A LÓGICA DO ACADEMICISMO
E A
MISÉRIA DO “ANTIACADEMICISMO”
Nildo Viana
O presente artigo visa discutir dois problemas comuns nas
universidades contemporâneas: o academicismo e o “antiacademicismo”, duas faces
da mesma moeda. Para tanto, vamos analisar o processo de compreensão do que
pode ser denominado “academicismo”, mostrando suas características, bem como do
suposto “antiacademicismo”. Um objetivo derivado é a superação da confusão
conceitual em torno do academicismo e a pseudocrítica dos “antiacademicistas”.
A Lógica do Academicismo
O que é o academicismo? Muitos usam essa palavra, mas não a
definem. As próprias definições, para alguns antiacademicistas, é academicista.
Ao não definir, o uso do termo ganha um significado preciso: rótulo. O método
da rotulação é apenas um estratagema retórico que supõe destruir argumentos com
meras palavras vazias. O adjetivo pejorativo pretende substituir a análise e
refutação. Uma palavra com sentido negativo quer ser o destruidor de teorias e
reflexões embasadas. Por isso é importante explicitar o que realmente significa
a palavra academicismo.
Academicismo é uma palavra derivada de academia. Essa, por
sua vez, surgiu na Grécia antiga, através de Platão, o fundador da primeira
“academia”. Sem dúvida, a academia platônica nada tem a ver com o significado
atual da palavra. O significado atual da palavra academia é um sinônimo de
universidade. A palavra universidade também é antiga, mas o seu significado
atual é mais preciso: uma instituição de ensino superior. A universidade
moderna surge no século 19, momento em que a burocratização se amplia e o
ensino ganha novo caráter. A universidade, segundo sua autoimagem, é o lugar
privilegiado de produção de saber, ou, segundo os pensadores progressistas, de
“conhecimento crítico”. Assim, temos a emergência de uma instituição que,
segundo sua autoimagem, tem como objetivo produzir conhecimento.
Essa autoimagem foi produzida e reproduzida pelos agentes da
instituição universitária. Os intelectuais foram os responsáveis por sua
produção e reprodução. Essa mesma instituição que é uma das instâncias de
formação dos intelectuais (VIANA, 2015). Aqui temos a gênese do academicismo. Voltaremos
ao academicismo adiante. O que ocorre nesse momento é a constituição de
ideologias e representações cotidianas que valoram, legitimam, a academia.
Essa autoimagem foi arranhada com a emergência das
concepções reprodutivistas. No campo das teses reprodutivistas, dois nomes se
destacam: Althusser e Bourdieu. Althusser rompe com a concepção idílica e
positiva das universidades ao criar sua ideologia dos “aparelhos ideológicos do
Estado”. Ao se preocupar com o processo de reprodução da sociedade capitalista,
Althusser observa a existência do Estado enquanto elemento fundamental desse
processo. O Estado teria aparelhos repressivos e aparelhos ideológicos para
garantir a reprodução do capitalismo. Partindo de Gramsci, mas se diferenciando
dele, ele considera que as escolas e a universidades são aparelhos ideológicos
do Estado[1]. O
papel da universidade, como aparelho ideológico do Estado, é reproduzir as
relações de produção capitalistas (ALTHUSSER, 1985).
Bourdieu, por sua vez, apresentará outra versão do
reprodutivismo. A partir de sua análise da universidade, apontará para seu
caráter reprodutor das desigualdades sociais (grupos ou classes, faltando maior
precisão terminológica em sua análise em sua obra sobre esse problema). A
universidade repassaria um “arbitrário cultural”, que é o dos dominantes, e que
permite a reprodução das desigualdades sociais, já que os indivíduos
provenientes dos grupos dominantes possuem um capital cultural e linguístico
formado em suas famílias que é o que se reproduz nas instituições de ensino
superior. Os indivíduos dos grupos dominados, por vez, não possui o mesmo
capital cultural e linguístico e por isso encontram dificuldades e estão
submetidos à “violência simbólica”, que é a imposição desse arbitrário
cultural, o que é efetivado via prática pedagógica (BOURDIEU e PASSERON, 1982).
Aqui no encontramos diante de duas posições opostas em
relação à academia. A concepção academicista e a concepção reprodutivista. Uma
coloca a universidade como valor fundamental e ressalta seu papel positivo para
a sociedade; a outra a coloca como instituição de reprodução do capitalismo ou
das desigualdades. As duas posições são problemáticas e demonstrar isso
significa esclarecer o significado do academicismo e do "antiacademicismo" (entre aspas, pois falso).
