EU SOU PROFESSOR E NÃO VOTO EM DILMA
Nildo Viana
Um discurso muito constante nas redes sociais e que é
veiculado por toda internet é o apoio a Dilma Roussef com os dizeres “Eu sou
professor, apoio Dilma”. Numa leitura superficial, isso significa tão só o
posicionamento de alguns professores. Numa leitura mais atenta, no entanto,
isso tem outro significado, que é o seguinte: os professores devem votar em
Dilma, pois é melhor para “a educação” ou para “a categoria dos professores”.
Esse discurso é falso e por isso resolvi, para não perder o costume, andar na
contramão e dizer: “Eu sou professor e por isso não voto em Dilma”. As razões principais
para isso são duas:
a) O
processo eleitoral não expressa a vontade popular como ideologicamente é
pregado, a maioria não decide, bem como existe todo um processo de manipulação,
esquecimento, ignorância, entre outros, além do que os mecanismos da democracia
representativa burguesa são contrários a qualquer manifestação radical ou
realmente diferente do que está posto, e os governos, independente de partidos,
representam a classe dominante e secundariamente seus aliados e classes
auxiliares. Eles são formados por partidos – grandes organizações burocráticas –
que buscam satisfazer seus interesses aliados aos interesses do grande capital,
inclusive o transnacional. O Estado é capitalista e tanto faz quem é o governo,
pois este existe para governar, o que quer dizer: buscar manter a estabilidade
política e financeira para reproduzir os interesses do grande capital e de sua
governabilidade, reprimir os movimentos de protesto, regularizar as relações
sociais para manter o conjunto dos privilégios existentes, oferecer migalhas
para o resto da população para ganhar apoio, etc. Em síntese, tanto faz qual é o
candidato, todos servem ao grande capital e vão continuar servindo, inclusive
com os problemas do chamado “desenvolvimento econômico” (no fundo, desenvolvimento
do capital), as políticas de austeridade e aprofundamento do neoliberalismo continuarão sendo executadas, tanto faz quem será presidente[1].
b) Os
governos do PT – Partido dos “Trabalhadores” – e a candidata Dilma não
representam melhorias para a educação e nem mesmo para a categoria dos
professores. Curiosamente, os “professores”, que se dizem mais inteligentes e
cultos do que a população que “vota na direita” (como se, com exceção de quem
anulou, absteve ou votou em branco, alguém não tivesse votado em direita...), sendo
“conservadora”, ou então a “classe média” (esse espantalho que só serve para
legitimar discursos pseudoprogressistas), acabam reproduzidno o conservadorismo
e a ignorância que supostamente combatem. Basta lembrar as diversas greves da educação
nos últimos anos, nas universidades e institutos federais (assim como no resto,
devido ao descaso geral com a mesma, tanto no nível federal quanto estadual e
municipal) para ver as políticas educacionais deste partido. As greves nas universidades federais de 2012 foram geradas pela
política de precarização do Governo Dilma[2] e
agora os professores universitários, em grande parte, fazem apologia de tal
candidata, mostrando a existência de ignorância, ilusões, interesses ocultos de
alguns, como razão para tal propaganda. Caso Dilma seja reeleita, nada irá
alterar, aliás, basta ver as “pérolas” que andam saindo do atual governo, como
concurso para professores via OS (Organizações Sociais)[3],
para observar que neoliberalismo não é privilégio do outro candidato.
