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domingo, 24 de abril de 2011

CAPITALISMO, BUROCRACIA E AUTOGESTÃO


CAPITALISMO, BUROCRACIA E AUTOGESTÃO

                                                                                Nildo Viana

     O modo de produção capitalista ,ao que tudo indica, está próximo de uma nova grande crise. Isto coloca, para nós, o problema de quais são as alternativas que existem ao capitalismo. Do nosso ponto de vista, só existem duas possibilidades históricas que possuem forca suficiente para se materializar: a autogestão e o modo de produção burocrático. Como em outra oportunidade tratamos dessa primeira possibilidade (“A autogestão como conteúdo do novo ciclo revolucionário” in: BMC, ano 1, n.3, dez/94), focalizaremos focalizar aqui apenas a segunda.
     Se a autogestão é produto da classe operaria, o modo de produção burocrático é produto de qual classe social? A resposta é obvia: da burocracia. O capitalismo realiza uma expansão da divisão social do trabalho numa escala nunca vista antes na história da humanidade. Neste processo de expansão cria-se várias classes sociais, sendo a burguesia e o proletariado as duas classes fundamentais deste modo de produção. A burguesia, para combater as classes exploradas cria a sua principal classe auxiliar: a burocracia (também chamada de ”tecnocracia” e de “classe dos gestores”). Portanto, o capitalismo cria como seu produto mais genuíno as seguintes classes: a burguesia, o proletariado e a burocracia. A partir daí a superação do capitalismo pode ocorrer através da implantação da autogestão, expressão dos interesses do proletariado, ou do modo de produção burocrático. Daí a  importância da compreensão do fenômeno burocrático, pois  a burocracia pode ser um obstáculo à revolução autogestionária.                                      
        Marx dizia que o comunismo significa o controle consciente da “associação dos produtores” sobre as condições materiais e sociais de vida, ou seja, pelo planejamento coletivo autogerido. Os seus epígonos confundiram isto com a “planificação socialista do estado operário”. Assim, socialização e estatização dos meios de produção tornam-se equivalentes, já que é o estado, ou seja, a burocracia, que elabora o plano. Entretanto, a planificação estatal cria, quando predomina a “lei do valor“, o capitalismo de estado ou, quando ela não predomina, o modo de produção burocrático. Por conseguinte, esta, assim como todas as teses de um “estado de transição”, é uma ideologia da burocracia.   
          Portanto, observamos que existe uma classe social e um projeto político que buscam concretizar o modo de produção burocrático. Entretanto, este só pode existir se conseguir se “mundializar”, pois, caso contrário, poderá ser derrotado pelo capitalismo. É importante ressaltar que nos períodos de crise do capitalismo e de ascensão da luta operária, a burocracia apresenta-se como dirigente do processo visando a “burocratização do mundo”. A burocracia, por não possuir o papel fundamental que o proletariado tem nas relações de produção, só pode derrubar a burguesia com o apoio das classes exploradas ou então através da burocratização gradual da sociedade capitalista. Esta ultima possibilidade torna-se possível com a chamada “revolução tecnológica”, que ameaça abolir a “ lei do valor”.
         Entretanto, a possibilidade de instauração de um modo de produção burocrático é muito remota. Isto se deve, em parte, à debilidade e às divisões internas da burocracia. Além disso, a burguesia e o proletariado são fortes obstáculos à sua concretização. Contudo, não devemos desprezar a “ameaça burocrática” e os perigos que ela representa à revolução proletária.

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Artigo publicado originalmente em:
VIANA, Nildo. Capitalismo, Burocracia e Autogestão. BMC - Boletim do Movimento Conselhista. Ano 01, num. 04, Goiânia, maio de 1995.

Um comentário:

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