Rádio Germinal

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quarta-feira, 26 de junho de 2019

Crítica Marxista da Administração


O conjunto que forma a presente coletânea responde a uma necessidade histórica no Brasil: aglutinar textos de crítica marxista da administração em suas diferentes inclinações. Grande parte da literatura que sustenta uma crítica nesses termos está dispersa em livros e artigos. Por mais importante e contributivos que sejam, essa dispersão expressa alguma dificuldade de articulação entre as diferentes produções e inclinações que compõem os marxismos que animam aquela crítica. Esta é a principal razão de ser da presente coletânea.

Acesse o livro clicando aqui.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Lançamento de livros no 19o Congresso da SBS


19º Congresso Brasileiro de Sociologia


Abaixo os livros de minha autoria ou colaboração que serão lançados no 19o Congresso Brasileiro de Sociologia (mais informações: https://www.sbs2019.sbsociologia.com.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=433).


 
O Modo de Pensar Burguês. Episteme Burguesa e Episteme Marxista
Autoria:Nildo Viana
Editora: CRV
Ano: 2018
O Modo de Pensar Burguês apresenta uma nova percepção sobre a questão das epistemes, ou seja, dos diversos modos de pensar a realidade, desenvolvidas pelos seres humanos, especialmente na sociedade capitalista. Nildo Viana busca demonstrar que o modo de pensar dos indivíduos é uma das determinações de suas ações e como as epistemes são constituídas social e historicamente, expressando interesses, valores, sentimentos, que se cristalizam e se tornam obstáculos (ou não, dependendo da episteme) para se chegar à verdade. Ao terminar de ler esta obra, os leitores serão constrangidos a pensar e refletir sobre as suas ideias e como a constituíram e que elas fazem parte de uma ampla e complexa luta cultural envolvida em disputas hegemônicas. Trata-se de obra pioneira que abre novas perspectivas para compreender a história das ideias e abre novas perspectivas para a sociologia do conhecimento, a filosofia, epistemologia, história da ciência, entre outras disciplinas.




A Mercantilização das Relações Sociais
Autoria:Nildo Viana
Editora: Appris
Ano: 2018
A mercantilização é um fenômeno real que atinge a todos na sociedade moderna. Apesar de ser "invisível" para algumas pessoas, ela é uma imposição social aos indivíduos. Estes, querendo ou não, precisam adquirir mercadorias e consumar mercancias para sobreviver na atual sociedade, bem como utilizar o cálculo mercantil e o dinheiro. O alimento, a habitação, os móveis e as roupas são mercadorias, e por isso trazem a necessidade do dinheiro. E cada vez mais, a cultura, a tecnologia e até mesmo os seres humanos (tráfico de órgãos e pessoas, venda de órgãos, a prostituição etc.) são mercantilizados. O livro “A Mercantilização das Relações Sociais” mostra as fontes, características, efeitos, desse processo. Indo além da aparência do fenômeno, tal como se observa nas concepções fetichistas do mercado, coloca suas raízes sociais e históricas e mostra os seus elementos fundamentais e como isso atinge a cultura na sociedade capitalista. 

A Teoria das Classes Sociais em Karl Marx
Autoria:Nildo Viana
Editora: Chiado
Ano: 2018
Karl Marx afirmou que “a história das sociedades tem sido até hoje a história das lutas de classes”. Assim, sua teoria da história e teoria do capitalismo possuem como eixo fundamental a luta de classes. Nildo Viana realiza o processo de resgatar a teoria das classes sociais de Marx através de uma análise rigorosa de suas obras, que são trabalhadas exaustivamente. O resultado é uma síntese que proporciona uma concepção abrangente da teoria de Marx sobre as classes sociais e sua existência na sociedade capitalista, bem como sua tendência à dissolução. Contudo, Nildo Viana, profundo conhecedor do pensamento de Marx, não se limita a expor a teoria marxista das classes sociais. O autor refuta as deformações de tal concepção e, ainda, aborda as “senectudes” (elementos inatuais) e “inconsistências” (aspectos insuficientemente desenvolvidos) da teoria deste autor. Assim, é um resgate, mas também atualização e desenvolvimento da teoria das classes de Marx.



Crítica Marxista ao Leninismo
Autoria: Gabriel Teles e Rubens Vinícius
Editora: CRV
Ano: 2019
O leitor desavisado ou ingênuo poderá incorrer em uma dúvida quanto ao título desta coletânea: é possível uma crítica marxista ao leninismo? Tal indagação, sem dúvidas, é derivada de um desenvolvimento de deformação da compreensão correta e coerente do significado do marxismo para a luta de classes no interior da sociedade capitalista. A história é contada pelos vencedores, já dizia George Orwell. O leninismo, sobretudo a partir do golpe de estado na Rússia em outubro de 1917, tornou-se sinônimo de um autêntico continuador do marxismo original (Karl Marx e Friedrich Engels). Ledo engano. Apresente coletânea visa contribuir com a divulgação e a luta cultural do marxismo revolucionário antileninista entre os militantes e pesquisadores de língua portuguesa. Trata-se de uma obra polêmica mas que encontra eco nas fileiras mais combativas daqueles que buscam a emancipação humana via revolução proletária. 









