OS
CARROS ASSASSINOS NO BRASIL
Nildo Viana
Os dados mostram que o
índice de motes por acidentes de carro no Brasil é superior em torno de 4 vezes
aos Estados Unidos, apesar deste ter uma frota 5 vezes maior. Sem dúvida, esta
é uma razão para se refletir. Depois do filme Christine, O Carro Assassino, um
filme de terror de John Carpenter, que mostra o fetichismo do carro, no Brasil
se poderia produzir um novo filme de horror: Os carros assassinos no Brasil.
A determinação imediata
deste fenômeno é a maior fragilidade dos carros produzidos no Brasil. Maria
Inês Dolci, da Associação de Consumidores Proteste, afirma que “Os fabricantes fazem isso porque os carros se
tornam mais baratos de fazer e as exigências dos consumidores brasileiros são
menores; seu conhecimento dos problemas de segurança são menores do que na
Europa e nos Estados Unidos" (http://g1.globo.com/carros/noticia/2013/05/indice-de-mortes-por-acidentes-de-carro-no-brasil-e-4-vezes-o-dos-eua.html
acessado em 15 de maio de 2013). “Segundo a
AP, com base em informações obtidas com engenheiros e especialistas dentro da
indústria, estas fragilidades dos carros brasileiros são ocasionadas por soldas
fracas na estrutura, dispositivos de segurança escassos e materiais de
qualidade inferior, em comparação com modelos similares fabricados para os EUA
e Europa” (http://g1.globo.com/carros/noticia/2013/05/indice-de-mortes-por-acidentes-de-carro-no-brasil-e-4-vezes-o-dos-eua.html
acessado em 15 de maio de 2013).
Mas é preciso ir além da determinação imediata para chegar à determinação
fundamental. Nesse caso, é preciso descobrir por qual motivo tais carros são mais
frágeis. A IHS Automotive oferece a resposta: “as fabricantes tem 10% de lucro
sobre carros fabricados no Brasil, enquanto nos Estados Unidos este número é de
3% e a média global de 5%” (http://g1.globo.com/carros/noticia/2013/05/indice-de-mortes-por-acidentes-de-carro-no-brasil-e-4-vezes-o-dos-eua.html
acessado em 15 de maio de 2013).
É claro que isso envolve relações internacionais, acoes do aparato
estatal brasileiro, entre diversos outros elementos que são responsáveis por
permitir que tais carros sejam mais frágeis, mas é o capital automobilístico
que é o agente do processo e outros poderiam minimizar ou impedir e, por seu
atrelamento ao capital oligopolista transnacional, não executam o que deveriam
executar. As desculpas são a falta de laboratórios para realizar testes e ver a
eficácia dos automóveis por parte do governo.
Uma visita no site citado acima, de onde retiramos as nossas
informações, mostra alguns equívocos, como na expressão usada: “carros
brasileiros”. Eles são produzidos no Brasil, mas não são brasileiros, como os
antigos Gordinis e Fenemês. São produtos do capital oligopolista transnacional
e o lucro não fica em território nacional. O mérito é tornar mais conhecido o
que já se sabe há muito tempo e não se propõe nenhuma solução drástica, como,
por exemplo, no caso dos menores infratores, que querem reduzir a maioridade
penal. A notícia se encontra em outros sites (http://www.pautas.incorporativa.com.br/a-mostra-release.php?id=18679
acessado em 15 de maio de 2013), bem como em
sites de outros países (http://www.foxnews.com/leisure/2013/05/13/cars-made-in-brazil-are-deadly/
acessado em 15 de maio de 2013).
Obviamente que a fragilidade dos carros em circulação no Brasil não é a
única determinação dos acidentes, a própria expansão ininterrupta da frota de
veículos e a incapacidade do sistema viário suportar a mesma é outra
determinação dos mesmos. No entanto, por detrás de tudo isso há algo mais
profundo, a dinâmica do modo de produção capitalista e o seu desenvolvimento sob
a forma de regimes de acumulação, desde o fordismo e o início do “apocalipse
motorizado”, para recordar título de livro (LUDD, Ned (org.). Apolalipse Motorizado. Rio de Janeiro:
Conrad, 2005) com a instauração do regime de acumulação conjugado cujo grande
símbolo de consumo foi o automóvel, que perdeu o trono para o computador mas
que ainda é um dos principais itens no consumo mundial e na reprodução ampliada
do capital no novo regime de acumulação que o substitui, o regime de acumulação
integral, marcado pela supremacia do toyotismo como forma de organização do trabalho,
pelo Estado neoliberal e neoimperialismo.
Os carros assassinos no brasil é apenas uma parte de uma história mais
longa e que envolve inúmeros outras mercadorias assassinas, seja sob forma instantânea
ou lenta, vagarosamente. Claro está que os carros não são os verdadeiros
assassinos, nem as outras mercadorias, mas aqueles que controlam e lucram com o
seu processo de produção, a classe capitalista sempre avida de lucro. Logo, a solução
está na transformação radical da totalidade das relações sociais, mas enquanto
isso as mercadorias ideológicas e culturais dizem que isso é impossível e que
nada de substancial irá mudar. Quem financia, produz e lucra com estas últimas
mercadorias? Sempre são seres humanos em relações sociais, que produzem a
miséria e a legitimação da miséria e os responsáveis são aqueles que lucram ou ganham algo com isso, vencendo a competição social, custe o que custar.
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