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quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A LÓGICA DO ACADEMICISMO E A MISÉRIA DO “ANTIACADEMICISMO”


A LÓGICA DO ACADEMICISMO
E A
MISÉRIA DO “ANTIACADEMICISMO”

Nildo Viana

O presente artigo visa discutir dois problemas comuns nas universidades contemporâneas: o academicismo e o “antiacademicismo”, duas faces da mesma moeda. Para tanto, vamos analisar o processo de compreensão do que pode ser denominado “academicismo”, mostrando suas características, bem como do suposto “antiacademicismo”. Um objetivo derivado é a superação da confusão conceitual em torno do academicismo e a pseudocrítica dos “antiacademicistas”.

A Lógica do Academicismo

O que é o academicismo? Muitos usam essa palavra, mas não a definem. As próprias definições, para alguns antiacademicistas, é academicista. Ao não definir, o uso do termo ganha um significado preciso: rótulo. O método da rotulação é apenas um estratagema retórico que supõe destruir argumentos com meras palavras vazias. O adjetivo pejorativo pretende substituir a análise e refutação. Uma palavra com sentido negativo quer ser o destruidor de teorias e reflexões embasadas. Por isso é importante explicitar o que realmente significa a palavra academicismo.

Academicismo é uma palavra derivada de academia. Essa, por sua vez, surgiu na Grécia antiga, através de Platão, o fundador da primeira “academia”. Sem dúvida, a academia platônica nada tem a ver com o significado atual da palavra. O significado atual da palavra academia é um sinônimo de universidade. A palavra universidade também é antiga, mas o seu significado atual é mais preciso: uma instituição de ensino superior. A universidade moderna surge no século 19, momento em que a burocratização se amplia e o ensino ganha novo caráter. A universidade, segundo sua autoimagem, é o lugar privilegiado de produção de saber, ou, segundo os pensadores progressistas, de “conhecimento crítico”. Assim, temos a emergência de uma instituição que, segundo sua autoimagem, tem como objetivo produzir conhecimento.

Essa autoimagem foi produzida e reproduzida pelos agentes da instituição universitária. Os intelectuais foram os responsáveis por sua produção e reprodução. Essa mesma instituição que é uma das instâncias de formação dos intelectuais (VIANA, 2015). Aqui temos a gênese do academicismo. Voltaremos ao academicismo adiante. O que ocorre nesse momento é a constituição de ideologias e representações cotidianas que valoram, legitimam, a academia.

Essa autoimagem foi arranhada com a emergência das concepções reprodutivistas. No campo das teses reprodutivistas, dois nomes se destacam: Althusser e Bourdieu. Althusser rompe com a concepção idílica e positiva das universidades ao criar sua ideologia dos “aparelhos ideológicos do Estado”. Ao se preocupar com o processo de reprodução da sociedade capitalista, Althusser observa a existência do Estado enquanto elemento fundamental desse processo. O Estado teria aparelhos repressivos e aparelhos ideológicos para garantir a reprodução do capitalismo. Partindo de Gramsci, mas se diferenciando dele, ele considera que as escolas e a universidades são aparelhos ideológicos do Estado[1]. O papel da universidade, como aparelho ideológico do Estado, é reproduzir as relações de produção capitalistas (ALTHUSSER, 1985).

Bourdieu, por sua vez, apresentará outra versão do reprodutivismo. A partir de sua análise da universidade, apontará para seu caráter reprodutor das desigualdades sociais (grupos ou classes, faltando maior precisão terminológica em sua análise em sua obra sobre esse problema). A universidade repassaria um “arbitrário cultural”, que é o dos dominantes, e que permite a reprodução das desigualdades sociais, já que os indivíduos provenientes dos grupos dominantes possuem um capital cultural e linguístico formado em suas famílias que é o que se reproduz nas instituições de ensino superior. Os indivíduos dos grupos dominados, por vez, não possui o mesmo capital cultural e linguístico e por isso encontram dificuldades e estão submetidos à “violência simbólica”, que é a imposição desse arbitrário cultural, o que é efetivado via prática pedagógica (BOURDIEU e PASSERON, 1982).

Aqui no encontramos diante de duas posições opostas em relação à academia. A concepção academicista e a concepção reprodutivista. Uma coloca a universidade como valor fundamental e ressalta seu papel positivo para a sociedade; a outra a coloca como instituição de reprodução do capitalismo ou das desigualdades. As duas posições são problemáticas e demonstrar isso significa esclarecer o significado do academicismo e do "antiacademicismo" (entre aspas, pois falso).