terça-feira, 18 de junho de 2019

Minicurso: Sociologia Psicanalítica e Movimentos Sociais


Minicurso: Sociologia Psicanalítica e Movimentos Sociais.
Ministrante: Nildo Viana (FCS/UFG).
V Simpósio da FCS/UFG.
Dias 11 e 12 de setembro.
17:00 - 19:00
Inscrições:
https://cienciassociais.ufg.br/e/23261-inscricoes-gratuitas-para-o-5-simposio-da-faculdade-de-ciencias-sociais-democracia-e-direitos-humanos-crises-e-conquistas

Resumo/Apresentação:


SOCIOLOGIA PSICANALÍTICA E MOVIMENTOS SOCIAIS

A psicanálise aborda, fundamentalmente, os fenômenos psíquicos individuais, embora tenha extrapolado esse limite desde que Freud abordou fenômenos coletivos. Após Freud, outros psicanalistas contribuíram com o estudo de fenômenos coletivos numa perspectiva psicanalítica. Esse é o caso de Carl Gustav Jung e o inconsciente coletivo; Alfred Adler e a vontade de poder; Eugéne Enriquez e a psicanálise do vínculo social; o chamado freudo-marxismo (Wilhelm Reich, Erich Fromm, Alfred Lorenzer, Michael Schneider, Otto Fenichel, Igor Caruso, etc.); os neofreudianos (Karen Horney, Harry Sullivan, Clara Thompson, etc.), entre diversos outros. No campo da sociologia, alguns destacados sociólogos fizeram incursões sobre a psicanálise, com destaque para Karl Mannheim, Talcott Parsons e Roger Bastide, sendo este o criador do termo “sociologia psicanalítica”. A Escola de Frankfurt colocou em suas análises a contribuição de Freud e da psicanálise ao lado das de Hegel e Marx; a Análise Institucional (Georges Lapassade, Rene Lourau, Michel Lobrot, etc.) reuniu sociologia, psicologia, Freud, Hegel, Marx, Sartre, Lukács. Assim, há um vasto campo de produções e análises na fronteira entre sociologia e psicanálise. O movimento de massas, por sua vez, desde a contribuição original de Gustave Le Bon na psicologia e de Freud na psicanálise (Psicologia de Massas e Análise do Ego), recebeu várias análises sociopsicológicas. No que se refere a sociólogos e outros cientistas sociais, os movimentos de massas inicialmente foram concebidos como sendo marcados por irracionalidade, tal como se vê na abordagem irracionalista de Hoffer e Kornhauser. Posteriormente, os movimentos sociais, propriamente ditos, receberam análises semelhantes por parte da abordagem funcionalista. A tendência posterior, especialmente com a abordagem institucionalista, foi a de enquadrá-los como marcados pela racionalidade. Mais recentemente, com a análise do ressentimento e outros processos psíquicos coletivos, a concepção meramente racionalista passou a conviver com outras análises. Nesse contexto, o objetivo do minicurso é apresentar as contribuições da sociologia psicanalítica (incluindo elementos de psicanálise) para a compreensão dos movimentos sociais. O minicurso contará com uma introdução sintética à psicanálise acompanhada de uma reflexão sobre sociologia e psicanálise e das tentativas de se realizar uma sociologia psicanalítica. Após isto, será efetivado uma discussão sobre alguns elementos de psicologia e psicanálise que buscaram tratar de fenômenos coletivos e movimentos sociais, mais especificamente. Por fim, alguns elementos da psicanálise e sociologia psicanalítica serão trabalhados a partir de sua contribuição para a análise e compreensão dos movimentos sociais.

Minicurso: Comunismo de Conselhos e Marxismo Autogestionário - Em Florianópolis/SC


Minicurso: Comunismo de conselhos e Marxismo Autogestionário. Uma Introdução.
Ministrante: Nildo Viana.
Dia: Sábado, 13 de julho de 2019.
Horário: 14 horas.
Local: UFSC, Campus Trindade - CTC.
Bloco E, Sala 004. Térreo.

Apresentação/Resumo:
A história do marxismo é longa e marcada por mutações. Da mesma forma, ela ganhou várias versões, dependendo de qual era corrente política ou intelectual que a apresentava. O minicurso “Comunismo de Conselhos e Marxismo Autogestionário” não buscará apresentar uma história do marxismo em geral, mas dois momentos dessa história, apresentando duas correntes fundamentais para a manutenção do caráter crítico-revolucionária do pensamento marxista. O comunismo de conselhos, que emerge no bojo da Revolução Alemã, e o marxismo autogestionário, que surge a partir da Rebelião Estudantil de Maio de 1968, marcam dois momentos fundamentais do marxismo e de ruptura com o pseudomarxismo. O curso apresentará, inicialmente, uma discussão geral sobre marxismo e história do marxismo e, na sequência, uma análise do comunismo de conselhos e, por fim, do marxismo autogestionário, apontando sua contribuição para compreender a realidade mundial e nacional e sua atualidade como projeto de revolução social.


segunda-feira, 17 de junho de 2019

Minicurso: Neoliberalismo e Identitarismo: Novas faces do conservadorismo


Neoliberalismo e Identitarismo: Novas faces do conservadorismo

O mundo hoje está perplexo diante do avanço do conservadorismo e de formas arcaicas de pensamento, ao lado de supostas ideias novas e progressistas que, no entanto, guardam muitas semelhanças como as ideias passadistas. Nesse torvelinho contemporâneo, há também o avanço tecnológico e o recuo das grandes ações dos trabalhadores, bem como o discurso sobre o fim das utopias. “Direita” e “esquerda” se confundem cada vez mais em ideias e práticas. Por outro lado, o avanço do irracionalismo, o elogio da ignorância, o obscurantismo religioso, a superficialidade das redes sociais virtuais, a mediocridade intelectual, completam esse quadro sombrio. Isso cria uma situação de confusão generalizada. É nesse contexto que realizaremos o curso “Neoliberalismo e Identitarismo: Novas Faces do Conservadorismo”. O objetivo do curso é buscar esclarecer o que foi obscurecido pelas ideologias e correntes de opinião e explicitar as raízes sociais desse processo, bem como mostrar as características das principais formas de conservadorismo na contemporaneidade: o conservantismo, o neoliberalismo e o identitarismo, bem como a subjugação total do pensamento progressista ao pensamento burguês.