Tendo em vista tudo isso, eu digo
que sou professor e voto nulo. Inclusive, se acreditarmos no discurso a
respeito do professor e seu papel educativo, é fundamental no processo
educacional o avanço da consciência e da razão em detrimento da irracionalidade
eleitoral, dos interesses mesquinhos, da falta de verdade e isso é algo que um
professor deveria denunciar e combater. Esse seria um terceiro motivo para não votar
e apoiar Dilma Roussef. Da mesma forma, um professor não deveria ser preocupar
somente com seus interesses corporativos (salários, condições de trabalho,
etc.) e, por reflexão, deveria saber que isso é ilusão (o próximo governo vai precarizar
a educação, tanto faz quem será, e não é apoiando e legitimando o seu próximo
carrasco que isso poderá mudar). Ele deveria pensar no conjunto da população e
pensando assim perceberia que ao invés de apoiar e legitimar os políticos profissionais
astutos e mentirosos, deveria contribuir com o esclarecimento da população (e
autoesclarecimento), demonstrando que apenas a luta, a auto-organização, os
processos de pressão, protestos, manifestações, organização em local de trabalho,
moradia e estudos, autoeducação e autoformação, reflexões aprofundadas e mais
amplas sobre a realidade social, é que podem fazer as coisas não piorarem (e
curiosamente o apoio a Dilma é em sua maioria com o medo de “piorar” o que já é
insuportável... nem se luta mais por conquistas, melhorias, quem dirá grandes
reformas ou mesmo transformação social, são neoconformistas). Tanto faz quem
será o próximo governo, pois se não houver pressão, mobilização, ação,
reflexão, luta, vai piorar de qualquer jeito. Por isso, professor deve votar
nulo e não compactuar com a prestidigitação eleitoral.
[1]
Para aprofundamento disto, há um conjunto de textos em: http://informecritica.blogspot.com.br/2014/10/artigos-para-compreender-as-eleicoes.html
muito bom
ResponderExcluirBoa tarde Nildo. Quando você diz que tanto faz quem vai ser presidente, você mantém a mesma opinião com a eleição de Bolsonaro em 2018. Não tem diferença nenhuma se fosse o Haddad ( reformista e social democrata ). Forte Abraço.
ResponderExcluirPrezado Irineu, agradeço seu comentário. A respeito de sua questão, eu lhe digo que o que determina as políticas estatais são algumas determinações (dinâmica da acumulação de capital, regime de acumulação instituído, força e divisões no bloco dominante, pressão do proletariado e outros setores da sociedade, etc.) e não exatamente o indivíduo que está sentado na cadeira de presidente. Logo, tanto faz, pois se não houver luta, pressão, etc. dos trabalhadores, pode ser Lula, Haddad, Ciro Gomes, Marina Silva, Dilma, etc. e as políticas serão neoliberais e, mais do que isso, de austeridade, se for necessidade do capital. Mantenho a mesma opinião e se fosse Haddad haveria pouca diferença, não haveria baixo nível intelectual e estardalhaço em cima de afirmações estapafúrdias, bem como o discurso seria um pouco diferente, entre outros elementos. Em relação ao coronavírus, Haddad certamente não falaria as besteiras que Bolsonaro falou e tentaria ser um pouco mais assistencialista e um pouco mais aberto ao "diálogo". Ou seja, nenhuma grande diferença, nada de substancial, e sim de grau (um pouco mais disso, um pouco menos daquilo). A terminologia "direita" e "esquerda" é problemática. Dizer que Bolsonaro é extrema-direita não quer dizer muita coisa e dependendo do que se entende por isso, precisaria ser fundamentado e justificado. Por outro lado, Haddad (e nem o PT) é social-democrata (e nem "reformista"). O PT foi social-democrata, discursivamente, até 2003, depois se tornou neoliberal neopopulista. As ilusões com o PT já deveriam ter acabado há muito tempo para quem se diz "revolucionário", ou pelo menos de "esquerda". Por fim, além dessa discussão que fica no campo do mais ou menos ruim, o que interessa é que os problemas sociais, a exploração, a dominação, a tendência para intensificação da destruição ambiental e desequilíbrios psíquicos, e a manutenção (e aumento) da fome a nível mundial, etc., continuam. A questão não é ficar discutindo qual governo é melhor ou pior, qual vai reprimir mais ou menos, qual vai dar mais migalhas, e sim como transformar radicalmente a sociedade, transformando-a numa sociedade humanizada.
ExcluirBoa tarde Nildo. Quando você diz que tanto faz quem vai ser presidente, você mantém a mesma opinião com a eleição de Bolsonaro ( EXTREMA DIREITA ) em 2018. Não tem diferença nenhuma se fosse o Haddad ( reformista e social democrata ). Forte Abraço.
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