Aqui se torna necessário esclarecer o que significa o termo
“academicismo”. O academicismo, como o nome já explicita, é o partidário e
defensor da academia, realizando sua valoração e legitimação, bem como dos seus
procedimentos (formalismo), produtos, hierarquia, etc. Obviamente que isto é
uma autovaloração e autolegitimação, pois são os acadêmicos que são os
academicistas. A valoração da universidade, da ciência, dos títulos, dos
rituais, do formalismo, do tecnicismo, das hierarquias, do suposto saber
produzido, entre outros elementos, é o que caracteriza o academicismo. A base
de tudo isto é a ideia de que a universidade produz conhecimento (crítico, para
os setores progressistas) e tem um relevante papel social por efetivar tal
processo. Isso também acaba gerando a defesa dos elementos derivados e
relacionados, como as esferas sociais e especializações, como as ciências
particulares (economia, sociologia, biologia, psicologia, antropologia,
geografia, história, etc.), cursos, profissões, etc.
Outro elemento derivado disso é a constituição de concepções
(ideologias, representações cotidianas) apologéticas da universidade, de sua “produção
de conhecimento” e sua importância social. Uma das formas que isso assume é o
discurso da meritocracia. Isso também gera valores (diploma, titulação,
universidade, etc.) e sentimentos (laços afetivos com a instituição e os
elementos relacionados acima mencionados). Todo esse processo tem um nítido
caráter reprodutivista. O academicismo reproduz a dinâmica das universidades e
assim a reforça. Um conjunto de elementos é reproduzido nesse processo:
circunspecção, elogio dos pares, competição desenfreada, etc.
A Miséria do “Antiacademicismo”
Após a breve reflexão acima sobre o academicismo, resta
discutir o seu oposto, o “antiacademicismo”. Os “antiacademicistas” geralmente são
críticos da academia. Não sem muita ambiguidade, o que trataremos adiante. Os “anticademicistas”
reproduzem a concepção reprodutivista de academia. Se os academicistas são
apologistas das universidades, os antiacademicistas são
“crítico-reprodutivistas” da mesma. A academia é negada, vista negativamente,
sendo também desvalorada e questionada pelos “antiacademicistas”. No seu
interior, nada de bom pode surgir, ela é um instrumento de dominação ou de
reprodução do capitalismo ou, ainda, das desigualdades. Logo, todo mundo que
está na academia pode ser visto como problemático (menos os “antiacademicistas”,
pois seriam, não se sabe por qual motivo, “imunes” ao mal corporificado na
instituição universitária). A condenação da academia tem como base essa
concepção crítico-reprodutivista.
No entanto, a concepção reprodutivista é problemática. O seu
caráter funcionalista já foi denunciado (TRAGTENBERG, 1990). Sem dúvida, a
universidade existe para reproduzir as relações de produção capitalistas e, por
conseguinte, também reproduz as “desigualdades sociais” (a divisão de classes).
Porém, ela não é apenas isso. Ela é um espaço de luta. A concepção idílica da
universidade, como locus de produção
de saber, ou, em sua versão progressista, “conhecimento crítico”, escamoteia o
fato de que ela existe não para desenvolver o saber, mas para controlá-lo.
Porém, isso não ocorre sem contradições. Desde a competição interna da
instituição, passando pelas condições de trabalho e estudo, até chegar ao
controle dos estudantes, exercendo violência disciplinar e violência cultural
(VIANA, 2002), o que gera resistência e conflito, até chegar a perceber a
existência de interesses distintos e algumas vezes opostos, fica claro que
pensar a universidade como apenas reprodutora é um equívoco. A universidade
reproduz a sociedade de classes, e, por conseguinte, a luta de classes.
Obviamente que no seu interior, o que existe e ocorre é a supremacia absoluta
das concepções hegemônicas, mas existem rachaduras nesse edifício, além do
potencial mais crítico expresso pelos estudantes.
A concepção simplista e reprodutivista de alguns “antiacademicistas”
acaba revelando uma mágica. Eles questionam a academia e todos aqueles que
militam no seu interior sendo que eles, em sua maioria, estão na mesma instituição,
inclusive ganhando bolsas e outros benefícios, se aliando com conservadores e
defendendo ideologias hegemônicas. Se fossem honestos o suficiente,
simplesmente diriam que a academia existe para reproduzir e eles estão lá,
reproduzindo e se beneficiando com isso. Ao invés disso, e com toda a
desonestidade perceptível nesse caso, eles dizem que não existe luta de classes
na academia e que por isso condenam os que lutam internamente e, ao mesmo
tempo, assumem posições conservadoras e abandonam qualquer luta no seu interior
(alguns realizam competição ou disputa por seus interesses pessoais ou de
grupo). Isso é extremamente conveniente e visivelmente oportunista. Um
antiacademicista diz: “não existe luta na academia, vocês são academicistas” e
poderia complementar: “por isso eu não luto e me dou bem na academia,
reproduzindo o poder, o capital e meus interesses pessoais sem problemas e me
aliando com os responsáveis por isso e ajudando esse processo”. Alguns “antiacademicistas”
fazem isso por oportunismo, outros por ignorância, competição social,
individualismo, etc. No entanto, na maioria dos casos, o cinismo, oportunismo e
hipocrisia são visíveis.
