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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

AS CONSEQUÊNCIAS DO SUBJETIVISMO

 

 

PODCAST:

https://anchor.fm/the-edition/episodes/SHORTWAVE--The-Consequences-Of-Subjectivism-e1eo4ha


Abaixo versão em português:


AS CONSEQUÊNCIAS DO SUBJETIVISMO

 

Nildo Viana

 

A mutação cultural que ocorreu após a derrota das lutas sociais do final dos anos 1960 gerou a passagem da hegemonia do paradigma reprodutivista para o paradigma subjetivista. Desde 1945 o paradigma reprodutivista, que se manifestou através de ideologias holistas e objetivistas como o funcionalismo, o estruturalismo e a teoria dos sistemas, foi hegemônico até a emergência dessas lutas e sua crise. Em seu lugar, emerge o paradigma subjetivista, que nasce após 1968, mas só se torna hegemônico após 1980, acompanhando a constituição do neoliberalismo, que, junto com outros processos, constitui o regime de acumulação integral, uma nova fase do capitalismo. Nesse contexto, as ideologias subjetivistas se ampliam, difundem, e se tornam hegemônicas. O reino do subjetivismo se instaura e assume várias formas, englobando diversas concepções (neoliberalismo, pós-estruturalismo, multiculturalismo, política de identidades, etc.). O paradigma subjetivista condena o holismo (a totalidade, as metarrativas) e o objetivismo, gerando várias formas de subjetivismo (irracionalismo, relativismo, etc.). Nesse contexto, questionamos: quais são as consequências do subjetivismo?

A supervaloração do sujeito e da subjetividade é uma realidade. Sem dúvida, existem várias interpretações sobre o que é sujeito e o que é subjetividade, bem como “quem é o sujeito” ou “quem são os sujeitos” (no plural, uma das características do subjetivismo é o uso e abuso de plurais). O sujeito pode ser o indivíduo racional do neoliberalismo, os múltiplos sujeitos do pós-estruturalismo e multiculturalismo, o “gênero”, a “raça”, etc. A isso se associa o fortalecimento do hedonismo, narcisismo, sentimentalismo, que são reforçados pelo advento da expansão da internet e redes sociais. Isso, por sua vez, é útil e complementa o neoliberalismo, que tem como uma de suas características a responsabilização da sociedade civil. Assim emerge a ideia do participacionismo, florescem as “organizações não-governamentais”, entre diversos outros fenômenos correlatos.

As consequências desse processo são visíveis. Uma delas atinge os indivíduos, considerados “livres” em muitas concepções subjetivistas, que passam a se responsabilizar por seu fracasso social, gerando depressão, desequilíbrios psíquicos, uso de drogas, etc. Outra consequência atinge as formas de consciência, gerando descrédito para o saber e incentivando a presunção, a pseudocrítica, o relativismo, e, por conseguinte, crenças conspiracionistas, ideias como a da “terra plana” ou que tudo é “construção cultural” ou “representações”. Uma terceira consequência se revela nos seus efeitos na sociedade civil, especialmente nos movimentos sociais, nos quais seus ativistas passam a defender ideias insustentáveis como “vivência” e “lugar de fala”, bem como passam a interpretar o mundo a partir de antinomias fundada no grupismo e divisão “nós” e “eles”.

Poderíamos elencar outras consequências do subjetivismo, mas nos limitaremos a estas. E aqui entra em questão a responsabilidade dos intelectuais, pois foram estes que produziram as ideologias subjetivistas que se espalham, de forma simplificada, pela sociedade. Ora, uma vez que se percebe as consequências negativas do subjetivismo, é momento de realizar a sua crítica e superação e cabe aos intelectuais assumirem a responsabilidade de contribuir com o esclarecimento e resolução do problema que ajudaram a criar.

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NILDO VIANA é professor universitário da Universidade Federal de Goiás/Brasil. É autor de vários livros, entre os quais, “O Capitalismo na Era da Acumulação Integral”; “Hegemonia Burguesa e Renovações Hegemônicas”; “Os Movimentos Sociais”; “O Modo de Pensar Burguês. Episteme Burguesa e Episteme Marxista”; “A Pesquisa em Representações Cotidianas”; “Karl Marx: A Crítica Desapiedada do Existente”, entre outros.

Para acessar a versão em inglês, clique aqui.

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