Aqui se torna necessário esclarecer o que significa o termo “academicismo”. O academicismo, como o nome já explicita, é o partidário e defensor da academia, realizando sua valoração e legitimação, bem como dos seus procedimentos (formalismo), produtos, hierarquia, etc. Obviamente que isto é uma autovaloração e autolegitimação, pois são os acadêmicos que são os academicistas. A valoração da universidade, da ciência, dos títulos, dos rituais, do formalismo, do tecnicismo, das hierarquias, do suposto saber produzido, entre outros elementos, é o que caracteriza o academicismo. A base de tudo isto é a ideia de que a universidade produz conhecimento (crítico, para os setores progressistas) e tem um relevante papel social por efetivar tal processo. Isso também acaba gerando a defesa dos elementos derivados e relacionados, como as esferas sociais e especializações, como as ciências particulares (economia, sociologia, biologia, psicologia, antropologia, geografia, história, etc.), cursos, profissões, etc.

Outro elemento derivado disso é a constituição de concepções (ideologias, representações cotidianas) apologéticas da universidade, de sua “produção de conhecimento” e sua importância social. Uma das formas que isso assume é o discurso da meritocracia. Isso também gera valores (diploma, titulação, universidade, etc.) e sentimentos (laços afetivos com a instituição e os elementos relacionados acima mencionados). Todo esse processo tem um nítido caráter reprodutivista. O academicismo reproduz a dinâmica das universidades e assim a reforça. Um conjunto de elementos é reproduzido nesse processo: circunspecção, elogio dos pares, competição desenfreada, etc.

A Miséria do “Antiacademicismo”

Após a breve reflexão acima sobre o academicismo, resta discutir o seu oposto, o “antiacademicismo”. Os “antiacademicistas” geralmente são críticos da academia. Não sem muita ambiguidade, o que trataremos adiante. Os “anticademicistas” reproduzem a concepção reprodutivista de academia. Se os academicistas são apologistas das universidades, os antiacademicistas são “crítico-reprodutivistas” da mesma. A academia é negada, vista negativamente, sendo também desvalorada e questionada pelos “antiacademicistas”. No seu interior, nada de bom pode surgir, ela é um instrumento de dominação ou de reprodução do capitalismo ou, ainda, das desigualdades. Logo, todo mundo que está na academia pode ser visto como problemático (menos os “antiacademicistas”, pois seriam, não se sabe por qual motivo, “imunes” ao mal corporificado na instituição universitária). A condenação da academia tem como base essa concepção crítico-reprodutivista.

No entanto, a concepção reprodutivista é problemática. O seu caráter funcionalista já foi denunciado (TRAGTENBERG, 1990). Sem dúvida, a universidade existe para reproduzir as relações de produção capitalistas e, por conseguinte, também reproduz as “desigualdades sociais” (a divisão de classes). Porém, ela não é apenas isso. Ela é um espaço de luta. A concepção idílica da universidade, como locus de produção de saber, ou, em sua versão progressista, “conhecimento crítico”, escamoteia o fato de que ela existe não para desenvolver o saber, mas para controlá-lo. Porém, isso não ocorre sem contradições. Desde a competição interna da instituição, passando pelas condições de trabalho e estudo, até chegar ao controle dos estudantes, exercendo violência disciplinar e violência cultural (VIANA, 2002), o que gera resistência e conflito, até chegar a perceber a existência de interesses distintos e algumas vezes opostos, fica claro que pensar a universidade como apenas reprodutora é um equívoco. A universidade reproduz a sociedade de classes, e, por conseguinte, a luta de classes. Obviamente que no seu interior, o que existe e ocorre é a supremacia absoluta das concepções hegemônicas, mas existem rachaduras nesse edifício, além do potencial mais crítico expresso pelos estudantes.

