PODCAST:
https://anchor.fm/the-edition/episodes/SHORTWAVE--The-Consequences-Of-Subjectivism-e1eo4ha
Abaixo versão em português:
AS
CONSEQUÊNCIAS DO SUBJETIVISMO
Nildo Viana
A
mutação cultural que ocorreu após a derrota das lutas sociais do final dos anos
1960 gerou a passagem da hegemonia do paradigma reprodutivista para o paradigma
subjetivista. Desde 1945 o paradigma reprodutivista, que se manifestou através
de ideologias holistas e objetivistas como o funcionalismo, o estruturalismo e
a teoria dos sistemas, foi hegemônico até a emergência dessas lutas e sua
crise. Em seu lugar, emerge o paradigma subjetivista, que nasce após 1968, mas
só se torna hegemônico após 1980, acompanhando a constituição do neoliberalismo,
que, junto com outros processos, constitui o regime de acumulação integral, uma
nova fase do capitalismo. Nesse contexto, as ideologias subjetivistas se ampliam,
difundem, e se tornam hegemônicas. O reino do subjetivismo se instaura e assume
várias formas, englobando diversas concepções (neoliberalismo,
pós-estruturalismo, multiculturalismo, política de identidades, etc.). O
paradigma subjetivista condena o holismo (a totalidade, as metarrativas) e o
objetivismo, gerando várias formas de subjetivismo (irracionalismo,
relativismo, etc.). Nesse contexto, questionamos: quais são as consequências do
subjetivismo?
A
supervaloração do sujeito e da subjetividade é uma realidade. Sem dúvida,
existem várias interpretações sobre o que é sujeito e o que é subjetividade,
bem como “quem é o sujeito” ou “quem são os sujeitos” (no plural, uma das
características do subjetivismo é o uso e abuso de plurais). O sujeito pode ser
o indivíduo racional do neoliberalismo, os múltiplos sujeitos do
pós-estruturalismo e multiculturalismo, o “gênero”, a “raça”, etc. A isso se
associa o fortalecimento do hedonismo, narcisismo, sentimentalismo, que são
reforçados pelo advento da expansão da internet e redes sociais. Isso, por sua
vez, é útil e complementa o neoliberalismo, que tem como uma de suas
características a responsabilização da sociedade civil. Assim emerge a ideia do
participacionismo, florescem as “organizações não-governamentais”, entre
diversos outros fenômenos correlatos.
As
consequências desse processo são visíveis. Uma delas atinge os indivíduos, considerados
“livres” em muitas concepções subjetivistas, que passam a se responsabilizar
por seu fracasso social, gerando depressão, desequilíbrios psíquicos, uso de
drogas, etc. Outra consequência atinge as formas de consciência, gerando descrédito
para o saber e incentivando a presunção, a pseudocrítica, o relativismo, e, por
conseguinte, crenças conspiracionistas, ideias como a da “terra plana” ou que
tudo é “construção cultural” ou “representações”. Uma terceira consequência se
revela nos seus efeitos na sociedade civil, especialmente nos movimentos
sociais, nos quais seus ativistas passam a defender ideias insustentáveis como
“vivência” e “lugar de fala”, bem como passam a interpretar o mundo a partir de
antinomias fundada no grupismo e divisão “nós” e “eles”.
Poderíamos
elencar outras consequências do subjetivismo, mas nos limitaremos a estas. E
aqui entra em questão a responsabilidade dos intelectuais, pois foram estes que
produziram as ideologias subjetivistas que se espalham, de forma simplificada,
pela sociedade. Ora, uma vez que se percebe as consequências negativas do
subjetivismo, é momento de realizar a sua crítica e superação e cabe aos
intelectuais assumirem a responsabilidade de contribuir com o esclarecimento e
resolução do problema que ajudaram a criar.
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NILDO VIANA é professor universitário da Universidade Federal de Goiás/Brasil. É autor de vários livros, entre os quais, “O Capitalismo na Era da Acumulação Integral”; “Hegemonia Burguesa e Renovações Hegemônicas”; “Os Movimentos Sociais”; “O Modo de Pensar Burguês. Episteme Burguesa e Episteme Marxista”; “A Pesquisa em Representações Cotidianas”; “Karl Marx: A Crítica Desapiedada do Existente”, entre outros.
Para acessar a versão em inglês, clique aqui.
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