Rádio Germinal

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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

domingo, 7 de novembro de 2010

Ser, Ter ou Aparecer?


SER, TER OU APARECER?



Nildo Viana*


O que as pessoas mais valorizam em suas vidas? Cada indivíduo possui sua escala de valores, porém existem valores que são dominantes em determinada sociedade e determinada época. Na sociedade escravista da Idade Antiga ou na sociedade feudal, da Idade Média, valores radicalmente diferentes dos nossos eram dominantes, isto sem falar nas sociedades indígenas. Assim, os indivíduos formam seus valores no processo das relações sociais e por isso eles são constituídos socialmente. O que resta saber é quais são os valores dominantes na nossa sociedade, sociedade capitalista, em seu estágio atual.

O valor dominante hoje é o ter e o aparecer. As pessoas não se preocupam fundamentalmente com o que são e sim com o que possuem e o que aparentam. O ter é fundamentalmente propriedades, posses, mercadorias, dinheiro, status, poder, etc. Ter um carro do ano, ter uma roupa de grife, ter uma mesa sofisticada, etc., é mais importante do que ser uma pessoa que trabalha com o que gosta, pois, se fizesse, não poderia ter o que tem. É preciso o trabalho que dá mais dinheiro e pode deixar o indivíduo ter. Porém, o ter é vazio, a única satisfação real é a percepção que os outros têm da pessoa. Como no livro de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe, nunca se pergunta se a pessoa é feliz, etc., e sim o que ela tem, qual seu status na sociedade. Aqueles que não têm, querem parecer que tem. Assim, a sociedade moderna é marcada pelo reino do ter e das aparências.

Na sociedade moderna tudo vira mercadoria, tudo passa a ser objeto de compra e venda. Ao comprar a mercadoria, a pessoa passa a tê-la, a possuí-la. Antes do capitalismo, na sociedade feudal, assim como nas sociedades indígenas, as pessoas produzem não mercadorias e sim valores de uso, produtos para satisfazer suas necessidades. Na nossa sociedade, não se produz para consumir e sim para trocar, vender, e assim adquirir dinheiro e também comprar. O capitalismo se sustenta através da exploração do trabalhador, que produz o suficiente para pagar o seu salário e custos de produção e cria um mais-valor, um excedente, que é apropriado pelo capitalista. Este só realiza o processo de produção devido a isso, a esse excedente que vai lhe permitir o lucro. Com o passar do tempo, tudo vai sendo transformado em mercadoria, até o corpo humano.

Essa situação tem solução? Sim, porém, isto depende do indivíduo e da sociedade em seu conjunto. O indivíduo pode lutar contra si mesmo e superar os valores dominantes do ter e do aparecer, passar a valorizar não a competição, o sucesso, a riqueza, e sim as pessoas, as atividades prazerosas, o desenvolvimento de suas potencialidades físicas e mentais, o que, sem dúvida, é extremamente difícil nessa sociedade, que produz inúmeros obstáculos para tal. Assim, este mesmo indivíduo deve buscar também e fundamentalmente a transformação social para romper com estes obstáculos e com as bases desta sociedade produtivista e consumista. Ajudar a constituição de uma nova sociedade, fundada na igualdade e liberdade, a autogestão social, é o caminho para superar as bases da supervalorização do ter e do aparecer e revalorização do ser.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A Minoria Elege Dilma Roussef e a Ilegitimidade Continua

A Minoria Elege Dilma Roussef e a Ilegitimidade Continua

Nildo Viana

Ao terminar a eleição presidencial, temos Dilma Roussef eleita para o cargo de presidente do Brasil. Ela ficou com 56,05% dos votos e ganhou, segundo a imprensa e programas televisivos, grande popularidade, sua primeira força política para governar o país. Porém, as coisas não são bem assim. Os números são como as aparências: eles enganam.

