Páginas Especiais

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Gramsci, Pseudomarxista - Notas Sobre Gramsci 07


Gramsci, Pseudomarxista
Notas sobre Gramsci 07

Nildo Viana



Gramsci é considerado pela maioria de seus intérpretes como um pensador marxista. Obviamente que pouco se discute o que é ser marxista, alguns, inclusive, evitam esta questão ao colocar que não existe um “marxômetro” (Netto, 1990) para medir o grau de marxismo dos indivíduos. Solução fácil e falsa. Se tudo é marxismo, nada é marxismo. Pensar como José Paulo Netto, no sentido que tudo que se diz marxismo o é, é uma abordagem não-marxista, porquanto se ilude com a auto-ilusão alheia. “Não se concebe um indivído pela consciência que tem de si mesmo” e sim pelas relações sociais concretas, é um dos princípios fundamentais do materialismo histórico. Assim, é fundamental entender o que se compreende por marxismo (assim como por positivismo, idealismo, etc., e aqueles que evitam esclarecer seu próprio discurso e posição é que evitam explicar o significado das palavras que usam, fugindo assim de toda responsabilidade do que afirmam) para poder discutir qual tese ou autor é ou não marxista.

Sendo assim, para entender a relação entre marxismo e Gramsci, temos que explicitar os conceitos fundamentais para nossa análise. O primeiro é o conceito de marxismo. Existem duas formas básicas de compreender o marxismo: a primeira o define como sendo o conjunto das idéias de Marx e de seus seguidores e a segunda o define como expressão teórica do movimento revolucionário do proletariado (Korsch, 1977; Viana, 2008). Sem dúvida, a primeira concepção tem muitas variações e pode levar ao dogmatismo e isso ocorreu efetivamente, inclusive algumas pessoas resolveram “tomar posse” do marxismo, como Lênin, que dizia que só era marxista aqueles que pensavam como ele, ao invés de remeter aos textos de Marx. A questão de ser ou não marxista passa a ser da interpretação das obras de Marx e surge, socialmente, autores “autorizados” e “canonizados”, que passam a ser privilégio para se definir quem é marxista. Assim, “não se pode ser marxista sem ser leninista”, afirmação que Marx soubesse, certamente iria repetir: “eu não sou marxista!”. Marx foi o fundador do marxismo e, portanto, seus escritos não podem ser ignorados ou desconsiderados. Porém, a fidelidade acrítica a um autor ou obra produz dogmatismo.

A definição de Korsch é a mais adequada por romper com o dogmatismo e ser produto de uma análise marxista do marxismo. Enquanto expressão teórica do movimento revolucionário do proletariado, o marxismo não só tem sua base social explicitada como também seus objetivos e caráter. Logo, para saber quem é ou não marxista é preciso saber se expressa teoricamente o movimento revolucionário do proletariado. Marx, sendo o fundador e primeiro a expressar teoricamente (obviamente que se trata da expressão teórica, o que significa que existem outras expressões culturais do proletariado, como certas tendências do anarquismo, por exemplo) os interesses de classe do proletariado e tendo sido o autor que lançou as bases de uma concepção teórico-metodológica proletária, então seus escritos são referencias fundamentais, embora não como a verdade revelada e indiscutível, e sim como primeira manifestação da teoria do proletariado e mais aprofundada elaborada até hoje.

Logo, a relação de Gramsci e o marxismo só pode ser compreendida desta forma. O primeiro ponto é estabelecer a relação entre as teses de Gramsci e a obra de Marx e, observando divergências, identificar se os elementos diferenciais na concepção gramsciana apontam para ser uma expressão dos interesses revolucionários do proletariado ou não. Se sim, então Gramsci é marxista e significou um avanço e atualização do marxismo, superando equívocos e limites presentes em Marx. Se não, então Gramsci não é marxista e sua obra é uma deformação do marxismo, já que se diz marxista, em outras palavras, é um pseudomarxismo.

