A Autogestão como projeto de uma nova
sociedade
Nildo Viana
A palavra “autogestão” é relativamente
nova e seu uso no significado revolucionário remete ao final dos anos 1960, durante a rebelião estudantil de
maio de 1968 em Paris. Apesar de sua origem recente, o seu significado já havia
sido desenvolvido, sob outros nomes, por diversos pensadores, tais como Marx e
Bakunin (e os nomes seriam “comunismo” e “anarquia”, respectivamente).
Esse é o significado da palavra que
estaremos discutindo aqui. Por isso, autogestão aqui não se trata de controle
de fábrica ou empresa pelos trabalhadores e sim um processo social geral, sem o
qual tal controle nada significa. Nesse sentido, a autogestão é um projeto
de uma nova sociedade. Nós vivemos na sociedade capitalista – marcada pela
exploração, dominação, opressão, etc. – e ela é uma totalidade, na qual a base
é composta pela relação de exploração que a classe capitalista – os patrões –
exerce sobre a classe proletária – os trabalhadores. Para essa exploração
existir e se reproduzir sem que os proletários se rebelem, precisa criar um
conjunto de instituições (sendo o estado capitalista a principal destas
instituições, mas universidades, partidos, sindicatos, igrejas, etc., são
outros exemplos), ideias falsas (encobrindo a exploração, o papel dessas
instituições, etc.) visando conter os trabalhadores e impedir uma revolução
social. Ela se distingue radicalmente da sociedade feudal (Idade Média) e da
sociedade escravista (Idade Antiga), pois a exploração, do Estado, das
instituições, da cultura, assumem formas extremamente diferentes. Assim, a
autogestão é também radicalmente diferente da sociedade capitalista (bem como
da escravista e feudal), mas a diferença é ainda mais radical, pois estas três
formas de sociedade são baseadas na existência de classes sociais e exploração.
A ruptura da autogestão com a sociedade atual é muito mais radical, pois abole
o capital (a exploração), o Estado, diversas instituições, etc. e instaura um
mundo de liberdade e igualdade, promessa antiga que nunca foi cumprida.
A autogestão é um projeto de uma sociedade
autogerida. Em sentido amplo, autogestão significa autogoverno, uma relação
social na qual não há dirigentes e dirigidos, mas todos, coletivamente, se
organizam e agem sem hierarquias. A luta pela autogestão existe desde o
surgimento do capitalismo, seja como projeto, ideias (desde o socialismo
utópico, passando pelo anarquismo, marxismo, etc. até chegar ao comunismo de
conselhos, situacionismo, etc.), experiências históricas (desde a Comuna de
Paris, de 1871, até as revoluções inacabadas da década de 1910 e 1920, até as
mais recentes tentativas como na Argentina em 2001) e só existe como projeto e
experiências por ter agentes sociais para colocar isso em prática, o
proletariado e o conjunto dos demais trabalhadores e classes desprivilegiadas na
sociedade atual. A classe proletária, através de seu movimento grevista (e
formas de auto-organização que emerge nesse momento, como o comitê de greve),
avança na compreensão da sociedade e na forma de organização e assim cria sua
associação que é o embrião de novas relações sociais. No próprio processo de
luta, o proletariado desenvolve sua consciência e perde ilusões, desenvolve sua
solidariedade e formas de auto-organização, e assim criam os embriões de uma
nova sociedade. Quando o processo de greve passa a ser de ocupação ativa das
fábricas, lojas, etc. emergem os conselhos de trabalhadores que marcam um
esboço de autogestão, que ao se ampliar e generalizar, constitui a autogestão
social. A autogestão é, portanto, a autogestão do processo de produção de bens materiais que se generaliza e se torna autogestão coletiva generalizada, atingido toda a sociedade. É um processo de luta, pois a classe capitalista e o Estado, seu
principal aparato repressivo, buscam impedir e somente com a destruição do
capital (“propriedade privada”) e do Estado, esse processo será vitorioso e a
emancipação humana e individual estará completa.
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Publicado originalmente em: Jornal Perspectiva Autogestionária. Ano 01, num. 01, Agosto de 2012.
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Publicado originalmente em: Jornal Perspectiva Autogestionária. Ano 01, num. 01, Agosto de 2012.
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