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quarta-feira, 28 de julho de 2010

A Sociedade Consumista


A Sociedade Consumista


Nildo Viana



O consumo na sociedade moderna significa, fundamentalmente, compra de mercadorias. O consumo não é um “dado”, é um fenômeno social e histórico. Ele é produto de um longo processo histórico que marca a passagem do feudalismo para o capitalismo. No feudalismo, a produção de bens materiais é produção de valores de uso, voltados para auto-subsistência. No capitalismo, a produção de mercadorias se generaliza, transformando tudo em mercadoria, objetos de consumo. Ocorre, assim, a separação entre trabalhador e meios de produção e entre unidade de produção e de consumo. A emergência da produção de mais-valia proporciona lucro e é a razão de ser para a produção de mercadorias. Isso gera a dinâmica da reprodução ampliada do capital: a produção gera lucro, que é reinvestido e gera mais lucro, sucessivamente, o que cria o processo de concentração e centralização do capital, gerando os oligopólios que depois se tornam transnacionais. O capitalismo se torna mundial e transforma tudo em mercadoria.

Essa reprodução ampliada do capital vai gerar a necessidade da reprodução ampliada do mercado consumidor. Isso ocorre através da transformação de indivíduos não-consumidores em consumidores ou da elevação do consumo individual. Esse processo se intensifica cada vez mais e por isso alguns sociólogos vão cunhar o termo “sociedade de consumo” a partir do pós-Segunda Guerra Mundial. Estratégias de produção de “necessidades fabricadas”, obsolescência planejada das mercadorias, modas, publicidade, são algumas das formas de aumentar o consumo individual. O constrangimento ao consumo se revela até em mercadorias que tornam necessário a aquisição de mercadorias complementares (é o caso do computador e até do hamster: ração-gaiola-remédio-etc.). O consumo vital – de bens necessários para a vida – vai ser reforçado pelo “consumo conspícuo” (Veblen), o consumo de bens supérfluos, em busca de ostentação, status.

Marx afirmou que “a produção cria o consumo” e é por isso que a sociedade produtivista vai gerar o homo consumens (Fromm) e a sociedade consumista, bem como outros problemas derivados (destruição ambiental, lixo). Emerge, assim, o consumismo compulsivo – produto da pressão social, da publicidade, da valoração do ter ao invés do ser, etc.,– e o impulsivo – gerado pela insatisfação com uma sociedade fundada na futilidade e vazio, provocando a busca descontrolada e obsessiva do consumo, como forma de “satisfação substituta” (Freud).

Assim, o consumo compulsivo e impulsivo não satisfaz as necessidades humanas e se torna um fim em si mesmo e por isso o par produtivismo-consumismo deve ser superado e uma nova forma de sociedade deve ocupar o seu lugar, substituindo a busca do lucro pela satisfação das necessidades humanas autênticas.

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Artigo publicado originalmente no Jornal da UFG, Ano V, num. 37, Junho de 2010.

Disponível em: http://www.ufg.br/uploads/files/Jornal_UFG_37_low.pdf

3 comentários:

  1. Professor: Gostei muito de sua abordagem, e coloquei seu post em meu blog, GRIOT BALALAIKA, cujo endereço é http://bsnbrazil.wordpress.com/. Conservei, claro, os crlléditos e gostaria muito que você visitasse e navegasse pelo GRIOT, que não tem caráter econômico. Se, algo desgosta-lo, faremos as correções indicadas ou o excluiremos, mas penso que temos muito a conversar. Grande abraço, Hilton Besnos.

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    1. Prezado Hilton,

      Agradeço suas palavras, e vi seu blog, está muito bom! Depois vou retornar e ler com mais atenção. Abraços!

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  2. Muito bacana seu texto! Gostei muito dos pontos abordados na temática.
    O primeiro dentre os vários que lerei sobre o tema.
    Bom dia! Beijos

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