Salta aos olhos as diferenças radicais entre o pensamento gramsciano e o pensamento de Marx. No que se refere ao materialismo histórico-dialético, Gramsci está muito distante de Marx, sua concepção é, no fundo, idealista e sua análise dos acontecimentos históricos se afasta radicalmente de uma percepção da totalidade e é marcada por uma supervaloração da cultura em detrimento das relações sociais concretas. O seu “método Frankenstein” – que busca suas fontes no cemitério dos fatos, cada um isolado em sua cova, estando sem vida e relação, e os reúne da mesma forma como o cientista louco reunia pernas, braços e cabeça, montando um monstro fabuloso – nada tem a ver com o método dialético. A debilidade metodológica de Gramsci é visível. Ele age como um pescador, jogando iscas e encontrando botas que afirma serem peixes. Partindo de fatos, ele acaba chegando a resultados imaginários através do procedimento pré-marxista e pré-metodológico indutivo-dedutivo, marcado pela redução e extrapolação, como colocamos em notas anteriores. Porém, mais grave do que isso está sua teoria da consciência e da realidade totalmente distinta da marxista (Gramsci, 1988a), onde uma autonomização da consciência convive com um empiricismo ingênuo. Nesse sentido, Gramsci está muito distante de reconhecer a unidade entre método dialético e perspectiva do proletariado (Viana, 2007), e mais ainda em expressar tal unidade, tal como colocaremos a seguir.

A sua concepção política, por conseguinte, não poderia ser mais distante do que Marx apontou em suas obras. Gramsci é ideólogo de um reformismo e semileninismo que expressa uma supervaloração dos intelectuais, da cultura e do partido. Não é difícil perceber que Gramsci não expressa teoricamente o proletariado e sim a intelectualidade como classe social. Daí Gramsci ser um forte atrativo para os setores acadêmicos que se aproximam de uma posição de esquerda. A sua ideologia do partido como “moderno príncipe” e dos intelectuais como formadores e organizadores da hegemonia, bem como da “reforma intelectual e moral” expressam interesses opostos ao da autoemancipação proletária defendida por Marx (Gramsci, 1988b). Sendo assim, Gramsci não pode ser considerado marxista, nem no sentido mais restrito de estar de acordo com as concepções de Marx, nem no sentido crítico-revolucionário de ser expressão teórica do movimento revolucionário do proletariado. Logo, a conclusão inevitável é que Gramsci é apenas mais um pseudomarxista.

Referências:

GRAMSCI, Antonio. A Concepção Dialética da História. 6ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1988a.


GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, A Política e o Estado Moderno. 6ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1988b.


KORSCH, Karl. Marxismo e Filosofia. Porto, Afrontamento, 1977.


NETTO, José Paulo. O que é Marxismo? 6ª edição, São Paulo, Brasiliense, 1990.


VIANA, Nildo. Escritos Metodológicos de Marx. Goiânia, Alternativa, 2007.


VIANA, Nildo. O que é Marxismo? Rio de Janeiro, Elo, 2008.

13 comentários:

  1. Só pela montagem idiota, deformando a foto de Antonio Gramsci acima do texto, já era de se esperar que o texto não é sério.
    A ridícula caricatura da obra de Gramsci apresentada pelo autor, autoproclamado "libertário", ironicamente, retorna a todo o mesmíssimo discurso autoritário que pretende excluír de qualquer discussão honesta quem não se enquadra em uma estreita definição de "marxismo", tida, obviamente, como a ortodoxa. Pior ainda, a acusação de "maquiavélico" feita contra Gramsci lembra em muito as teorias da conspiração de Olavo de Carvalho.
    Saber quem é marxista ou deixa de ser é secundário. Antonio Gramsci era certamente um socialista e um democrata, e um grande teórico social, que foi capaz de renovar toda a reflexão sobre a prática política e cultural emancipadora.
    Ao invéz de denegrir e espalhar ódio contra Gramsci, por que você não experimenta lê-lo, para não saír falando bobagens e asneiras como todas estas que escreveu neste texto?

    ResponderExcluir
  2. Você está muito nervoso... A montagem sobre Gramsci é provocativa e esse é o objetivo. O motivo da provocação é que os gramscianos nunca respondem e quando respondem - vc é o segundo, o outro mandou um email semelhante... - é dessa forma, sem argumentos...

    O texto é sério sim, é o sétimo de uma série. Em primeiro lugar, é apenas uma linha divisória conceitual (que também é política e de classe) entre marxismo e não-marxismo, nada tem de autoritário, isso é desonestidade no discurso, pois não foi dito em nenhum lugar que todo mundo tem que ser marxista e se não for será julgado e condenado. A consideração sobre o pseudomarxismo de Gramsci é porque ele é tido como marxista, caso não fosse, nem teria sentido o texto. Agora, discurso autoritário é o seu, simplesmente porque quer silenciar e impedir a discussão em torno de Gramsci, posta uma mensagem apenas para dizer que não deveria ter escrito sobre Gramsci, ao invés do procedimento racional e "democrático" de debater as ideias expostas e contestá-las. Prefere a censura, e isso sim é autoritário, principalmente da forma feita, com adjetivos pejorativos, comparações sem fundamentação, etc. Quem é autoritário, quem debate ou quem quer impedir o debate? Você sabe a resposta...