domingo, 16 de junho de 2019

GT MOVIMENTOS SOCIAIS E PODER POLÍTICO


MOVIMENTOS SOCIAIS E PODER POLÍTICO

Incrições abertas para apresentação de comunicação em GTs do V Simpósio da FCS. Abaixo ementa do GT "Movimentos Sociais e Poder Político":


GRUPO DE TRABALHO
Movimentos Sociais e Poder Político

O tema dos movimentos sociais emerge com força nas ciências humanas a partir da década de 1960. A pesquisa sociológica, mais especificamente, vem oferecendo uma quantidade de pesquisas cada vez maior para esse fenômeno social, tanto no que se refere a questões concretas quanto análises teóricas. O Grupo de Trabalho “Movimentos Sociais e Poder Político” visa discutir múltiplos aspectos da relação entre estes dois fenômenos. Por um lado, temos os movimentos sociais, com toda a sua complexidade, que é teórica e conceitual, bem com concreta, pois existem variados movimentos sociais (negro, feminino, estudantil, ecológico, etc.) e, além disso, envolve inúmeras questões e ramificações (ideologias e representações, organizações e ações, tendências e diferenças internas, etc.). Por outro lado, o poder político é um aspecto fundamental e determinante na sociedade moderna, englobando o aparato estatal e suas políticas estatais, a questão governamental, o problema da burocracia, os regimes políticos (democracia/ditadura), os processos políticos, bem como sua complexa relação com a sociedade civil. Nesse sentido, são dois fenômenos inseparáveis no interior da sociedade capitalista, pois os movimentos sociais são um dos principais elementos da sociedade civil e que mantém uma complexa relação com o Estado, os governos, a democracia, a ditadura, as ideologias e doutrinas políticas relacionadas com o poder político, etc. Sendo assim, o GT aceitará contribuições sobre a questão dos movimentos sociais (os mais variados e com temáticas específicas e derivadas, incluindo suas ramificações), tanto pesquisas concretas quanto teóricas, e sua relação com o Estado, políticas estatais em geral e políticas públicas (sociais) mais especificamente, regimes políticos (democracia, ditadura), conflitos e disputas, entre diversos outros temas que envolvem essa complexa relação entre movimentos sociais e poder político.


Coordenação:
Nildo Viana – FCS/UFG
José Santana da Silva – UEG
Lucas Maia – IFG

Sociologia e Educação: debates necessários



Lançamento!
Título: Sociologia e Educação: debates necessários
Volume 1
Organizador: Cristiano das Neves Bodart
Ano: 2019
224 páginas
Editora Café com Sociologia.
Valor: 30 reais (+10 reais de frete) - Tratar inbox/privado
SUMÁRIO
7 Apresentação
Cristiano das Neves Bodart
CAPÍTULO 1
A Sociologia da Educação e alguns caminhos para a pesquisa contemporânea: a escola desigual e a escola democrática
Gustavo Cravo de Azevedo, Paula Britto Agliardi e Sara Esther Dias Zarucki Tabac
CAPÍTULO 2
Marxismo e Escola
Nildo Viana
CAPÍTULO 3
Paulo Freire e a Sociologia Política da Educação
Thiago Ingrassia Pereira e Carine Marcon
CAPÍTULO 4
“Programa Escola sem Partido”: reflexões sobre a cidadania e o trabalho docente
Tatiele Pereira de Souza, Beatriz Brandão e Thiago Gabriel Silva Gameiro
CAPÍTULO 5
Preocupações didáticas em compêndios de Sociologia dos anos de 1930
Cristiano Bodart e Elizandra Rodrigues da Silva
CAPÍTULO 6
Escola e formação docente: narrativas plurais
Joana Rower, Maria Alda de Sousa Alves e João Paulo Freitas Gomes
CAPÍTULO 7
Ser jovem é diferente de ser aluno: uma leitura sobre escola e juventude a partir da Sociologia da Experiência
Eduarda Bonora Kern
CAPÍTULO 8
Você deseja ser professor? Motivação e renuncia à profissão docente
Pércia Alves Silva, Andréa Giordanna Araujo e Elizabete Amorim de Almeida Melo
Agradecemos aos integrantes no Conselho Científico pela valiosa colaboração:
CONSELHO EDITORIAL E CIENTÍFICO
Ana Maria Vergne, Doutorado em Estudos Sociais e Politicos da Educaçao pela Universitat Valencia, Espanha. Professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL);
Andréia Orsato, doutora em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPL);
Arilson Oliveira, doutor em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG);
Bruno Durães, doutor em Ciências Sociais Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor de Sociologia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB);
Christian Lindberg Lopes do Nascimento, doutor em Educação Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS);
Cristiano das Neves Bodart, doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL);
Diana Cerdeira, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ);
Dirceu Benincá, doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFB);
Fernanda Feijó, doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Professora da Rede Estadual de São Paulo;
Leandro Raizer, doutor e Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Luis Flávio Godinhoo, doutorado em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB);
Maria De Assunção Lima de Paulo, doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG);
Rodrigo Diego de Souza, doutor em Educação Científica e Tecnológica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor substituto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC);
Thiago Esteves, doutorado em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Campus de Nova Iguaçu;
Thiago Fidelis, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Professor da União das Faculdades dos Grandes Lagos;
Tomás Menk, doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor Substituto da Universidade Federal de Alagoas (UFAL);
Walter Matias Lima, doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL);
Welkson Pires da Silva (Kim Pires), doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).