Dilma Roussef foi eleita por uma minoria. O resultado colocado nos meios oligopolistas de comunicação é que ela ficou com 56,04% e José Serra com 43,95%. Porém, isso se refere apenas aos votos válidos. O percentual cai drasticamente se somar-mos os votos nulos e brancos. Os votos nulos foram 4,40%, um total de 4 milhões e 689 mil votos e um pouco mais. Os votos em branco foram 2 milhões 452 mil e mais alguns, sendo 2,30%. Somados dariam 6,7%. Parece pouco percentualmente, mas somados dá mais de 7 milhões de votos, que seria maior do que a população inteira de um grande cidade, perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, os números enganam quando a profundidade da análise não vai mais longe. É preciso somar a isto as abstenções, que chegaram a 29 milhões e 194 mil e mais alguns poucos e nenhuma cidade tem essa população no Brasil. Isso significa 21,50% de abstenções. Somando-se esse número expressivo com votos nulos e brancos, temos um total de mais de 36 milhões que não votaram em Dilma e Serra, o que significa 30,5%, ou seja, aproximadamente um terço. Assim, no site do TSE, cuidadosamente temos esses números mas separados. Há um quadro onde tem o total de votos, mas sem o percentual dos candidatos e outro no qual há o número de votos e o percentual dos candidatos, mas contando apenas os votos válidos.




Eis o caso do primeiro turno:



Eis a mágica estatística. Dilma conseguiu 55 milhões de votos, Serra 43 milhões, não votaram ou votaram nulo e branco 29 milhões. Dilma ficou com 56% dos votos válidos, mas do total do eleitorado, que é 135.804.433, seria aproximadamente 40%. É por isso que para ser eleito o percentual que vale é dos votos válidos, ou seja, excluindo abstenções, nulos e brancos. Se isso contasse, nenhum presidente se elegeria no Brasil. A questão não para aí, pois o que se conta nesse caso não é a população brasileira, mas apenas o eleitorado. Caso se contasse a população brasileira em geral, que é de mais de 190 milhões (o atual senso, ainda não encerrado, aponta para que seja aproximadamente 192 milhões). O número de eleitores de Dilma cairia drásticamente, para pouco mais de 20% da população brasileira. Sem dúvida, recém-nascidos e crianças entram nessa conta, porém, na conta oficial não entram não só esses como milhões de outros e no resultado percentual final, somente os votos válidos, um pouco mais de 99 milhões. Os votos válidos é aproximadamente a metade da população brasileira. Porém, em termos de voto, Dilma conseguiu 20% da população, 40% do eleitorado e 56% dos votos válidos. O que é muito pouco nos dois primeiros casos, e só no resultado maqueado apenas pelos votos válidos a votação seria relativamente expressiva.




Os meios oligopolistas de comunicação convidaram especialistas e emitiram comentários os mais variados, mas todos apontando para a grande vitória e popularidade da candidata, sua força para iniciar o novo governo. Isso é mera ilusão. Os números mostram que a minoria eleitoral escolheu Dilma, apenas 20% da população e considerando os aptos a votar, apenas 40%. Ora, a coisa fica ainda pior se considerarmos que muitos que votaram em Dilma não foi por apoio, convicção, etc. Muitos votaram por ser contra o Serra, outros por não ter candidato e achar, devido a propaganda e pressão de certos setores, que teriam que votar em alguém, e não é fantástico pensar que pessoas votaram por “sorteio” (para quem vai nas seções eleitorais e observa, vê, por exemplo, pessoas procurando santinhos no chão para escolher em quem vai votar...) ou por mera sugestão, ou seja, votos que não significam apoio efetivo. Mesmo os que votaram com um pouco mais de solidez na escolha, analisando os discursos e propagandas, etc., isso não significa nenhum apoio político e convicto. Assim, se Dilma tiver apoio de 10% da população ou 20% do eleitorado, isso é o máximo que consegue.



Em síntese, Dilma foi eleita por uma ínfima minoria da população brasileira, e pela minoria do eleitorado. Só conseguiu maioria no mundo ilusório e fabricado dos “votos válidos”. Assim, se a grande força de Dilma para iniciar o seu governo é a popularidade, então a situação não está nada boa para o lado dela. Transformaram a fraqueza em força. Assim, aumentam o número do eleitorado porque o voto é obrigatório, aumentam o número de votos da candidata por que tem segundo turno (no primeiro turno, ela teve pouco mais de 47 milhões e 46,91 dos votos válidos, o que significava aproximadamente 13% da população brasileira e 35% do eleitorado), aumentam o percentual da candidata por excluir as abstenções, votos nulos e brancos. A lógica é aumentar sempre, pois, caso contrário, o apoio diminuto, mesmo no frágil mundo eleitoral, mostraria a ilegitimidade da candidata eleita. Porém, a luta de classes continua junto com a ilegitimidade e quanto mais a população se auto-organiza e auto-educa, mais ilegítimos são os governos.


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