A ARTE COMO ELA É
Um breve comentário sobre “A Arquitetura da Destruição”.
Nildo Viana
O
documentário “Arquitetura da Destruição” (Peter Cohen, Suécia, 1992) possui vários méritos, embora possua
também alguns problemas. O documentário apresenta alguns aspectos interessantes
para discutir a questão da relação arte e sociedade. Assim, a percepção da “arte
nazista” como produto de uma sociedade e de artistas envolvidas nesta e no que
se tornou hegemônico no seu interior é um dos pontos altos do documentário. Da mesma
forma, o documentário permite ver a relação entre arte e propaganda, a arte e
pseudorracismo, entre outros elementos. O uso do cinema, nova arquitetura,
entre outras formas de arte, para legitimar e fortalecer o regime nazista é
apresentado e pode ser analisado criticamente, contribuindo com a compreensão da
relação entre arte e sociedade durante o nazismo na Alemanha.
Em
síntese, o documentário mostra a arte sob o nazismo e como se tornou hegemônica
e repassou mensagens nazistas, antissemitas, apesar de deixar a desejar em sua
forma e conteúdo. O documentário possui problemas, tais como o maniqueísmo e
individualismo implícito, que é perceptível ao evitar apresentar as
determinações sociais do nazismo.
Apesar
disso, o documentário é interessante não só para mostra a relação entre arte e
nazismo e vários outros elementos derivados, mas também permite realizar reflexões
sobre a arte em geral. A arte nazista e sua hegemonia pode ser comparada com a arte
contemporânea e sua hegemonia, pois ambas manifestam valores, concepções e
sentimentos correspondentes aos interesses da classe dominante, inclusive as de
orientação progressista. A diferença
acaba sendo de grau, como se pode notar o mesmo período nos EUA, com artistas e
obras artísticas, Pato Donald, filmes, super-heróis e heróis todos são mobilizados
em torno do americanismo. E isso revela também algo comum no discurso artístico
e científico, segundo a qual a parcialidade é condenada, mas sempre a dos
outros e nunca a própria, que aparece, para defensores da neutralidade científica
e autonomia da arte, como “normais”, “naturais”, embora tão parciais quanto as
demais.
A
forma mais exagerada de um fenômeno permite perceber suas manifestações mais
amenas e moderadas, e seu vínculo com a reprodução social. A relação nazismo e
arte permite observar a relação mais geral entre arte e sociedade burguesa em
momentos de maior estabilidade política e social, cumprindo a mesma função:
reproduzir as relações sociais existentes.
O
problema se encontra no processo de naturalização, onde tudo se torna natural,
inclusive a arte e os valores ligados a ela, desde a arte pela arte até a forma
e a técnica como critérios de avaliação da qualidade da obra artística. A arte
é um produto social e histórico e, em uma sociedade fundada na dominação e na exploração,
reproduz os interesses da classe dominante, seja de forma mais explícita, como
no caso da arte nazista, seja na forma mais implícita, como os filmes hollywoodianos
e dos serviços de streaming contemporâneos.
Assim,
o documentário contribui para percebermos a importância da des-naturalização
para a luta pela transformação social, sair da imanência e atingir a transcendência,
perceber a historicidade da sociedade e da arte, bem como que nós mesmos somos
produtos sociais e históricos e precisamos realizar um esforço enorme para ter consciência
disso e agir contra isso.
Assista "A Arquitetura da Destruição" abaixo ou clique para assistir no youtube:
Nildo, você é sempre tão certeiro, sempre comprometido com a crítica desapiedada, sempre pronto para desvelar as máscaras sociais que impedem o oprimido a se revoltar e partir para a ação consciente e revolucionária.
ResponderExcluirGrato, Maria Angélica, é muita generosidade sua. Fico contente que tenha gostado. De minha parte, continuo com o meu esforço em contribuir com a luta pela transformação radical e total das relações sociais e conto com o seu apoio e engajamento, assim como de todos que enxergam a necessidade do ser humano se libertar. abs.
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