    Sobre o maquiavelismo de Gramsci, isso foi afirmado e argumentos foram utilizados para sustentar a afirmação e tanto vc quanto o outro gramsciano "nervoso" o máximo que conseguem fazer é uma comparação, esta sim ridícula, com Olavo de Carvalho... Ora, se considera que Gramsci nada tem de maquiavélico, que o texto é totalmente equivocado, porque não responde "seriamente" e usa argumentos, mostra os equívocos dos argumentos ou da interpretação, que há contradições no argumento, prove que as citações são falsificadas, ou qualquer outra coisa que julgue, racionalmente e no discurso proferido, o que está equivocado.

    Ora, saber se é marxista ou não é secundário? Então porque tamanha irritação... Gramsci não é marxista e pelos motivos acima colocados e que ninguém contestou seriamente, com argumentos. O fato dele ser "socialista", pode até ser, dependendo do que se entenda por isso e o mesmo vale para "democrata", certamente ele estava muito próximo de um democrata burguês... Agora, "grande teórico social" é apenas mitologia, Gramsci nunca foi um grande teórico, isso foi invenção dos gramscianos e outros que pilharam sua obra para retirar teses para justificar suas práticas e interesses.

    Agora, por último, se você se julga um "leitor de Gramsci" e me diz para lê-lo, então porque não refuta os meus ARGUMENTOS ao invés de usar adjetivos pejorativos (bobagens, asneiras, autoritário, ridículo, etc.)? O principal argumento dos mal-leitores de Gramsci é que os que o criticam não o leram, mesmo citando e provando o que dizem... Seja honesto intelectualmente e mostre onde estão os equívocos e pronto, senão, fique quieto ou vá estudar para dar conta de defender seu ídolo, pois da forma que faz, quem prova que não o lê, é você. A fraqueza do seu discurso, como de todos os outros que defendem Gramsci, é justamente fugir do debate ao invés de encará-lo de frente. Claro que no Brasil não existe tradição em debate, inclusive com elegância, no sentido de defender suas posições, criticar, polemizar, sem ser grosseiro e deselegante. Onde, no discurso elegante, se usa ironia, trocadilhos e outros recursos além da fundamentação, no discurso deselegante se utiliza adjetivos pejorativos, retórica vazia e agressividade.

    Por isso, já que você conhece Gramsci e o leu, então lhe convido para usar ARGUMENTOS e mostrar onde estou errado, claro, fundamentando suas afirmações nos textos do Gramsci. Se você conseguir me deixar sem resposta, se me convencer, admito meu erro e escrevo um texto intitulado "Meus Equívocos Sobre Gramsci" e posto aqui. Agora, se não me convencer, continuo a minha crítica normalmente... Desde que faça isso com o mínimo de elegância (no sentido de não ser retórico, desonesto, agressivo).

    ResponderExcluir
  3. Eu deixaria esse trouxa de lado. Já li Gamsci e nunca tinha pensado de forma mais acabada sobre o seu pensamento, só que tem algunas coisas aproeitáveis e outras não, os seus textos sobre ele deixa bem claro o quão problemática é sua obra. Parabéns!!

    Meu nome é Jonas e sempre acompanho as boas postagense em seu blogue!!

    ResponderExcluir
  4. Eu li este texto já tem um tempo no blog. E estava lendo O Príncipe. No dia que o "príncipe", proposto por Maquiavel, pensar em sociabilizar o seu poder igualmente com os seus "súditos", será uma deturpação ideológica de Gramsci correspondente aos próprios interesses intelectuais e morais pseudomarxistas dele... rs

    Gostei muito do ensaio, professor! Proporcionou-me várias reflexões!

    Abraços.

    ResponderExcluir
  5. Marielle, grato!!

    Depois vou publicar um texto mais complexo sobre o assunto, que é "Introdução à Crítica da Ideologia Gramsciana". Quando fizer isso eu divulgo.

    Abraços!

