A miséria da música popular brasileira
Nildo Viana (*)
La Insignia. Brasil, maio de 2005
A atualidade da música popular brasileira (MPB) é marcada pela decadência. A Música Popular Brasileira já passou por muitas fases, com altos e baixos. Na década de 50-60 viveu bons momentos, e para lembrar isto basta recordar a bossa nova, a canção de protesto, o tropicalismo, os primeiros passos do rock brasileiro (excluindo, obviamente, o rock-brega da "jovem guarda"). A década de 70 foi uma época de "vacas magras", com a música chamada "brega" e com apenas os herdeiros da década anterior honrando a MPB: Guilherme Arantes, Chico Buarque, Belchior, Rita Lee, Raul Seixas, os velhos e os novos baianos, entre outros. A década de 80 marcou um renascimento, com a onda das rádios FMs, os novos Festivais de MPB, o ressurgimento do rock nacional, e além de alguns citados que permaneceram depois dos anos 70, tivemos novos nomes, tal como Eduardo Dusek, Beto Guedes, etc. junto com os roqueiros: Kid Abelha, Titãs, Legião Urbana, Engenheiros do Havaí, Lulu Santos, 14 Bis, A Cor do Som, Ultraje a Rigor, entre inúmeros outros. Este período acompanhava a crise do regime militar e a redemocratização, junto com uma expansão da indústria cultural e do mercado consumidor composto pela juventude.
A partir do fim da década de 90 começa a decadência... Já no começo desta década temos os primeiros sinais do que viria: fricote, música sertaneja, pagode de baixa qualidade até chegar ao funk-brega e outras deformações. Rita Lee, Lulu Santos, entre outros, deveriam ter encerrado sua carreira antes de nos brindar com suas tristes produções pós-rock. Neste "Mar de Lama" ainda existe algo de bom, mas marginal, esporádico ou quantitativamente insignificante. Falta criatividade, senso crítico, efervescência cultural.
A música popular brasileira, com letras minúsculas, está passando por um período de miséria. Quem são os responsáveis por isso? A indústria cultural pode ser apontada como a principal responsável pelo atual estado miserável da MPB. A necessidade de ampliação do mercado consumidor, algo constante na produção capitalista e que faz parte, por conseguinte, da produção cultural nesta sociedade, produz a necessidade de uma cultura descartável, tal como as mercadorias descartáveis. Com o desenvolvimento capitalista, esta necessidade de ampliação do mercado consumidor se torna cada vez mais intensa e na atualidade assume importância fundamental para a reprodução capitalista. Esta cultura descartável é marcada pelos ciclos de renovação periódica de produtos, pois ela permite a reprodução ampliada do consumo. Se um determinado estilo musical permanece por muito tempo, então o consumo também se vê sem grandes crescimentos, pois quem compra um CD de rock and roll de determinada banda, poderá continuar ouvindo por muito tempo, mas se a cada 5 anos surge um novo modismo musical, então o consumo se expande em proporção considerável. Assim, a transformação da MPB em cultura descartável apenas mostra que a lógica do lucro domina tudo, inclusive a produção cultural, e isto mostra a razão de seu progressivo empobrecimento.
No entanto, há uma luz no fim do túnel: sempre que há efervescência social, mudanças históricas, a música também ganha impulso e o início deste século já marcou o início de uma nova onda de mudanças e estas devem agitar o mundo musical. Mesmo contra a vontade dos donos da indústria cultural, pois a própria lógica do lucro não escapa de ter que divulgar aquilo que é contrário aos seus interesses. Da contradição pode surgir o novo. Eis a esperança.
Artigo Publicado originalmente em La Insignia, 10 de maio de 2005.
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