MEMÓRIA E SOCIEDADE: Uma Breve Discussão Teórica sobre Memória Social



MEMÓRIA E SOCIEDADE
Uma Breve Discussão Teórica sobre Memória Social


Nildo Viana*


O presente artigo visa repensar o problema da memória em sua relação com a sociedade. Esta questão, no campo sociológico, foi abordada a partir do estudo clássico de Maurice Halbwachs (1990) e foi desenvolvida por alguns outros autores. A psicologia, por sua vez, desenvolveu vários estudos sobre memória, mas em poucos casos enfatizando suas relações com a sociedade. Alguns filósofos, onde se destaca Bergson (apud. Bosi, 1995), também abordaram o problema da memória. Não pretendemos, aqui, fazer uma apresentação das várias concepções de memória mas tão-somente apresentar nossa visão deste fenômeno, o que nos levará, inevitavelmente, a discutir aspectos, utilizar elementos ou criticar outras abordagens.
A motivação deste trabalho reside na necessidade de rever a questão da memória a partir de uma perspectiva dialética, pois grande parte da produção teórica se fundamenta em postulados teórico-metodológicos positivistas. A necessidade de repensar a relação entre memória social e classes sociais também se faz presente, principalmente quando se busca produzir pesquisas que trabalham com a memória social e não se encontra uma referencial teórico que desenvolva, num sentido dialético, esta questão. A pesquisa sobre a realidade concreta necessita da teoria e esta, por sua vez, se enriquece com aquela. No presente artigo estaremos enfatizando um esclarecimento conceitual e uma discussão teórica sobre a memória social, o que contribui com o desenvolvimento de futuras pesquisas sobre casos concretos.
O Que é a Memória?
O primeiro problema na discussão da temática da memória é sua definição. O conceito de memória ainda não adquiriu uma sistematicidade, nem mesmo na esfera da psicologia, a ciência que mais se dedica a esta temática. Em primeiro lugar, caberia delimitar o campo fenomenal que consiste o que chamamos memória. A contribuição já clássica de Henri Bergson, ao descartar a memória-hábito do conceito é o primeiro elemento que devemos utilizar para realizar tal delimitação (Bosi, 1995; Halbwachs, 1990;  Filloux; 1966). A memória-hábito é uma não memória, pois quando alguém aprende a andar de bicicleta, dirigir carro, digitar no computador, ele está realizando uma repetição mecânica que não o faz apelar para as lembranças e para a mente, nem para a reflexão. Filloux coloca que o hábito é todo comportamento adquirido por aprendizado, sendo movimentos que não requerem a participação da atenção (Filloux, 1966). No entanto, consideramos uma imprecisão de Bergson a expressão memória-hábito, pois trata-se, no caso, de tão-somente hábito. Também o psicólogo Vigotski distingue esta forma de memória, que ele chama de “natural”, da memória que ele denomina “mediada” ou “indireta” (Vigotski, 1994), caindo na mesma imprecisão que Bergson, com a desvantagem de não questionar a atribuição de caráter de memória ao hábito. Filloux reconhece uma certa “colaboração” entre hábito e memória, que é a que ocorre quando se decora texto, a linguagem, etc., o que ele denomina “memória mecânica” (Filloux, 1966).
A idéia de que a memória é um “sistema vivo”, um sistema funcional geral que comanda o conjunto de atividades perceptivas, motoras e intelectuais do indivíduo”, tal como coloca Piaget, segundo Ehrlich (1979, p. 233), também é questionável. Esta concepção apresenta uma visão fetichista da memória, com um “sistema vivo” e “regulador”, o que significa transformar as lembranças e o seu processo de evocação em algo auto-suficiente, dando vida ao que pode ser considerado uma categoria, um instrumento mental, muito mais do que uma realidade concreta. No entanto, até aqui colocamos o que não é memória. Mas qual é o campo fenomenal do que chamamos memória? Segundo Filloux,
“Nosso primeiro trabalho consistirá, pois, em indicar os limites do domínio próprio da memória, que definiremos caracteristicamente por sua propriedade de unir em si o atual e o inatual e, por conseguinte, de realizar um modo ‘intemporal’ de consciência (ellenberger), uma experiência ‘em contratempo’ (Gusdorf). Poder que possui a consciência de se abstrair do presente para voltar-se para o passado, de fazer-se consciência do passado num movimento que transcende o tempo. Procuraremos tipos de lembrança que nos parecem verdadeiramente relacionados com a memória” (Filloux, 1966, p. 14).
Outra definição de memória é fornecida por Halbwachs: a memória é um conhecimento atual do passado (Halbwachs, 1990; Stoetzel, 1976). Isto significa que é, ao mesmo tempo, um saber e uma lembrança. No entanto, tanto esta quanto as demais definições são problemáticas. A memória não pode ser vista como uma cópia cronológica da história. Assim, a afirmação de Halbwachs, derivada de sua concepção de memória, se revela equivocada: “o passado não se conserva; é, sim, reconstruído a partir do presente” (apud. Filloux, 1966, p. 129). Sem dúvida, o passado não se conserva, pois já passou. É preciso distinguir entre a realidade passada e a consciência presente da realidade passada. Assim, não é o passado que é reconstruído a partir do presente e sim a consciência do passado. A memória deve ser redefinida e compreendida como consciência virtual, isto é, é uma possibilidade suscetível de se realizar, uma potencialidade existente. A memória, consciência virtual, é recuperada, restituída e interpretada pela consciência ativa, real, concreta. Desta forma, podemos dizer que na mente humana só existe o presente, só que em estado virtual ou manifesto, inativo ou ativo. A realidade passada é uma coisa, a consciência presente da realidade passada é outra coisa.
Logo, a concepção de Filloux também é problemática. Na memória não se une o atual e o inatual, mas tão-somente o atual. A consciência do passado é uma consciência atual, que recupera e trabalha a consciência virtual. O inatual existe concretamente no processo histórico mas não na mente humana, pois a consciência virtual é tão atual quanto a consciência concreta ativa. Assim, a concepção de H. Bergson também é equivocada:
“O mal da psicologia clássica, racionalista, segundo Bergson, é o de não reconhecer a existência de tudo o que está fora da consciência presente, imediata e ativa. No entanto, o papel da consciência, quando solicitada, é sobretudo o de colher e escolher, dentro do processo psíquico, justamente o que não é a consciência atual, trazendo-o à sua luz. Logo, a própria ação da consciência supõe o ‘outro’, ou seja, a existência de fenômenos e estados infraconscientes que costumam ficar à sombra. É precisamente nesse reino das sombras que se deposita o tesouro da memória” (Bosi, 1995, p. 52)
Bergson confunde os fenômenos psíquicos com os fenômenos reais. O que a consciência faz não é escolher em um depósito que seria o passado o que quer e sim uma recuperação de algo presente na mente humana. A categoria “inatual” se aplica ao passado da realidade concreta mas não à mente humana. Até mesmo a categoria “atual” é problemática e seria mais adequado utilizar a expressão “ativa” em seu lugar.
A memória sendo uma consciência virtual possui como conteúdo as lembranças e a ativação dela significa evocação de lembranças. Na mente humana existe um conjunto de lembranças guardadas na consciência virtual e somente através de sua ativação é que se tornam recordações, o que significa que muitas delas não emergem e que o processo de recordação é seletivo. Neste sentido, se torna inteligível a idéia de que a memória é seletiva (Halbwachs, 1990; Stoetzel, 1976) desde que se perceba que é o processo de recordação ou evocação de lembranças é que é seletivo e não a memória em si. No entanto, quais são os mecanismos de ativação da memória? Quais são as determinações desta seleção?
A Evocação Social das Lembranças
Os mecanismos de seleção se encontram nos valores e sentimentos dos indivíduos, bem como na pressão social e na associação de idéias. Os valores dos indivíduos são constituídos socialmente, e são o que eles consideram importante, relevante, significativo (Viana, 2002). A importância do caráter significativo foi ressaltada por Halbwachs (1990) e por Stoetzel (1976). Os valores não são atributos das coisas e sim atribuições que fornecemos a elas. Assim, nada é, intrinsecamente, feio ou belo, importante ou inútil, pois são os valores dos indivíduos ou grupos que fornecem estas atribuições. Os valores não são, por conseguinte, produtos naturais, já que não são propriedades das coisas e sim atribuições que os indivíduos e grupos fornecem às coisas. Este processo é constituído socialmente. No caso do indivíduo, é através de seu processo histórico de vida, desde de sua socialização, que ele vai produzindo os seus valores e colocando alguns como fundamentais em sua escala, que pode, inclusive, ser contraditória.
Os sentimentos também são fundamentais para a ativação da memória. O amor, o ódio, o ciúme, a inveja, a solidão, entre outros sentimentos, são elementos que constrangem os indivíduos a realizarem recordações. Os sentimentos são potencialidades que também possuem uma formação social. Eles não podem ser confundidos com emoções, pois os sentimentos não são reações momentâneas, mas sim formações mentais duradouras que caracterizam a relação afetiva do indivíduo com outros indivíduos ou coisas. Sendo uma relação, a sua fonte só pode ser social, pois só se pode amar ou odiar, para citar dois exemplos, através da relação. Com aqueles que não relacionamos, ou simplesmente desconhecemos e ignoramos ou então desprezamos. A psicanálise, embora muitas vezes de forma inintencional, apresenta a importância dos sentimentos no processo de constituição da ação humana (Viana, 2004a) e, podemos acrescentar, da ativação da memória.
Mas a memória também pode ser ativada por pressão social (necessidades profissionais, entrevistas, etc.) quando a motivação é externa ao indivíduo. Existem alguns exemplos de pressão social que são bastante comuns. Blondel coloca, por exemplo, a importância que as datas de acontecimentos históricos e políticos para as datas de ordem pessoal.
“Essas datas, que dependem da história, nos servem todas de pontos-de-referência mais ou menos seguros para situar os pormenores de nosso passado, mas algumas dentre elas, pela profundidade da repercussão que tiveram sobre nossas vidas, fazem um corte tão claro entre o que fomos antes e o que passamos a ser, que, ao primeiro lance de vista, verificamos se um acontecimento de nosso passado lhe foi ou não anterior: por exemplo, o 2 de outubro de 1914 e o 11 de novembro de 1918. No que diz respeito aos incidentes e acontecimentos de nossa própria vida, como sempre sabemos em que dia estamos, datam-se eles maquinalmente à medida que são vividos, mas a maior parte perde sua data logo em seguida ou, ao menos, muito rapidamente: guardamos raramente por mais de uma semana a lembrança da data precisa de nosso último jantar na cidade. Somente, ou quase, escapa a esse esquecimento a data dos acontecimentos que significação e valor sociais (Blondel, 1960, p. 177).
Blondel também ressalta que as datas pessoais são recordadas pela sua importância social, tal como ocorre com o aniversário, o casamento, etc. É justamente a pressão social, manifestada seja pelas exigências profissionais, civis, políticas, ou qualquer outra, ou pela importância socialmente atribuída aos fatos políticos, históricos ou acontecimentos na história de vida do indivíduo, que produz a lembrança de datas, que se tornam referências para outras lembranças. Isto revela o mecanismo da pressão social, tal como no caso do nascimento, lembrado por todos, mas apenas no que se refere a data e não ao acontecimento em si. As pessoas não lembram do seu nascimento, mas lembram da data de nascimento. A razão disso é social:
“Sabemos estas datas, nem tanto porque vivemos esses acontecimentos ou fomos deles contemporâneos, mas porque a importância a eles consagrada por nosso meio exigiu que as fixássemos definitivamente. Nada mais característico a esse propósito que a data de nosso nascimento, que é talvez, dentre todas de nossa biografia, a que conhecemos melhor, embora seja de toda evidência que não temos de nosso nascimento, absolutamente nenhuma lembrança, e, a encarar exatamente as coisas, bem seria essa data, antes que a de um acontecimento pessoal, a de um acontecimento histórico. Afinal de contas, e aqui é essencial, a maneira pela qual sabemos a data de nosso casamento, a do armistício, a de nosso nascimento e a de Waterloo, faz com que se identifiquem praticamente, para nós, e o que determina a escolha destas datas dentre todas, a quaisquer acontecimentos que se refiram, é, sempre, a importância que a coletividade lhes empresta e nos sugere ou obriga a lhes emprestar com ela” (Blondel, 1960, p. 177-178).