    ResponderExcluir
  6. Professor Nildo, você afirmou no texto que algumas pessoas resolveram "tomar posse" do marxismo, apontando Lênin. Acrescentou ainda que Lênin teria dito que somente quem pensava como ele era marxista, ao invés de remeter aos textos de Marx.
    Pois eu desafio o senhor a apontar onde Lênin teria escrito tais idiotices. Quer dizer então que Lênin não fazia remissão aos textos de Marx? Ao falsificar as idéias de Lênin, o senhor mesmo sugere que não conhece adequadamente nem Lênin e tampouco Marx, se limitando a repetir mecanicamente alguns aforismos de Marx. Adir Claudio Campos, Uberlândia, MG, adircampos@netsite.com.br

    ResponderExcluir
  7. Prezado Adir,

    Você está equivocado. Em primeiro lugar, faz afirmações sem sentido. Eu não repito "aforismos" de Marx. Antes de iniciar um debate com alguém, deveria buscar saber quem é essa pessoa. Já que você se julga no direito de dizer que não entendo de Marx, então deveria fazer uma apreciação crítica do meu livro "Escritos Metodológicos de Marx" ou meus variados artigos sobre este autor. No fundo, o que você é apenas discurso retórico, querendo desqualificar o discurso do outro não argumentando e mostrando seus equívocos, contradições, etc., e sim com subterfúgios como dizer que "não entende de tal autor", "não leu tal autor", sendo que o texto mostra justamente o contrário. Obviamente que é possível dizer que uma pessoa não entendeu tal autor, mas isto é mera retórica se não aprofundar e fundamentar esta afirmação, provando onde estaria o não-entendimento.

    Sobre a discussão em torno da única questão que você levanta, a respeito de Lênin, você tomou muito literalmente a afirmação de que "Lênin dizia". Obviamente que Lênin não disse em lugar algum "só é marxista quem pensa como eu", o que seria absurdo. Porém, ele agia e pensava dessa forma, e o "pensava" também não deve ser entendido literalmente. Obviamente que ele não pensava "só é marxista quem pensa como eu" e sim "só é marxista que concorda com as teses a, b, c e com isso e aquilo, que é o que eu penso". Pois bem, então entenda que o que eu quis dizer e isso está relacionado com "posse do marxismo", se eu penso da forma X e digo que só é marxista quem pensa como eu, então "eu" sou o marxismo...

    Você me pergunta onde Lênin teria feito tais afirmações. Porém, você não entendeu exatamente o que eu quis dizer^. Mas Lênin fez afirmações próximas disso e que você entendeu literalmente. Vou citar umas frases dele:

    Segundo Lênin, “quem conhece somente a luta de classes ainda não é marxista, ainda pode se manter no marco do pensamento burguês e da política burguesa. Circunscrever o marxismo à teoria da luta de classes é limitar o marxismo, adulterá-lo, reduzi-lo a algo que a burguesia pode aceitar. Marxista só é aquele que estende o reconhecimento da luta de classes ao reconhecimento da ditadura do proletariado” (1). A questão é que "ditadura do proletariado" para ele é bem diferente do que é para Marx.

    ResponderExcluir
  8. Lênin também afirmou que só é marxista quem sente uma profunda admiração pelos “revolucionários burgueses” do passado (...). Em O Estado e a Revolução, ao discutir o debate entre alguns autores, ele sempre dizia "este é marxista", aquele não. O este é marxista é o que concorda com as ideias dele. Da mesma forma, Marx defendeu a ideia de ditadura do proletariado, porém, a questão é o que é ditadura do proletariado... A concepção de Lênin é radicalmente diferente da de Marx (sua concepção de socialismo é mesmo oposta a de Marx, além das diferenças metodológicas, etc.). Existe um ampla bibliografia sobre isso, há um autor italiano que compara a concepção de socialismo em Marx e Lênin, mostrando sua oposição (claro que é útil para quem quer uma síntese, pois o ideal é ler os autores e ver por isso mesmo) e outro francês (Claude Berger) que faz o mesmo estudo. Se ler italiano, pode consultar Paresh Chattopadhyay: "Marx contra Lênin, o conteúdo econômico do socialismo". Estes textos são interessantes por usarem uma comparação de textos para mostrar as diferentes concepções. Sobre as diferenças metodológicas, o livro Marxismo e Filosofia, de Korsch, e Lênin Filósofo, de Pannekoek, são boas introduções. Meu livro "A Consciência da História" também é útil.

    Lênin não remetia aos textos de Marx? Não foi isso o que eu disse... Isso sim é falsificação. O que disse foi que Lênin julgava quem era e quem não era marxista a partir de suas próprias concepções (sua "interpretação"/deformação dos textos de Marx) ao invés de remeter aos textos deste autor. Quando ele fez a afirmação sobre só ser marxista quem aceita a ditadura do proletariado, quem admira os revolucionários burgueses, ele não remeteu a nenhum texto de Marx para se verificar se isso se encontrava nele.