Não deixa de ser cômico o fato dos “antiacademicistas”, mais
academicistas do que os que eles acusam disso, só refutam o academicismo e não
a academia. Essa é refutada apenas no discurso que é pressuposto da crítica ao
academicismo. Ela, no entanto, é totalmente ignorada em qualquer outro
elemento. A crítica se encerra na sua condenação por seu caráter reprodutivo e
por gerar o “academicismo” e apenas até esse momento. Assim, muitos dos
supostos “antiacademicistas”, revelam seu oportunismo, ao afirmarem que a
academia não é um lugar de luta, pois podem assim viver tranquilamente no
espaço acadêmico e justificar suas alianças espúrias com concepções,
indivíduos, etc., e concessões por interesses pessoais, acadêmicos e/ou profissionais.
Existem várias formas de “antiacademicismo”. Por exemplo,
alguns anarquistas oportunistas geram uma tese falsa para justificar e legitimar
seu “academicismo antiacademicista”: a separação entre doutrina (anarquista) e
ciência (neutra, objetiva). Claro que aqui o que se revela, além do
oportunismo, a legitimação do academicismo e de alianças, benefícios pessoais,
etc. ao lado da retomada do positivismo, que, aliás, nesse caso, também
coincide com o bolchevismo. Assim, os nossos heroicos anarquistas podem clamar
pela luta política dos trabalhadores em seu local de trabalho, que arrisquem
seus empregos e forma de adquirir seus meios de sobrevivência, enquanto eles
podem se aquartelar nas instituições acadêmicas de forma conservadora e
reproduzindo tudo o que está lá. A luta no local de trabalho é sempre a luta
para o outro, ou seja, para os trabalhadores manuais.
Um outro tipo de “antiacademicista” é o pós-estruturalista,
que nega a ciência e academia, embora seu discurso, sua formação, sua prática,
geralmente se dê apenas no seu interior, mesmo que remetendo à sua “vida
cotidiana”, onde, em alguns casos, o imoralismo e a depravação assumem “ares
contestadores”, o que não passa de mais uma forma de individualismo burguês. Esse
tipo de antiacademicista retira seu discurso e concepções da academia e não ultrapassa
seus muros e ainda se julga com direito de acusar os demais de “academicistas”.
Um terceiro tipo é o composto pelos “rebeldes”, aqueles que
são contra durante sua juventude e esperam um dia sentar na mesa e compartilhar
as benesses da academia, do poder, etc., e tão logo conseguem isso, abandonam
seu antigo discurso. Esses, embora existam do mesmo tipo nos casos anteriores,
são aqueles que Fromm (2014) classificou como tendo “caráter rebelde”, distinto
do caráter revolucionário. Muitos se tornam ex-anarquistas, ex-revolucionários,
ex-marxistas, etc., pois aos vinte foram incendiários, aos quarenta se tornam
bombeiros, principalmente quando estão em cargos na universidade. Russel Jacoby
observou isso nos Estados Unidos, quando a juventude rebelde do final dos anos
1960 entra para a academia e perde sua radicalidade, ou seja, ao invés do
“marxismo invadir a academia”, o que se vê é “a academia invadir o marxismo”
(JACOBY, 1990).
Alguns destes fazem isso sem maior percepção do processo. O
que há de comum em todas essas supostas formas de “antiacademicismo”, tirando
os ingênuos e meros reprodutores sem maior consciência do que acontece, é a
dubiedade: faz um discurso contra o “academicismo” (no geral, justamente os que
lutam dentro da academia contra a academia e academicismo, bem como contra a
função de reprodução da universidade) e são reprodutores da academia. Ou seja,
os “antiacademicistas” concordam com o jogo e as regras do jogo e só discordam
daqueles que estão contra o jogo e suas regras. É por isso que os famosos “anticademicistas”
podem desfilar com suas roupas de marca nos corredores das universidades,
desfrutar de suas bolsas, andar junto e apoiar os conservadores ou ideologias
hegemônicas, pois tudo bem para eles e não seria bom e nem facilitaria isso ser
contestador da academia[2] e
é muito melhor contestar os que realmente a contestam, pois assim se mantém
longe daqueles que são “mal vistos” pelos conservadores. O lado dos
“antiacademicistas” nessa luta é visível, bem como sua hipocrisia.