Também a associação de idéias acaba levando o indivíduo de uma lembrança a outra, já que a busca de reconstituição de algo acontecimento acaba gerando a recordação de outros, assim como necessidades práticas também cumprem este papel de evocação de lembranças. Neste sentido, podemos concordar com Bosi: “lembrança puxa lembrança” (Bosi, 1995, p. 39).
No entanto, abordar a memória leva, naturalmente, a discutir o problema do esquecimento. Quando a consciência ativa busca na consciência virtual algo que não consegue encontrar (um nome, uma idéia, um acontecimento) nós temos o esquecimento. A questão do esquecimento foi desenvolvida por Freud (1978), que a relacionou com a repressão. O esquecimento, em sua abordagem, seria produto da repressão. Podemos, a partir daí, pensar que o recalcamento, enquanto processo mental, produza esquecimento, isto é, dificulte a evocação de lembranças. O recalcamento é produto da repressão social, introjetada pelo indivíduo. Em casos psíquicos mais extremos, tal como em um trauma, o esquecimento pode ser um mecanismo de defesa, uma forma de evitar a lembrança do trauma. Embora Freud tenha utilizado e depois abandonado a idéia de mecanismo de defesa, substituindo-o por repressão, voltou a utilizá-lo e passou a considerar a repressão (recalcamento) como um entre vários mecanismos de defesa. A definição freudiana dos mecanismos de defesa é a luta do ego contra afetos e idéias consideradas “dolorosas” (Freud, 1982).
Sendo assim, temos aqui uma determinada relação entre memória e sociedade. A memória individual é constituída socialmente, pois os mecanismos de evocação de lembranças são de origem social. A memória individual possui sua singularidade a partir do processo histórico de vida do indivíduo que, a partir de sua inserção nas relações sociais e sua posição social, realiza a evocação de lembranças que estão em sua consciência virtual. Tanto as lembranças quanto os mecanismos de evocação são de caráter social, e isto significa que a memória individual é social. Além disso, o material que dá vida à memória também é de caráter social, tal como os signos – o que foi ressaltado por Vigotski (Vigotski, 1994; Braga, 2000) e com a mentalidade ou “formas sociais de padronização da cognição”, segundo expressão de Bartlett (apud. Santos, 2003).
A Memória Social
No entanto, este é apenas um aspecto da relação entre memória e sociedade. O outro aspecto se encontra na discussão apresentada pioneiramente por Maurice Halbwachs a respeito da memória coletiva. O caráter social da memória deixa entrever que a memória é coletiva. No entanto, a memória individual é uma manifestação singular do coletivo. É preciso perceber a singularidade da memória individual, mesmo que sua constituição tenha origem social. A memória coletiva pode se referir tanto à memória de todos os membros de uma determinada sociedade quanto à grupos sociais no seu interior. No primeiro caso, temos uma abordagem que ultrapassa a visão de Halbwachs (1990), pois ele focaliza os grupos sociais. No entanto, as lembranças coletivas, quando são evocadas, possuem os mecanismos de seleção que são de caráter social: valores, sentimentos, pressão social, etc. e, por conseguinte, sua constituição é social, tal como ocorre com o indivíduo, e possuem elementos que são constitutivos de toda uma sociedade. Assim, podemos falar de uma memória social, compreendendo por este termo a consciência social virtual em uma determinada sociedade. Assim, a evocação da origem do mundo nos mitos das sociedades simples revela esta memória social.
Porém, nas sociedades divididas em classes sociais, a memória social acaba se manifestando de forma muito mais reduzida. As classes sociais, entre outros grupos sociais, acabam criando o seu processo seletivo derivado de sua constituição própria de valores, sentimentos, etc. Assim, quando grupos oprimidos recordam Spartacus, o gladiador que liberou a rebelião escrava na Idade Antiga, isto se deve aos valores destes grupos sociais. Outros grupos sociais também acabam manifestando lembranças coletivas, expressão de sua memória social. Os grupos religiosos zelam pelo seu passado através de um conjunto de lembranças, e o mesmo ocorre com os artistas e inúmeros outros grupos sociais. Segundo Halbwachs:
“No mais, se a memória coletiva tira sua força e sua duração do fato de ter por suporte um conjunto de homens, não obstante eles são indivíduos que se lembram, enquanto membros do grupo. Dessa massa de lembranças comuns e que se apóiam uma sobre a outra, não são as mesmas que aparecerão com mais intensidade para cada um deles. Diríamos voluntariamente que cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva, que este ponto de vista muda conforme o lugar que ali eu ocupo, e que este lugar mesmo muda segundo as relações que mantenho com outros meios. Não é de admirar que, do instrumento comum, explicar essa diversidade, voltamos sempre a uma combinação de influências que são, todas, de natureza social” (Halbwachs, 1990, p. 51).
Assim, Halbwachs desenvolve alguns pontos interessantes que nos ajudam a pensar a memória social. A memória individual é uma memória constituída socialmente e a memória social é a manifestação coletiva da memória de uma sociedade ou um grupo. Mas isto não deve nos fazer perder de vista que existem uma multiplicidade de memórias, e não apenas uma “memória oficial” e uma “memória comunitária”, pois existem mais grupos sociais e um mesmo grupo social pode manifestar lembranças diferenciadas. Portelli acaba se referindo a este processo e demonstra que a memória não-oficial, no caso o da resistência ao nazismo, pode, em outro momento, se tornar oficial (Portelli, 1998). Além disso, é preciso evitar cair no romantismo, pensando que a memória dos grupos oprimidos é uma memória “não-oficial”, pois ela é perpassada pelas idéias dominantes, pela pressão social, pela contradição (Viana, 2004b)