A concepção simplista e reprodutivista de alguns “antiacademicistas” acaba revelando uma mágica. Eles questionam a academia e todos aqueles que militam no seu interior sendo que eles, em sua maioria, estão na mesma instituição, inclusive ganhando bolsas e outros benefícios, se aliando com conservadores e defendendo ideologias hegemônicas. Se fossem honestos o suficiente, simplesmente diriam que a academia existe para reproduzir e eles estão lá, reproduzindo e se beneficiando com isso. Ao invés disso, e com toda a desonestidade perceptível nesse caso, eles dizem que não existe luta de classes na academia e que por isso condenam os que lutam internamente e, ao mesmo tempo, assumem posições conservadoras e abandonam qualquer luta no seu interior (alguns realizam competição ou disputa por seus interesses pessoais ou de grupo). Isso é extremamente conveniente e visivelmente oportunista. Um antiacademicista diz: “não existe luta na academia, vocês são academicistas” e poderia complementar: “por isso eu não luto e me dou bem na academia, reproduzindo o poder, o capital e meus interesses pessoais sem problemas e me aliando com os responsáveis por isso e ajudando esse processo”. Alguns “antiacademicistas” fazem isso por oportunismo, outros por ignorância, competição social, individualismo, etc. No entanto, na maioria dos casos, o cinismo, oportunismo e hipocrisia são visíveis.



Não deixa de ser cômico o fato dos “antiacademicistas”, mais academicistas do que os que eles acusam disso, só refutam o academicismo e não a academia. Essa é refutada apenas no discurso que é pressuposto da crítica ao academicismo. Ela, no entanto, é totalmente ignorada em qualquer outro elemento. A crítica se encerra na sua condenação por seu caráter reprodutivo e por gerar o “academicismo” e apenas até esse momento. Assim, muitos dos supostos “antiacademicistas”, revelam seu oportunismo, ao afirmarem que a academia não é um lugar de luta, pois podem assim viver tranquilamente no espaço acadêmico e justificar suas alianças espúrias com concepções, indivíduos, etc., e concessões por interesses pessoais, acadêmicos e/ou profissionais.

Existem várias formas de “antiacademicismo”. Por exemplo, alguns anarquistas oportunistas geram uma tese falsa para justificar e legitimar seu “academicismo antiacademicista”: a separação entre doutrina (anarquista) e ciência (neutra, objetiva). Claro que aqui o que se revela, além do oportunismo, a legitimação do academicismo e de alianças, benefícios pessoais, etc. ao lado da retomada do positivismo, que, aliás, nesse caso, também coincide com o bolchevismo. Assim, os nossos heroicos anarquistas podem clamar pela luta política dos trabalhadores em seu local de trabalho, que arrisquem seus empregos e forma de adquirir seus meios de sobrevivência, enquanto eles podem se aquartelar nas instituições acadêmicas de forma conservadora e reproduzindo tudo o que está lá. A luta no local de trabalho é sempre a luta para o outro, ou seja, para os trabalhadores manuais.

Um outro tipo de “antiacademicista” é o pós-estruturalista, que nega a ciência e academia, embora seu discurso, sua formação, sua prática, geralmente se dê apenas no seu interior, mesmo que remetendo à sua “vida cotidiana”, onde, em alguns casos, o imoralismo e a depravação assumem “ares contestadores”, o que não passa de mais uma forma de individualismo burguês. Esse tipo de antiacademicista retira seu discurso e concepções da academia e não ultrapassa seus muros e ainda se julga com direito de acusar os demais de “academicistas”.

Um terceiro tipo é o composto pelos “rebeldes”, aqueles que são contra durante sua juventude e esperam um dia sentar na mesa e compartilhar as benesses da academia, do poder, etc., e tão logo conseguem isso, abandonam seu antigo discurso. Esses, embora existam do mesmo tipo nos casos anteriores, são aqueles que Fromm (2014) classificou como tendo “caráter rebelde”, distinto do caráter revolucionário. Muitos se tornam ex-anarquistas, ex-revolucionários, ex-marxistas, etc., pois aos vinte foram incendiários, aos quarenta se tornam bombeiros, principalmente quando estão em cargos na universidade. Russel Jacoby observou isso nos Estados Unidos, quando a juventude rebelde do final dos anos 1960 entra para a academia e perde sua radicalidade, ou seja, ao invés do “marxismo invadir a academia”, o que se vê é “a academia invadir o marxismo” (JACOBY, 1990).

Alguns destes fazem isso sem maior percepção do processo. O que há de comum em todas essas supostas formas de “antiacademicismo”, tirando os ingênuos e meros reprodutores sem maior consciência do que acontece, é a dubiedade: faz um discurso contra o “academicismo” (no geral, justamente os que lutam dentro da academia contra a academia e academicismo, bem como contra a função de reprodução da universidade) e são reprodutores da academia. Ou seja, os “antiacademicistas” concordam com o jogo e as regras do jogo e só discordam daqueles que estão contra o jogo e suas regras. É por isso que os famosos “anticademicistas” podem desfilar com suas roupas de marca nos corredores das universidades, desfrutar de suas bolsas, andar junto e apoiar os conservadores ou ideologias hegemônicas, pois tudo bem para eles e não seria bom e nem facilitaria isso ser contestador da academia[2] e é muito melhor contestar os que realmente a contestam, pois assim se mantém longe daqueles que são “mal vistos” pelos conservadores. O lado dos “antiacademicistas” nessa luta é visível, bem como sua hipocrisia.