A má fé de muitos “antiacademicistas” convive com a
ignorância de outros tantos. Os “antiacademicistas”, ao criar uma figura
imaginária chamada “academicismo” (que existe, mas que não é o alvo, e sim o
críticos da academia que efetivam uma luta cultural no seu interior), apenas
mostram que são falsos antiacademicistas lutando contra academicistas
inexistentes e, no fritar dos ovos, os “antiacademicistas” é que são
academicistas e os que são acusados disso é que são os verdadeiros
antiacademicistas. O oportunismo descarado de uns (ou seja, aqueles que
inventam isso, não os que por ingenuidade ou credulidade apenas reproduz tal
discurso) consegue realizar a mágica de chamar o branco de preto e o preto de
branco, ocultando o seu verdadeiro caráter, ou, em outro sentido, total
ausência do mesmo.
Para Além do “Antiacademicismo”
É perceptível os limites da concepção reprodutivista da
academia, pois ela desconsidera as contradições e lutas de classes na academia.
Quando ela é usada pelos supostos “antiacademicistas”, revela, na maioria dos
casos, oportunismo, desonestidade e hipocrisia. O mais curioso é que os “antiacademicistas”
não ultrapassam os muros da academia, pois a fonte de sua pseudocrítica é a
própria academia, que recusam não os seus defensores, mas seus críticos. O “antiacademicismo”
é uma forma camuflada de academicismo que inverte a realidade, colocando-a de
cabeça para baixo.
Mas o “antiacademicista” tem uma carta debaixo da manga da
camisa, como todo bom mágico e ilusionista. Ele reproduz a lógica de afirmar
que o lugar de luta não é na academia e sim nas ruas, nas fábricas, etc. Alguns
ingenuamente até afirmam que é “panfletando nas portas das fábricas”. Isso
parece ter um sentido revolucionário. Porém, nada mais cômodo de querer lutar
onde a luta não envolve a própria sobrevivência e onde não se corre riscos.
Isso até recorda Trilussa, em O Gato
Socialista:
Um gato, conhecido socialista,
No fundo, espertalhão matriculado,
Estava devorando um frango assado
Na residência de um capitalista
Eis então que outro Gato apareceu
Na janela que dava para a área:
– Amigo e companheiro, também eu
faço parte da classe proletária!
Melhor do que ninguém, conheço as tuas ideias.
Estou mais que certo pois
De que dividirás o frango em duas partes,
uma para cada um de nós dois!
– Vá andando, resmunga o reformista,
Nada divido seja com quem for,
Em jejum, sou de fato socialista,
Mas, quando como, sou conservador.
Sim, é conveniente solicitar aos trabalhadores que lutem,
entrem em greve, arrisquem o emprego e sua forma de sobrevivência. Panfletar
discurso revolucionário na porta de empresas ou nas periferias da cidade,
embora seja só discurso, pois é possível contar nos dedos um “antiacademicista”
que tenha feito isso realmente. É só discurso também no sentido que é para os
outros agirem e não quem faz o discurso. Mas, na universidade, exerce o papel
reprodutor tranquilamente, tão inocentemente quanto o gado no pasto. Alguns realmente
fazem isso ingenuamente. No entanto, isso é raro, pois o discurso “anticademicista”
pressupõe alguma reflexão ou consciência do que ocorre no meio em que vive. O
“antiacademicista” pode desfilar com seu “estilo” e posar de revolucionário ao
mesmo tempo em que defende seus interesses pessoais acima de tudo e com todo o
cuidado para não se comprometer. Eles ouvem nos corredores que devem “evitar
pessoa X”, por razões que a razão acadêmica não desconhece. Assim, é mais fácil
combater os que incomodam dentro da academia e se aliar com os que detêm o
poder no seu interior. E é melhor fazer o discurso contra os primeiros junto
aos iniciantes e assim inverter a realidade, pois assim agrada seus senhores e
isso significa benefício pessoal e espaço dentro da tenebrosa academia que
tanto condenam e, simultaneamente, mamam nas suas tetas, novamente com a mesma
inocência que o gado no pasto.