Um dos grandes problemas da concepção de Halbwachs se encontra no peso exagerado que ele fornece para a questão do lugar e do solo em sua análise da memória coletiva. Segundo Stoetzel, “a demarcação das lembranças no solo é, seguramente, elemento capital da memória coletiva” (1976, p. 137). Muito mais importante do que o solo, são os valores, os vínculos tradicionais e sentimentais, a pressão social.
Outro problema da abordagem de Halbwachs está em sua concepção de memória como conhecimento e lembranças. A memória pode ser considerada uma parte, virtual, da consciência que é constituída por lembranças, mas não da forma como concebe Halbwachs, enquanto “o conhecimento atual do passado, isto é, enquanto consiste ao mesmo tempo num saber e em lembrança” (Stoetzel, 1976, p. 133). A memória é uma consciência virtual do passado, mas não pode ser compreendida como “conhecimento”, isto é, como saber objetivo, pois ela é sempre a consciência de um determinado indivíduo ou grupo social concreto. Neste sentido, cabe recordar Marx, para quem a “consciência não é nada mais do que o ser consciente” (Marx e Engels, 2002). A divisão social do trabalho produz classes e grupos sociais distintos que possuem sua consciência derivada das relações sociais em que são constituídos e de tudo que deriva de tais relações (valores, sentimentos, concepções, ideais, etc.). Assim, o que é “selecionado” pela memória é, predominantemente, o que é determinado pelos interesses da classe dominante e suas classes auxiliares, já que ela possui a hegemonia cultural na sociedade civil. As recordações de atos heróicos do passado são retomadas em momentos de lutas e combates, relembrando figuras heróicas, indivíduos, símbolos, etc. e utilizando-os a partir dos interesses atuais (Marx, 1986).
Outro elemento problemático da concepção de Halbwachs se encontra na suas “leis de regulação da memória coletiva”, o que revela suas raízes deitadas no solo do positivismo clássico. Estas leis são, segundo a abordagem de Halbwachs, a “lei de concentração” (na qual se localiza em um mesmo lugar acontecimentos que não possuem relação necessária); as leis de desmembramento (processo inverso ao anterior, fragmentação de lembranças por diversos lugares) e as leis de dualidade (no qual apresenta duas localizações para o mesmo fato) (Stoetzel, 1976, p. 137). Esta concepção apresenta enquanto problema a idéia de lei, o que acaba provocando uma concepção naturalizante do processo social. Mas, além disso, as leis apresentadas por Halbwachs remetem, sempre, à questão da localização, como se a memória social fosse necessariamente vinculada a um lugar. Esta vinculação existe e ocorre em muitos casos, mas não em todos e existem manifestações da memória social que não remetem a nenhuma localização, tal como uma data de nascimento (o foco é a data e é esta que é lembrada, e não o local onde o nascimento ocorreu, a não ser em casos especiais) e muitas vezes a localização é apresentada mas não possui grande importância. Por conseguinte, as leis da memória coletiva de Halbwachs são invenções científicas e não realidades concretas.
A memória social das classes e grupos sociais é seletiva, da mesma forma que a memória individual e os mecanismos de ativação, tal como já colocamos, também são os mesmos. Porém, como as classes e grupos são diferentes, os seus valores, sentimentos, etc., também são diferentes. Por conseguinte, as lembranças são diferentes. O grau de diferenciação depende de vários aspectos, mas ela existe, seja maior ou menor. A diferenciação mais ampla ocorre na esfera da divisão social de classes. As classes sociais só existem em relação uma com a outra e o antagonismo se encontra nesta relação. Por conseguinte, esta diferença assume uma diferenciação que é perpassada por interesses e por lutas. No entanto, nesta luta, a classe dominante, devido sua posição social e hegemonia cultural, vence normalmente e consegue impor as lembranças coletivas que são do seu interesse. Mas existe a resistência, que pode se manifestar de forma individual ou esporádica e que assume grandes proporções em épocas de acirramento de conflitos sociais. Este aspecto está ausente da análise de Halbwachs, simplesmente por causa de sua concepção de classes sociais. Para Halbwachs:
“As classes sociais são agrupamentos hierarquizados por excelência, que possuem uma consciência coletiva específica, apresentam graus distintos de participação no ideal comum da sociedade em que estão integradas e nas atividades que lhes correspondem, são diferenciadas pelo nível das suas necessidades, e portanto pelo gênero de vida que lhes é próprio, assim como pela matéria em que incide o seu trabalho, a sua atividade econômica, e bem assim pela intensidade da sua memória histórica tradicional” (Gurvitch, 1982, p. 149).
Assim, a concepção de classes sociais de Halbwachs é, ao contrário da marxista, não-relacional e ao abolir a relação entre as classes sociais, se apaga também a exploração, a dominação, os conflitos, os interesses antagônicos, etc., criando em lugar do antagonismo a diferença. Sem dúvida, outras críticas podem ser endereçadas à concepção de classes sociais em Halbwachs, tais como as apresentadas por Gurvitch (1982), mas devido a questão de espaço iremos nos limitar a este elemento fundamental e que esclarece a visão de memória coletiva de Halbwachs e suas limitações.
Desta forma, para concluir nosso trabalho, devemos ressaltar que existe uma luta pela memória e os principais agentes desta luta são as classes sociais e os seus representantes intelectuais. Tanto na esfera das representações cotidianas (“senso comum”) quanto na do pensamento complexo, esta luta se faz presente. Tal como colocou certa vez Adorno, o esquecimento facilita a reprodução (Adorno, 1982), ou seja, ele defende a recordação do holocausto enquanto forma de evitar sua repetição. As diversas abordagens do passado (tanto das representações cotidianas quanto do pensamento complexo, principalmente a historiografia) estão envolvidas neste processo. Mas esta luta não termina aí e ocorre também em torno da definição de memória e suas determinações. A luta pela memória é, portanto, simultaneamente, teórica e prática.


