua e o isolamento que isso provoca, por um lado, e a necessidade de comover parte da população para essa aderir ao projeto revolucionário e a cautela que é preciso ter com alguns setores da sociedade, isso sem falar nos obstáculos institucionais, questões pontuais, etc. Às vezes a vontade domina e a radicalização se expressa, às vezes a estratégia domina e se evita certa radicalização. Porém, mesmo nas obras mais moderadas, a coerência e radicalidade básicas se mantém, às vezes complementadas por ironias e críticas mais sutis.

Em relação à segunda edição, que foi revista e em alguns aspectos formais melhorada, mas ainda manteve problemas formais (alguns meramente gramaticais e outros que já possuem mais influência no conteúdo), realizamos nova revisão, embora breve, pois o momento em que ocorreu foi durante um processo de preparação de obras mais desenvolvidas que abordavam temas aqui trabalhados1. A ideia de lançar a nova edição, que vinha sendo solicitada e pensada há alguns anos, bem como realizar uma breve revisão, se deu nesse contexto, no qual, para realizar o


1 Trata-se de duas obras em preparação, uma sobre análise dialética do discurso e outro sobre dialética.


aprofundamento de diversas questões aqui levantadas (algumas desenvolvidas razoavelmente, outras apenas citadas, algumas esboçadas), seria necessário a releitura para recordar o estágio de pensamento e desenvolvimento da época de sua primeira edição.

A presente edição possui, portanto, algumas alterações formais. Além das corriqueiras, como a revisão gramatical, há algumas mudanças em trechos, que foram reescritos para ganhar maior clareza, alguns poucos acréscimos e uma pequena atualização bibliográfica. A dúvida em deixar a obra como estava, alterando apenas os aspectos formais, ou atualizar completamente foi resolvida com a opção de fazer uma breve revisão geral, sem realizar grandes alterações. Realizar grandes alterações acabaria gerando outra obra, e transformaria os que originalmente eram ensaios em textos mais desenvolvidos. O leitor das edições anteriores poderá notar que a presente edição, apesar de ter recebido uma revisão rápida e básica, resolveu alguns problemas formais que impactam na compreensão do conteúdo, bem como alguns trechos melhorados que facilitam a compreensão.

Nesse sentido, se passaram 17 anos da segunda edição e 27 anos da primeira edição. Como os ensaios publicados originalmente em 1997 foram escritos algum tempo antes, entre 1992 e 1995, o que significa entre 29 e 32 anos. E, apesar de tudo, continua atual. Apesar do foco não ser o paradigma subjetivista e as ideologias contemporâneas, a obra apresenta uma crítica a alguns elementos dessas concepções (e outros elementos estarão ainda mais presentes no livro Introdução ao Materialismo Histórico, obra que foi escrita a partir dessa e foi, posteriormente, engavetada e em breve receberá uma edição). Hoje predomina o subjetivismo, o irracionalismo, o relativismo. A obra pouco aborda essas concepções e focaliza sua crítica no objetivismo, no determinismo, etc. Porém, ao lado da crítica do objetivismo e determinismo, se observa que não cai nos seus pares antinômicos. A própria ideia de uma “consciência da história” já é uma crítica do subjetivismo e seus produtos derivados. A razão disso é encontrado no fato de que o marxismo expressa uma episteme antagônica à episteme burguesa e todas as formas (paradigmas e ideologias) que essa assume, pois é um antagonismo essencial. Nesse sentido, a presente obra é um antídoto contra a episteme burguesa e suas manifestações atuais, o paradigma subjetivista hegemônico e as ideologias contemporâneas.

O materialismo histórico e o método dialético são fundamentais para a compreensão da sociedade atual e das sociedades do passado, bem como para vislumbrar a sociedade do futuro. Os ensaios aqui reunidos apontam para uma introdução geral ao materialismo histórico e ao método dialético, rompendo com suas deformações e confrontando os seus oponentes, e isso justifica sua terceira edição.


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