Considerações finais
Os “antiacademicistas” são
simplesmente inúteis. Não servem para nada, a não ser para seus interesses
pessoais. Eles possuem, em sua maioria, um papel conservador, dentro e fora da
academia, pois espalham a ignorância e o elogio da ignorância. Junto com o
“antiacademicismo” e sua pseudocrítica, geralmente vem a recusa da teoria, da
crítica radical. Os ingênuos caem nessa armadilha e pensam que podem contribuir
para a construção de um mundo radicalmente diferente e a transformação radical
e total da sociedade através do praticismo ou de doutrinas frágeis e sem
aprofundamento. A inutilidade dos “antiacademicistas” para a luta pela
libertação humana é acompanhada por sua utilidade para a reprodução do
capitalismo.
É evidente que “a luta de
classes está em todos os lugares” (KORSCH, 1973). Ela está na academia, bem
como nas religiões, empresas, bairros, instituições, etc. Nesse sentido, a
recusa da luta ou de apoio para a hegemonia proletária em qualquer lugar
significa contribuir com a reprodução da sociedade capitalista. A luta deve ser
travada em todos os lugares, mesmo porque, a transformação social radical e
total é totalizante e a constituição de um mundo novo ocorre através da
contribuição do maior número de pessoas. A academia pode gerar apoiadores do
processo revolucionário e isso significa ampliação da hegemonia proletária. É
um espaço de luta, como os demais. Estar na academia e cruzar os braços ou
atacar os que lutam no seu interior é sinal de academicismo. No fundo, o
antiacademicismo é um academicismo disfarçado. A crítica radical da academia
ataca sua essência e sua função de reprodução do capitalismo, ao lado da
crítica geral da sociedade que a produz e reproduz. Alguns antiacademicistas se
contentam em resmungar contra a academia e usufruir pessoalmente de seus
benefícios.
Os antiacademicistas estão há
quilômetros de distância da práxis
revolucionária, pois são pseudocríticos superficiais ou pontuais (academia,
empresa capitalista, estado, ou qualquer outro objeto isolado de crítica), não
percebendo que a crítica revolucionária deve atacar a essência (modo de
produção capitalista) e a totalidade (Estado, cultura, academia, etc.) da
sociedade burguesa. O miserável “antiacademicismo” é produto do desenvolvimento
da sociedade capitalista e da hegemonia burguesa correspondente ao atual regime
de acumulação. O seu tempo de existência é pré-datado e em breve se encerrará.
E dessa vez ninguém estará lá para chorar por ele.
Referências
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. 2ª edição, Rio de Janeiro: Graal,
1985.
BOURDIEU, Pierre e PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução. Elementos Para Uma
Teoria do Sistema de Ensino. 2ª edição, Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1982.
FROMM, Erich. O Caráter Revolucionário. Revista Marxismo e Autogestão. Vol. 1,
num. 02, jul./dez. 2014. Disponível em: http://redelp.net/revistas/index.php/rma/article/view/15fromm2/121
acessado em: 08/08/2015.
JACOBY,
Russell. Os Últimos Intelectuais: A
Cultura Americana na Era da Academia. São Paulo: Trajetória Cultural:
Edusp, 1990.
KORSCH, K. El Joven Marx como Filósofo Activista. In: SUBIRATS, E. (org.). Karl Korsch o el Nacimiento de uma Nueva
Época. Barcelona: Anagrama, 1973.
TRAGTENBERG, M. Sobre Educação, Política e Sindicalismo. 2ª edição, São Paulo:
Cortez, 1990.
VIANA, Nildo. Violência e Escola. In:
VIEIRA, Renato e VIANA, Nildo (orgs.). Educação,
Cultura e Sociedade. Abordagens Críticas da Escola. Goiânia: Edições
Germinal, 2002.
[1] A
lista é bem mais ampla, incluindo igrejas, família, etc. Porém, o nosso foco
aqui é a universidade e por isso nos limitaremos a esse aspecto da tese
althusseriana.
[2]
Os mais “críticos” são aqueles que aceitam a crítica na academia, mas raramente da
academia. A crítica da academia que os “antiacademicistas” fazem nunca vai ao
ponto de mostrar as relações de poder, a corrupção, a competição e outros
processos que ocorrem no interior da universidade. É, no máximo, uma crítica
geral de seu papel reprodutor ou de questões pontuais indiretamente ligadas a
ela. É mais fácil criticar um professor por seu autoritarismo nos corredores do
que efetivar uma luta coletiva pela mudança das relações sociais no interior da
instituição no sentido de impossibilitar sua existência e abuso de poder, por
exemplo.
Esclarecedor. Obrigado, prof Nildo!
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