A má fé de muitos “antiacademicistas” convive com a ignorância de outros tantos. Os “antiacademicistas”, ao criar uma figura imaginária chamada “academicismo” (que existe, mas que não é o alvo, e sim o críticos da academia que efetivam uma luta cultural no seu interior), apenas mostram que são falsos antiacademicistas lutando contra academicistas inexistentes e, no fritar dos ovos, os “antiacademicistas” é que são academicistas e os que são acusados disso é que são os verdadeiros antiacademicistas. O oportunismo descarado de uns (ou seja, aqueles que inventam isso, não os que por ingenuidade ou credulidade apenas reproduz tal discurso) consegue realizar a mágica de chamar o branco de preto e o preto de branco, ocultando o seu verdadeiro caráter, ou, em outro sentido, total ausência do mesmo.

Para Além do “Antiacademicismo”

É perceptível os limites da concepção reprodutivista da academia, pois ela desconsidera as contradições e lutas de classes na academia. Quando ela é usada pelos supostos “antiacademicistas”, revela, na maioria dos casos, oportunismo, desonestidade e hipocrisia. O mais curioso é que os “antiacademicistas” não ultrapassam os muros da academia, pois a fonte de sua pseudocrítica é a própria academia, que recusam não os seus defensores, mas seus críticos. O “antiacademicismo” é uma forma camuflada de academicismo que inverte a realidade, colocando-a de cabeça para baixo.

Mas o “antiacademicista” tem uma carta debaixo da manga da camisa, como todo bom mágico e ilusionista. Ele reproduz a lógica de afirmar que o lugar de luta não é na academia e sim nas ruas, nas fábricas, etc. Alguns ingenuamente até afirmam que é “panfletando nas portas das fábricas”. Isso parece ter um sentido revolucionário. Porém, nada mais cômodo de querer lutar onde a luta não envolve a própria sobrevivência e onde não se corre riscos. Isso até recorda Trilussa, em O Gato Socialista:

Um gato, conhecido socialista, 
No fundo, espertalhão matriculado, 
Estava devorando um frango assado 
Na residência de um capitalista 

Eis então que outro Gato apareceu 
Na janela que dava para a área: 
– Amigo e companheiro, também eu 
faço parte da classe proletária! 

Melhor do que ninguém, conheço as tuas ideias. 
Estou mais que certo pois 
De que dividirás o frango em duas partes, 
uma para cada um de nós dois! 

– Vá andando, resmunga o reformista, 
Nada divido seja com quem for, 
Em jejum, sou de fato socialista, 
Mas, quando como, sou conservador.


Sim, é conveniente solicitar aos trabalhadores que lutem, entrem em greve, arrisquem o emprego e sua forma de sobrevivência. Panfletar discurso revolucionário na porta de empresas ou nas periferias da cidade, embora seja só discurso, pois é possível contar nos dedos um “antiacademicista” que tenha feito isso realmente. É só discurso também no sentido que é para os outros agirem e não quem faz o discurso. Mas, na universidade, exerce o papel reprodutor tranquilamente, tão inocentemente quanto o gado no pasto. Alguns realmente fazem isso ingenuamente. No entanto, isso é raro, pois o discurso “anticademicista” pressupõe alguma reflexão ou consciência do que ocorre no meio em que vive. O “antiacademicista” pode desfilar com seu “estilo” e posar de revolucionário ao mesmo tempo em que defende seus interesses pessoais acima de tudo e com todo o cuidado para não se comprometer. Eles ouvem nos corredores que devem “evitar pessoa X”, por razões que a razão acadêmica não desconhece. Assim, é mais fácil combater os que incomodam dentro da academia e se aliar com os que detêm o poder no seu interior. E é melhor fazer o discurso contra os primeiros junto aos iniciantes e assim inverter a realidade, pois assim agrada seus senhores e isso significa benefício pessoal e espaço dentro da tenebrosa academia que tanto condenam e, simultaneamente, mamam nas suas tetas, novamente com a mesma inocência que o gado no pasto.


