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domingo, 6 de dezembro de 2015

QUANDO REINA O OPORTUNISMO


QUANDO REINA O OPORTUNISMO

Nildo Viana

O oportunismo pode ser compreendido como a prática de tomar decisões e executar ações de acordo com a oportunidade, passando por cima de princípios, normas, ética, moral, para atender interesses próprios. Isso pode ocorrer tanto no plano individual quanto coletivo. Isso é mais visível na política institucional, tal como no caso dos governos, parlamentos, partidos, etc. O encaminhamento do pedido de Impeachment de Dilma Roussef é um exemplo de oportunismo, bem como as negociações do governo para impedir esse processo. A política institucional é o reino do oportunismo.


Contudo, o oportunismo não está apenas na política institucional. Está na vida cotidiana, nas instituições, nos movimentos sociais, etc. No fundo, sempre existiram oportunistas em todos os lugares. Porém, na sociedade brasileira atual, estamos vivendo a era de ouro do oportunismo. O oportunismo deixou de ser apenas dominante na política institucional, mas agora é, ele mesmo, uma política estatal e, ainda por cima, praticado desavergonhadamente por todos os seus agentes (todos os partidos, indivíduos, etc.). Como política estatal, o oportunismo foi incentivado na sociedade civil e nos movimentos sociais pela cooptação orquestrada pelo governo petista. O despudor em sua prática agora é possível por sua legitimação conquistada via sua generalização na sociedade civil. Afinal, no reino do oportunismo, não há nenhum problema nas práticas oportunistas.

O oportunismo se reproduz na política institucional cada vez mais explicitamente. Cunha se posiciona diante do impeachment de Dilma de acordo com os seus interesses pessoais, que remente a conchavos com os dois lados oportunistas. O PT defendia ou atacava Cunha de acordo com a oportunidade e posição deste diante do impeachment.


Esse processo atinge graus elevados em certas instituições, tal como as universidades. O interesse pessoal fica acima de qualquer outro critério. Nem a ética, nem os regulamentos, são levados em consideração. Aliás, não deixa de ser curioso como é prática comum passar por cima de editais, regimentos, decisões coletivas, etc., de acordo com o oportunismo. Os oportunistas não têm princípios, ética, moral, etc. O pior de tudo é que os estudantes, que deveriam ser o setor mais avançado e ético nas universidades, estão cedendo cada vez mais ao oportunismo.

O oportunismo passa por cima de qualquer compromisso. Os intelectuais oportunistas abandonam qualquer compromisso com a verdade. É por isso que além de ideologias dominam os meios intelectuais e acadêmicos, como também ideias totalmente descabidas e sem sentido acabam se espalhando e se tornando hegemônicas. O oportunismo intelectual, que sempre existiu, torna-se quase uma lei no mundo intelectual, atingindo os progressistas que passam a reproduzi-lo de forma oportunista.

As razões do oportunismo reinante é uma união de supremacia da mentalidade burguesa (competitiva, mercantil e burocrática) ao lado da nova hegemonia das ideologias pós-estruturalistas e neoliberais, marcadas pelo neoindividualismo, hedonismo, irracionalismo, etc. Esse predomínio do oportunismo, em pleno acordo com as relações sociais capitalistas, começa a se tornar mais explícito e percebido por grande parte da população, sendo apenas um sintoma do início de um período de desestabilização do capitalismo neoliberal (dominado pelo regime de acumulação integral). Esse sintoma marca um processo de desmascaramento do bloco dominante e do bloco reformista, por um lado, e dos setores cooptados da sociedade e reprodutores da hegemonia burguesa e dos interesses próprios aliados com os da classe dominante.




Quem luta por uma nova sociedade não faz compromissos, não hesita em lutar contra o que é falso, hipócrita, oportunista. Mesmo que seja apenas uma ovelha negra num mar de ovelhas brancas, não cede ao oportunismo. A consciência do oportunismo é o primeiro passo para a sua superação. A união daqueles que não cedem ao oportunismo, especialmente as classes desprivilegiadas, os jovens que não cederam aos encantos do capitalismo, os revolucionários autênticos, é fundamental para sua superação, colaborando com a destruição de suas justificativas ideológicas, desmascarando suas práticas e ações de acordo com interesses particulares contra os interesses da maioria da população. No reino do oportunismo, somente os oportunistas ganham e esses são geralmente indivíduos das classes privilegiadas ou indivíduos das classes desprivilegiadas que querem entrar no seleto grupo dos privilegiados ao invés de abolir a existência de privilégios. A desestabilização e a crise abrem uma nova etapa para o oportunismo: a da sobrevivência dos mais aptos, pois com a diminuição dos recursos, diminuem o espaço para os oportunistas. São nesses momentos que a superação do oportunismo se torna uma tendência mais forte, pois ao lado do abandono compulsório do oportunismo há um avanço das lutas dos trabalhadores. Alguns oportunistas pulam do barco antes dele afundar. Esse é o atual momento da sociedade brasileira.

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