    Logo, se quiser debater Marx e Lênin, então comece mostrando argumentos e não discurso retórico. Para debater Lênin vá ao post "Vida e Morte do Leninismo".

    Até mais!

    3 - LÊNIN, W. O Estado e a Revolução. São Paulo, Global, 1987, p. 79.

    ResponderExcluir
  9. Muito interessante a análise de Gramsci, olhei as notas todas com muita curiosidade e atenção. O que me motivo foi desconhecer qualquer crítica a este autor e ver algo bom nele e algo ruim. O algo bom é algumas passagens e ideias sobre a hegemonia e dominação burguesa, o algo ruim era a questão do partido, da luta pela hegemonia do partido. Certo, esses textos trazem nova luz para pensar Gramsci e mostra que há muito mais problemas e são estruturais da obra dele. Parabéns!! Excelente!!
    Rodrigo Silveira

    ResponderExcluir
  10. Professor,
    sou um acíduo leitor de seus artigos e tenho um grande inflência das idéias de Gramsci, no qual vejo um autêntico marxista,no referente artigo de sua autoria o senhor esta afirmando que Gramsci seria um pseudomarxista, por quê?

    ResponderExcluir
  11. Prezado anônimo,

    A razão da minha afirmação está no próprio texto. Quando dissemos que alguém é isso ou aquilo (marxista, postitivista, materialista, mecanicista, weberiano, durkheimiano, etc.) temos que explicitar o que entendemos pelo que o qualificamos. No caso, é preciso explicar o que é o marxismo. O procedimento seguinte é verificar no pensamento deste autor o que existe de coincidência com o marxismo e o que existe de divergência e se, no plano fundamental, há convergência. Caso haja, então se pode dizer que é marxista ou não, positivista ou não, etc. O que fiz no texto acima foi dizer o que é o marxismo e mostrar que Gramsci não se encaixa na definição, sendo, pois pseudomarxista. Obviamente que, para quem usa outras definições de marxismo (como está no início do texto), então pode ser que se encaixe, então ele seria, para quem parte desta outra definição, um marxista. Obviamente não sou relativista e nem considero que todos os pontos de vistas sejam verdadeiros e equivalentes e acredito no que escrevo e nos resultados das minhas pesquisas e reflexões. Também considero que existe uma tendência hegemônica que não surge gratuitamente ou apenas por diferença de pensamento, mas sim por distintas perspectivas de classe, o que obviamente vai significar distintas concepções de marxismo, de avaliação de Gramsci, etc. Por exemplo, Mondolfo, Garcia e vários italianos são críticos de Gramsci (os livros dos italianos que criticam Gramsci não são traduzidos...). Não sou o primeiro a criticar Gramsci numa abordagem marxista. Assim, como trabalho com a concepção de o marxismo é expressão teórica do proletariado, o que tem diversas implicações e não poderei desenvolver aqui e nem no texto que você cita acima, já que seria muito extenso (mas pode ser visto no meu livro O Que é Marxismo?) e não vejo na obra de Gramsci uma expressão teórica do proletariado, então, ao invés de ser "marxista", como muitos dizem, ele seria um pseudomarxista. Ou seja, em minha definição de marxismo há dois elementos fundamentais: ser expressão do proletariado sob a forma teórica, pois o proletariado tem outras formas de expressão (não-teóricas) culturais. Essa teoria tem alguns elementos básicos e uma base metodológica (materialismo histórico-dialético), uma teoria do capitalismo, uma teoria da revolução proletária. As concepções de Gramsci são bem distintas disso e a concepção dele não expressa o proletariado, porquanto supervaloriza o intelectual, o partido, etc. Espero ter esclarecido.

    ResponderExcluir
  12. Apenas mais uma observação: dizer que Gramsci é pseudomarxista não é nenhum xingamento, como alguns pensam. É um conceito que significa alguém auto-intitulado ou apontado pelos outros como sendo marxista e que, no fundo, não é marxista. Claro que, para quem diz isso, o termo não é neutro, é negativo. Porém, não é ofensa, tal como seria dizer que alguém é "idiota". Da mesma forma, alguns pseudomarxistas, que partem de outra concepção de marxismo, dizem que não sou marxista e sim "anarquista". Isso faz parte do que Bakhtin chamou de luta de classes em torno dos signos (palavras), onde as definições são produtos sociais partindo de perspectivas de diferentes classes sociais.

    ResponderExcluir