Referências Bibliográficas

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Blondel, Charles. Introdução à Psicologia Coletiva. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1960.
Bosi, Ecléa. Memória e Sociedade. Lembranças de Velhos. 4ª edição, São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
Braga, Elizabeth. S. A Constituição Social da Memória. Uma Perspectiva Histórico-Cultural. Ijuí, Ed. Unijuí, 2000.
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Filloux, Jean-Claude. A Memória. 2ª edição, São Paulo, Difel, 1966.
Freud, Anna. O Ego e os Mecanismos de Defesa. 6ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1982.
Freud, Sigmund. Psicopatologia da Vida Cotidiana. Lisboa, Estúdios Cor, 1978.
Gurvitch, Georges. As Classes Sociais. São Paulo, Global, 1982.
Halbwachs, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo, Vértice, 1990.
Marx, Karl e Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã (Feuerbach). 2ª edição, São Paulo, Hucitec, 2002.
Marx, Karl. O Dezoito do Brumário e Cartas a Kugelmann. 5ª edição, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986.
Portelli, Alessandro. O Massacre de Civitella Val di Chiana (Toscana: 29 de junho de 1944): Mito, Política, Luto e Senso Comum. In: Amado, J. e Ferreira, M. M. (orgs.). Usos e Abusos da História Oral. 2ª edição, Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1998.
Santos, Myrian Sepúlveda. S. Memória Coletiva e Teoria Social. São Paulo, Annablume, 2003.
Stoetzel, Jean. Psicologia Social. 3ª edição, São Paulo, Nacional, 1976.
Viana, Nildo. A Questão dos Valores. Cultura e Liberdade. Ano 02, no 02, Goiânia, Abril de 2002.
Viana, Nildo. Freud e a Abjuração dos Sentimentos. Fragmentos de Cultura. Goiânia/UCG. Vol. 14, no 05, maio de 2004a.
Viana, Nildo. Tradição Oral: Condições de Reprodução. Anais do VII Encontro Nacional de História Oral – Tradição e História Oral. ABHO – Associação Brasileira de História Oral, 2004b.
Vigotski, Lev S. A Formação Social da Mente. 5ª edição, São Paulo, Martins Fontes, 1994.


* Professor da UEG – Universidade Estadual de Goiás e Doutor em Sociologia/UnB – Universidade de Brasília. 
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Publicado originalmente em:
Espaço Plural — Ano VI - Nº 14 - 1º Semestre de 2006 — Versão eletrônica disponível na internet: www.unioeste.br/saber

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