Considerações finais

Os “antiacademicistas” são simplesmente inúteis. Não servem para nada, a não ser para seus interesses pessoais. Eles possuem, em sua maioria, um papel conservador, dentro e fora da academia, pois espalham a ignorância e o elogio da ignorância. Junto com o “antiacademicismo” e sua pseudocrítica, geralmente vem a recusa da teoria, da crítica radical. Os ingênuos caem nessa armadilha e pensam que podem contribuir para a construção de um mundo radicalmente diferente e a transformação radical e total da sociedade através do praticismo ou de doutrinas frágeis e sem aprofundamento. A inutilidade dos “antiacademicistas” para a luta pela libertação humana é acompanhada por sua utilidade para a reprodução do capitalismo.

É evidente que “a luta de classes está em todos os lugares” (KORSCH, 1973). Ela está na academia, bem como nas religiões, empresas, bairros, instituições, etc. Nesse sentido, a recusa da luta ou de apoio para a hegemonia proletária em qualquer lugar significa contribuir com a reprodução da sociedade capitalista. A luta deve ser travada em todos os lugares, mesmo porque, a transformação social radical e total é totalizante e a constituição de um mundo novo ocorre através da contribuição do maior número de pessoas. A academia pode gerar apoiadores do processo revolucionário e isso significa ampliação da hegemonia proletária. É um espaço de luta, como os demais. Estar na academia e cruzar os braços ou atacar os que lutam no seu interior é sinal de academicismo. No fundo, o antiacademicismo é um academicismo disfarçado. A crítica radical da academia ataca sua essência e sua função de reprodução do capitalismo, ao lado da crítica geral da sociedade que a produz e reproduz. Alguns antiacademicistas se contentam em resmungar contra a academia e usufruir pessoalmente de seus benefícios.

Os antiacademicistas estão há quilômetros de distância da práxis revolucionária, pois são pseudocríticos superficiais ou pontuais (academia, empresa capitalista, estado, ou qualquer outro objeto isolado de crítica), não percebendo que a crítica revolucionária deve atacar a essência (modo de produção capitalista) e a totalidade (Estado, cultura, academia, etc.) da sociedade burguesa. O miserável “antiacademicismo” é produto do desenvolvimento da sociedade capitalista e da hegemonia burguesa correspondente ao atual regime de acumulação. O seu tempo de existência é pré-datado e em breve se encerrará. E dessa vez ninguém estará lá para chorar por ele.

Referências

ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. 2ª edição, Rio de Janeiro: Graal, 1985.

BOURDIEU, Pierre e PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução. Elementos Para Uma Teoria do Sistema de Ensino. 2ª edição, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

FROMM, Erich. O Caráter Revolucionário. Revista Marxismo e Autogestão. Vol. 1, num. 02, jul./dez. 2014. Disponível em: http://redelp.net/revistas/index.php/rma/article/view/15fromm2/121 acessado em: 08/08/2015.

JACOBY, Russell. Os Últimos Intelectuais: A Cultura Americana na Era da Academia. São Paulo: Trajetória Cultural: Edusp, 1990.

KORSCH, K. El Joven Marx como Filósofo Activista. In: SUBIRATS, E. (org.). Karl Korsch o el Nacimiento de uma Nueva Época. Barcelona: Anagrama, 1973.

TRAGTENBERG, M. Sobre Educação, Política e Sindicalismo. 2ª edição, São Paulo: Cortez, 1990.

VIANA, Nildo. Violência e Escola. In: VIEIRA, Renato e VIANA, Nildo (orgs.). Educação, Cultura e Sociedade. Abordagens Críticas da Escola. Goiânia: Edições Germinal, 2002.



[1] A lista é bem mais ampla, incluindo igrejas, família, etc. Porém, o nosso foco aqui é a universidade e por isso nos limitaremos a esse aspecto da tese althusseriana.
[2] Os mais “críticos” são aqueles que aceitam a crítica na academia, mas raramente da academia. A crítica da academia que os “antiacademicistas” fazem nunca vai ao ponto de mostrar as relações de poder, a corrupção, a competição e outros processos que ocorrem no interior da universidade. É, no máximo, uma crítica geral de seu papel reprodutor ou de questões pontuais indiretamente ligadas a ela. É mais fácil criticar um professor por seu autoritarismo nos corredores do que efetivar uma luta coletiva pela mudança das relações sociais no interior da instituição no sentido de impossibilitar sua existência e abuso de poder, por exemplo.

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